Moçambique: Franciscanos vivem «momento histórico» com criação de Província de Santa Clara de Assis

Frei Isidro Lamelas esteve presente na cerimónia oficial e celebração solene da fundação da nova província, que conta com mais de 70 frades  

Maputo, 29 jul 2025 (Ecclesia) – Os franciscanos têm uma nova província em Moçambique, onde estão presentes há mais de 120 anos, que foi criada esta segunda-feira numa cerimónia inserida na Assembleia Magna de todos os frades.

“Ontem, [foi] um momento histórico, pelo menos para nós, franciscanos, e para a presença dos franciscanos em Moçambique, e até, podemos dizer, um bocadinho em África, porque não há muitas províncias em África, ou pelo menos entidades com esse estatuto”, afirmou o frei Isidro Lamelas, delegado do Ministro geral para Moçambique, em declarações à Agência ECCLESIA.

O sacerdote da Ordem dos Frades Menores (OFM) destaca que a criação da Província de Santa Clara de Assis, que aconteceu no Capítulo, que decorre até hoje, corresponde ao culminar de um “processo longo” desde a chegada de missionários portugueses a Moçambique, em 1898.

Em 2004 tornaram-se independentes da Província Franciscana de Portugal, tendo dado provas de capacidade para assumir e gerir os seus destinos e atividades, faltando o passo seguinte: a criação da província.

Após a leitura do Decreto de ereção da Província de S. Clara de Assis de Moçambique, realizou-se uma celebração solene, na Igreja de S. António da Polana, em Maputo, presidida pelo arcebispo de Maputo, D. João Carlos.

O responsável lembrou que a província, com sede em Maputo, é fruto de uma sementeira feita com suor, lágrimas e alegrias dos missionários portugueses que ali trabalharam.

Para o frei Isidro Lamelas, a criação da Província de Santa Clara de Assis significa, por um lado, o “reconhecimento do franciscanismo”, que há juventude, “vocações” e que frades têm já têm “a capacidade de se organizar e se autossustentar também”, “um aspeto muito importante e sempre difícil nestes territórios”.

A Província de S. Clara de Assis conta com mais de 70 frades, na maioria jovens que estão a investir na sua formação, muitos deles, fora do país.

Santa Clara, que nasceu em 1194, em Assis, e faleceu em 1253, foi a fundadora do ramo feminino da Ordem Franciscana.

“Significa também uma grande esperança para o futuro, porque não se chega aqui ou não se toma esta decisão sem algumas garantias de futuro. E o futuro está sobretudo nestes jovens, que não sendo assim ainda muitos, andam pelos 70, 70 e tal, têm sobretudo esta garra e esta vontade de fazer coisas e de continuar o que muitos antes deles fizeram”, indica.

O sacerdote da OFM realça o facto de que, ao contrário de muitas ordens religiosas que estão em declínio na Europa e províncias que se encontram a deixar esse estatuto, o mesmo não se verifica com a realidade franciscana em Moçambique.

A criação da província franciscana acontece num momento em que se celebram 50 anos da independência de Moçambique, sendo a presença dos franciscanos reconhecida por políticos e pela sociedade civil como “reconciliadora” e “pacificadora”, diz o frei Isidro Lamelas.

“Faz esta ponte com o social, do lado dos mais fracos, dos mais pobres, enfim, que é um complemento muito importante neste processo de reconstrução e de crescimento de entidades que politicamente ainda estão muito verdes”, realça.

Sobre a presença dos franciscanos em Moçambique, o sacerdote franciscano dá conta que, graças ao “investimento forte dos missionários portugueses ao longo de, pelo menos 100 anos,” foram criadas estruturas que ainda hoje são usadas pela igreja diocesana, como igrejas, catedrais, basílicas e salões paroquiais.

O frei Isidro Lamelas espera que a criação da província traga “estabilidade” e “credibilidade”: “Que as próprias instituições civis olhem para os frades como uma entidade com este significado social, cultural e também com o respeito institucional que merece”.

Além disso, o sacerdote franciscano espera que esta província tenha a capacidade de “continuar a crescer”.

“Esse é o grande desafio que têm por diante, e foi colocado durante este Capítulo, assumido, e penso que eles [franciscanos] têm condições para isso, porque por um lado têm gente, a gente está a aumentar, têm vocações” e, por outro lado, têm ambição, salientou.

LJ/OC

Partilhar:
Scroll to Top