«Não temos nada, não temos nada», alertou padre Evaristo Moreriua
Nampula, 12 mar 2025 (Ecclesia) – O responsável pela Cáritas Arquidiocesana de Nampula disse hoje que estão a fazer o “levantamento das pessoas afetadas” pela passagem do ciclone Jude, que atingiu o norte de Moçambique, e alerta para as carências da própria instituição de solidariedade.
“Neste momento estamos no terreno a fazer o levantamento, também estamos com o Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres – INGD. Noutras partes tem deficiência em meios, as vias estão cortadas, não há comunicação, nem com mota, nem com carro, e é difícil chegar nesses lugares”, disse o padre Evaristo Moreriua, esta quarta-feira, dia 12 de março, à Agência ECCLESIA.
O Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres informou hoje que o número de mortos subiu para seis, todos registados na província de Nampula, há ainda 20 feridos e mais de 9.000 pessoas afetadas.
O distrito de Mossuril, na província de Nampula, foi o local de entrada do ciclone Jude, na madrugada desta segunda-feira, 10 de março, o meteorologista Manuel Francisco, do Instituto Nacional de Meteorologia (INAM) de Moçambique explicou à Lusa que foram ventos de 140 quilómetros por hora e rajadas até 195 quilómetros por hora.
O responsável pela Cáritas Arquidiocesana de Nampula acrescenta que o ciclone Jude “assolou quase toda a província”, “partiram algumas pontes, surgiram outros rios, porque foi muito forte”, por isso, continuam a fazer o levantamento das necessidades.
“Muitas pessoas não têm casas, estamos a tentar acomodar em alguns centros, em escolas, nas igrejas. Neste momento, escrevemos cartas para algumas pessoas, empresários, mas ainda não nos responderam. Na nossa Cáritas de Nampula não temos nada, não temos nada”, acrescentou o padre Evaristo Moreriua, indicando que “algumas igrejas, algumas casas religiosas, casas paroquiais o teto foi embora”.

O sacerdote relatou, e enviou algumas fotografias, da destruição na residência dos padres da cidade de Nampula, onde também está a Radio Encontro, da casa paroquial de Meconta e da casa das irmãs, no Santuário Mãe do Redentor de Meconta, e na casa paroquial de Muecate.
No Centro Orfanato Aldeia da Esperança de Momola, da Arquidiocese de Nampula, que “acolhe crianças órfãs, desamparadas e desfavorecidas”, dos 6 aos 16 anos, caiu o murro da vedação e na casa de banho dos meninos voou algumas partes do teto, por exemplo. |
O sacerdote adianta que uma das necessidades, para a recuperação e construção de casas, são “plásticos”, que “usam muito” no norte de Moçambique para a cobertura das casas.
Neste contexto, o entrevistado lembrou que “muitos empresários” também têm “os seus bens estão vandalizados”, devido às manifestações, “que estão a acontecer” no país lusófono desde as eleições presidenciais de outubro de 2024, por isso, “muitos empresários que apoiavam estão sem recursos”.
“O cenário é verdadeiramente desolador: muitas casas de construção precária completamente destruídas, campos de cultivo arrasados, o que anuncia o agravamento da fome já existente”, indicou o arcebispo de Nampula, esta terça-feira, em mensagem enviada à Agência ECCLESIA.
D. Inácio Saure partilhou que “o dia foi muito agitado”, e lamentou não ter conseguido ir visitar algumas comunidades “seriamente afetadas pelo ciclone JUDE na zona norte da arquidiocese”.
Segundo o arcebispo de Nampula, abriu-se “uma grande cratera na estrada nacional No. 1”, que cortou a ligação da cidade de Nampula as zonas que queria visitar, por isso, esteve em “algumas comunidades da cidade e periferia”.
O ciclone Jude é o terceiro a passar por Moçambique em quatro meses, após o Chido, em dezembro de 2024, e o Dikeledi, em janeiro deste ano.
CB/OC