Moçambique: Bispo português alerta para clima de «grande tensão» social e política

D. Diamantino Antunes lamenta falta de transparência no processo eleitoral

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 17 fev 2025 (Ecclesia) – O bispo de Tete, em Moçambique, afirmou que se vive uma “grande tensão social” no país e lamentou a falta de transparência no processo eleitoral.

“Os meses após a eleição, depois do 9 de outubro, foi um tempo de grande tensão social, de manifestações, onde, infelizmente, houve também violência, causou mortos, sofrimento” porque “o processo eleitoral não foi transparente”, disse D. Diamantino Antunes à Agência ECCLESIA.

Em 23 de dezembro de 2024, o Conselho Constitucional de Moçambique proclamou Daniel Chapo, candidato da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) – partido no poder desde a independência do país, em 1975 –, como o vencedor da eleição para Presidente da República, com 65,17% dos votos, nas eleições gerais de 9 de outubro.

Esse processo eleitoral foi criticado por observadores internacionais, que apontaram várias irregularidades, e gerou violência e protestos nas ruas.

Para além desta insatisfação social, Moçambique tem sido assolado com “períodos de chuva muito intensa, secas e também tempestades tropicais”, observa o missionário português.

A comemorar 50 anos de independência, este país africano vive com problemas económicos porque “há interesses que determinam as políticas e, infelizmente, nem sempre os dividendos dos recursos naturais revertem a favor das populações”, realçou D. Diamantino Antunes.

Naquele país africano, onde “mais de metade da população tem menos de 18 anos”, existe “um mal-estar entre os jovens” porque “não há oportunidades de emprego” e aquelas que existem estão destinadas aqueles que “têm determinada cor partidária”.

“Eles sentem-se frustrados e isso é aproveitado politicamente para todo um trabalho de contestação e de manipulação da juventude”, frisou o bispo de Tete que está há 30 anos naquele país.

Moçambique necessita de “reconciliação e diálogo” e a Igreja Católica tem apelado “muito” para este caminho dialogal e que se coloque “em primeiro lugar a união e não a divisão”.

“Há muitas coisas que unem os moçambicanos e aquilo que divide são as ideologias políticas, os interesses partidários e os interesses separados”.

Naquele país lusófono “a corrupção é generalizada” e “enquanto não houver uma vontade clara de colocar fim ou combater este cancro, não é possível a estabilidade”, descreveu o bispo.

“Este cancro está penetrado pelos âmbitos da sociedade moçambicana, embora haja uma legislação anticorrupção, mas, de facto, as leis, às vezes, não passam do papel”, acrescenta.

Em dezembro, os bispos moçambicanos alertaram para “o perigo da violência” e do país ficar “polarizado e empobrecido” se os resultados eleitorais fossem impostos.

“Além da fraude eleitoral ou da falta de verdade eleitoral, houve toda uma manifestação violenta, provocada por essa compreensão de que houve uma manipulação eleitoral, mas também um protesto contra a situação económica e social das pessoas”, afirmou D. Diamantino Antunes.

A imagem de Moçambique como um “país estável, pacífico e de boa convivência ficou manchado porque os investidores precisam de garantias de segurança, de estabilidade, para poder investir”.

A criação de emprego depende “também da ajuda internacional e, sobretudo, do investimento internacional que é importante para a criação de riqueza”.

Com uma história “com altos e baixos”, Moçambique necessita de “um novo acordo de paz que envolva todos, não só os partidos com assento parlamentar, mas também todos aqueles que estão fora do Parlamento, a sociedade civil e as igrejas”.

“Ninguém pode estar fora da mesa de negociações e ninguém pode estar excluído”, acrescenta o bispo de Tete.

As celebrações dos 50 anos da independência foram “manchadas e prejudicadas” por esta instabilidade pós-eleitoral.

Recentemente, D. Diamantino Antunes o Dicionário da História Global da Igreja Católica em Moçambique.

“A história de Moçambique está muito ligada à história da evangelização da Igreja Católica, estamos a falar de 500 anos de evangelização e, sobretudo, por uma presença capilar em todo o país, sobretudo nos últimos 100 anos”, salientou

As instituições da Igreja Católica criaram estruturas “importantes para o desenvolvimento e o progresso do país”.

Até 1975, a Igreja Católica construi, dirigiu e orientou “toda a rede educacional do ensino primário e também criou as bases do ensino secundário”

Nos últimos 30 anos, depois dos acordos de paz, “muitas destas estruturas foram devolvidas à Igreja e continuam ao serviço da população”, disse D. Diamantino Antunes ao Programa ECCLESIA, emitido esta segunda-feira na RTP2.

PR/LFS/OC

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