Moçambique: Bispo de Pemba apela à ajuda urgente para Província de Cabo Delgado, afetada pela violência e epidemias (c/vídeo)

D. Luiz Lisboa fala em «Semana Santa» que se prolonga no tempo, agradecendo apelo do Papa em favor da região

Pemba, Moçambique, 17 abr 2020 (Ecclesia) – O bispo de Pemba, na província moçambicana de Cabo Delgado, disse hoje à Agência ECCLESIA que o território vive uma “crise humana” provocada pela violência armada, a fome e várias doenças, que a pandemia de Covid-19 pode vir a agravar.

“Cabo Delgado continua numa Semana Santa muito longa, numa Sexta-feira Santa muito longa, onde Jesus continua a sofrer na vida dos pobres. Mas nós temos esperança”, referiu D. Luiz Lisboa.

O responsável católico sublinha que a província do norte de Moçambique precisa de “muita solidariedade”, apelando em especial a Portugal, “país-irmão”, para uma ajuda que passa por alimentação, vestuário e reconstrução das casas, destruídas tanto pela ação de grupos armados como pelo ciclone Kenneth, de 2019.

“O coronavírus vem aumentar este sofrimento que já é extremo”, avisa, recordando os problemas que se vivem atualmente com a malária e surtos de cólera.

O bispo de Pemba espera que “as pessoas se importem” mais com a situação da população da região, onde “já há uma fome muito grande”.

Foto: ACN

O entrevistado admite temer uma difusão “silenciosa” da Covid-19, por causa da “falta de hospitais, de cama, de material médico, falta de testes”.

“Como é que nós podemos responder à altura, se a doença entrar aqui, de forma muita forte?”, questiona.

A situação de crise mereceu um apelo do Papa no último domingo, antes da sua bênção ‘Urbi et Orbi’, gesto que segundo D. Luiz Lisboa deu visibilidade ao tema.

“Estamos muito agradecidos ao Papa Francisco”, assinala.

Segundo o responsável católico, o alerta sobre a crise, que chegou do Vaticano, ajudou a que se encarasse a situação com “maior seriedade”, aumentando a pressão internacional.

“Tem ajudado enormemente, porque nós estávamos aqui como que esquecidos, dentro e fora do país”, relata.

Cabo Delgado tem sido palco de ataques de grupos armados, há mais de dois anos, primeiro em aldeias mais distantes, mas agora já em vilas de maior dimensão, provocando mortes, destruição de edifícios – incluindo mesquitas e igrejas -, com 200 mil deslocados internos.

Na Semana Santa, os ataques atingiram a Paróquia do Sagrado do Coração de Jesus, a segunda mais antiga missão de Pemba, com a destruição de várias imagens de culto, algo que “chocou a população”.

“É muito difícil dizer quem são”, admite o bispo local.

Os grupos armados foram tratados durante muito denominados como “inimigos sem rosto”.

“Nos últimos tempos, eles mesmo têm-se autodenominado Estado Islâmico, mas na verdade não sabemos se são”, adianta D. Luiz Lisboa.

Várias organizações islâmicas enviaram uma mensagem ao bispo, no qual se “distanciam completamente” destas ações.

No final de março, as vilas de Mocímboa e Quissanga foram invadidas pelo grupo, que içou a sua bandeira num quartel das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique.

Num vídeo distribuído na internet, um alegado militante ‘jihadista’ justificou os ataques de grupos armados no norte de Moçambique com o objetivo de impor uma lei islâmica na região.

“Eu tenho dito que o coronavírus para nós está em segundo plano, porque o que nós precisamos neste momento é de paz”, admite D. Luiz Lisboa.

Foto: Arquidiocese de Braga

Segundo o bispo de Pemba, os missionários que estavam na zona norte foram os últimos a sair da zona de conflito e foram acolhidos por outros religiosos da província.

“Estão todos a respeitar o isolamento e a procurar ajudar, na medida do possível, fazendo máscaras, também, consciencializando a população”, aponta.

O responsável católico destaca o trabalho da Cáritas diocesana, com uma presença “incansável” no sentido de ajudar as pessoas.

A Diocese de Pemba e a Arquidiocese de Braga estão geminadas, assumindo esta a Paróquia de Santa Cecília de Ocua.

Neste momento, encontra-se no terreno um casal de missionários, Rui e Susanta, que asseguram tanto o trabalho de evangelização como a ação humanitária, que “não pode parar”, no campo da nutrição e da saúde materno-infantil.

PR/OC

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Agência ECCLESIA

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