Moçambique: Bispo de Pemba alerta para «sofrimento e fome» da população, após sete anos de terrorismo em Cabo Delgado (c/vídeo)

«O povo vai domesticando o medo» – D. António Juliasse

Lisboa, 08 out 2024 (Ecclesia) – O bispo da Diocese de Pemba, no norte de Moçambique, afirmou que a Província de Cabo Delgado “não tem paz”, a guerra começou há sete anos e o povo vive uma enorme “incerteza”, na sua passagem por Portugal.

“Um povo que vai domesticando o medo, vai convivendo com a insegurança, e em que cada morte, agora, é como se fosse um fatalismo. E isso não é normal”, disse D. António Juliasse, este sábado, em Oeiras, ao secretariado português da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

Na informação enviada à Agência ECCLESIA, o bispo de Pemba, na Província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, alertou que esta região “não tem paz”, sete anos após o primeiro ataque terrorista, em Mocímboa da Praia, no dia 5 de outubro de 2017.

Sete anos de deslocados, sete anos de mortos, sete anos em que as pessoas vivem num sofrimento muito grande, com fome, porque não podem cultivar [as terras] por causa da insegurança, de doenças porque não têm medicamentos, porque o posto que existia mais próximo da aldeia não funciona ou está destruído. Sete anos em que as crianças não estão a estudar como deviam”.

5 de outubro é “um dia triste”, e surge após o Dia da Paz e Reconciliação, feriado nacional moçambicano que marca a assinatura do Acordo Geral de Paz de 1992, que teve a intervenção da Comunidade de Santo Egídio, após15 anos de guerra civil no país lusófono.

“Desde que estou em Pemba, tenho sempre dificuldade em celebrar o dia 4 de Outubro como Dia da Paz. Na verdade, devíamos estar a celebrá-lo como Dia dos Acordos de Roma, porque paz, em Cabo Delgado, não existe. E custa-me escutar discursos em que se diz que temos paz se Cabo Delgado não tem paz”, desenvolveu.

De passagem por Portugal, D. António Juliasse esteve na Arquidiocese de Braga, onde participou numa Vigília de Oração pela paz em Cabo Delgado, na igreja de São Paulo; em Lisboa, este sábado, encontrou-se com Sílvia Duarte, a cabeleireira portuguesa que participou numa prova de atletismo, de 22 quilómetros, onde correu com as cores e a bandeira da Fundação AIS, no dia 26 de maio deste ano, em Monsanto.

Não foi tanto por aquilo que foi mobilizado em termos materiais, mas pela consciencialização que esta decisão pessoal de correr por Cabo Delgado possa ter criado na sociedade portuguesa e na Europa e isso comoveu-me bastante; há pessoas que não estão distantes daquilo que está a acontecer e fazem gestos maravilhosos”.

Sílvia Duarte vai participar numa nova corrida solidária para Moçambique, este sábado, dia 12 de outubro, vai correr 100 quilómetros, informa o secretariado português da AIS.

O bispo da Diocese de Pemba, no contexto da solidariedade, destacou também o apoio da Fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre “que sempre socorre, e socorre nos momentos mais críticos”, e a “doação pessoal” do Papa Francisco para concluírem as obras do Seminário de Filosofia em Nampula, no dia 24 de setembro.

CB/OC

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Agência ECCLESIA

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