Desde que Frelimo e Renamo voltaram a pegar nas armas, em outubro último, «nunca houve notícias que fossem certas», lamenta D. Elio Greselin
Lisboa, 14 fev 2014 (Ecclesia) – O bispo de Lichinga, em Moçambique, diz que o confronto entre o Governo e a Renamo fez regressar ao país um “clima de insegurança e morte” que está a ser escondido da opinião pública internacional.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, D. Elio Greselin realça que desde que em outubro último as tropas da Frelimo, o partido no poder, invadiram a base da Renamo em Gorongosa, na província de Sofala, tem havido “mortes, muitas mortes entre militares”.
Uma realidade dramática que, de acordo com o prelado, contrasta com as informações que têm sido veiculadas.
“Nunca houve notícias que fossem certas, quase tudo saia através do mesmo canal”, aponta o bispo de Lichinga.
O foco principal do conflito está neste momento localizado na região de Gorongosa, no centro do país, mas já se estendeu ao sul, à província de Inhambane, a cerca de 400 quilómetros da capital Maputo, onde as forças da Renamo estão a tentar restabelecer a sua base.
D. Elio Greselin recorda que é na região da Gorongosa que passa a única estrada nacional de Moçambique, a EN1, portanto aquilo que poderia estar circunscrito a apenas uma parte do país tem um alcance significativamente maior, gera “mal-estar e medo, muito medo”.
[[v,d,4445,Entrevista a D. Elio Greselin, bispo de Lichinga]] “O povo quer desenvolver-se, não quer este clima turbulento, já sofreu com as cheias, agora sofre com esta situação”, lamenta o bispo católico, alertando ainda para as consequências sociais desta situação, a começar pelos mais novos.
Com o “êxodo” das pessoas, para fugirem à violência, “as escolas esvaziam-se” e “em poucos anos, os alunos que já não vão tornam-se meninos do mato”.
Os combates entre Frelimo e Renamo estão a espalhar o “pânico” entre a população, por causa da perspetiva de uma nova guerra civil em Moçambique.
Ainda bem presente na memória das pessoas está um conflito que durou 15 anos, entre 1977 e 1992, custou a vida a quase um milhão de pessoas e provocou perto de seis milhões de refugiados e deslocados internos.
Para D. Elio Greselin, é difícil saber neste momento quem teve mais “culpa” na quebra do acordo de paz assinado há 22 anos em Roma, no entanto chama a atenção para fatores como as “divisões” internas que estão a acontecer dentro da Frelimo e o surgimento de novas forças políticas no país.
Nas últimas eleições administrativas moçambicanas, o Partido Democrático arrecadou o maior número de votos nas regiões de Nampula, Quelimane e Beira.
“Estas são cidades que contam, a Frelimo neste momento está a perder terreno e não se sabe o que está a inventar para ainda continuar no poder”, conclui o prelado.
JCP