D. Inácio Saúre lançou um «apelo de socorro», e destacou que «a Igreja e as suas obras estão ao serviço dos pobres»

Lisboa, 04 set 2025 (Ecclesia) – O arcebispo de Nampula, em Moçambique, lançou “um forte apelo” que pede a restituição de terrenos que pertencem à Igreja Católica e foram ocupados ilegalmente, bem como o cumprimento da lei e seja e seja reposta justiça.
“Os nossos direitos, que são os direitos dos pobres, sejam repostos, porque a Igreja e as suas obras estão ao serviço dos pobres. Não é justo que os bens da Igreja sejam roubados daquela maneira”, disse D. Inácio Saúre, em conferência de imprensa, esta quarta-feira, dia 3 de setembro, citado pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), na informação enviada à Agência ECCLESIA.
Na Arquidiocese de Nampula, no norte de Moçambique, vários terrenos foram invadidos e ocupados, desde o final de 2024, como o Seminário de São Carlos Lwanga onde foi construída uma mesquita, para além de casas provisórias.
O arcebispo de Nampula explicou que a Igreja Católica apresentou queixa à Justiça, no dia 16 de maio foi emitida uma providência cautelar para a “restituição provisória de posse”, mas “os oficiais de diligência foram escorraçados”.
“Deve haver ali uma mão invisível de poderosos, de intocáveis, que encorajam os criminosos”, referiu D. Inácio Saúre, sobre essa “recusa obstinada dos ocupantes de abandonar os terrenos”.
Os terrenos ocupados ilegalmente pertencem ao Seminário filosófico Mater Apostulorum, e ao Seminário propedêutico São Carlos Lwanga, à Paróquia de São João Baptista de Marrare às Irmãs Servas de Maria do Mosteiro Mater Dei, e onde funciona a Universidade Rovuma (Unirovuma) e o Hospital Geral de Marrere.
“Há nove meses foi a invasão dos terrenos das monjas e do seminário. No seminário implicou inclusivamente o derrube de um muro e a vandalização de uma machamba [terreno agrícola] feita pelos seminaristas para o seu próprio consumo”, explicou o padre José Luzia, missionário português, à Ajuda à Igreja que Sofre.
D. Inácio Saúre, na conferência de Imprensa, acrescentou que “foram derrubados cajueiros e muitas outras árvores”, retiradas do local em camiões de transporte de madeira.
Já o diretor da Rádio diocesana Encontro, padre Benvindo Isaías de Jesus, referiu à AIS, que quando foram “pedir, solicitar, o respeito pela propriedade privada”, foram recebidos “com catanas, zagaias”, e ameaçavam que “iam destruir o seminário”.
O arcebispo católico realizou este encontro com os jornalistas para “lançar um forte apelo, um apelo de socorro” a todas as pessoas de boa vontade “em Nampula, em Moçambique, e também no mundo inteiro”.
“A lei parece que já não serve nesta terra. Se alguém quer fazer de Moçambique uma aldeia sem lei, nós não podemos calar. Não queremos sangue, queremos justiça”, acrescentou D. Inácio Saúre, que é o presidente da Conferência Episcopal de Moçambique (CEM), acompanhado pelo vigário-geral, padre Estêvão Júlio, e pelo porta-voz da arquidiocese de Nampula, padre Pinho dos Santos Afonso Martins, citado pelo portal de notícias online do Vaticano, ‘Vatican News’.
O padre José Luzia, missionário em Nampula, onde chegou há 57 anos, está na Paróquia de Marrare onde também ocuparam ilegalmente um terreno, e explicou que está “chocado” com esta situação e com a falta de atuação das autoridades policiais, que “não se façam sentir e tudo tem sido remetido para as instâncias judiciais”.
O diretor da emissora católica de Nampula lembrou que as ocupações de terrenos da Igreja acontecem há muitos anos, mas este fenómeno teve “mais intensidade”, especialmente desde as manifestações de contestação às eleições presidenciais e gerais de 9 de outubro de 2024.
“A maioria dos que estão na frente apresentam-se como fiéis muçulmanos, depois de invadirem os terrenos, a primeira coisa que se faz é construir mesquitas”, acrescentou o padre Benvindo de Jesus, à Fundação pontifícia AIS.
CB/OC