D. Francisco Chimoio espera que governo e população se entendam, depois da violência gerada pela subida do custo de vida no país
Tumultos na rua, confrontos entre policia e população, carros, lojas e armazéns vandalizados, levantamento de barricadas, um clima de guerra que se criou em Maputo, desde Quarta-feira, dia 1, e que já causou pelo menos 6 mortos e muitos feridos.
Em causa estão os protestos da população devido ao aumento do custo de vida em Moçambique, principalmente no que diz respeito aos bens de primeira necessidade, como a água, luz e o pão. Os combustíveis também aumentaram quatro vezes, nos últimos meses.
O D. Francisco Chimoio, descreveu à agência ECCLESIA o cenário que se vive na cidade, nos últimos dias.
O arcebispo de Maputo fala de “um ambiente de caos, com manifestações nas ruas, levadas a cabo pelas populações, que pedem ao governo para que os preços não subam tanto”.
O governo moçambicano justificou esta escalada nos preços com a situação de crise que o mundo atravessa.
O presidente Armando Guebuza, declarou ontem que “o governo está consciente da situação que vive o povo”, mas não hesitou em condenar os protestos, que diz apenas servirem para “trazer luto e dor ao seio da família moçambicana e para agravar as condições de vida dos nossos concidadãos”, lamentando ainda “a perda de preciosas vidas humanas e a destruição de bens públicos e privados”.
A arquidiocese de Maputo já apelou à calma e à compreensão, para ambas as partes, numa mensagem transmitida pela rádio e pela televisão.
“O governo tem de se sentar com as pessoas e procurar ouvir as suas necessidades, encontrando uma solução conjunta, uma plataforma de entendimento. Ao mesmo tempo, tem de encontrar uma forma de gerir esta situação”, espera o arcebispo de Maputo.
A polícia tem tentado pôr cobro aos protestos com gás lacrimogéneo e balas de borracha.
Apesar da aparente tentativa das autoridades em lidarem com a situação de forma a evitarem perdas humanas, D. Francisco Chimoio adianta que já se registaram pelo menos “6 a 10 mortos, há ainda muitos feridos e pelo menos142 pessoas foram já aprisionadas pela polícia”, acrescentando que “há muitos jovens e crianças envolvidos na confusão”.
Neste momento, está reunido o conselho de ministros, numa reunião extraordinária, e o arcebispo espera que seja dada uma resposta aos anseios da população.
“O governo tem uma missão não indiferente, porque foi eleito por esta população, para ir ao encontro das suas necessidades, têm de trabalhar em nome do povo”, diz D. Francisco Chimoio.
O clima de insegurança é tão grande que o prelado nem consegue sair à rua. Os transportes públicos não circulam, autocarros, carros, lojas e armazéns foram vandalizados, e continuam a ser queimados pneus à entrada da cidade, onde se podem ver barricadas com pedras, para impedir a passagem dos carros.
Ontem, um avião da South África Airways não aterrou, porque não havia condições de segurança, no aeroporto, cheio de manifestantes. Muita gente não trabalhou, e pessoas que visitaram a cidade não conseguiram regressar às suas casas.
“Eu queria ir reunir com os meus sacerdotes, directores espirituais da juventude na cidade de Beira, por causa da preparação para as JMM 2010, mas dizem-me que não é seguro”, adianta o prelado.
Segundo o arcebispo, a confusão pode alastrar-se ainda a outras zonas do país.