D. Cláudio Dalla Zuanna explica que pessoas precisam de “perspetivas de vida, como possibilidade de trabalho»
Beira, Maputo, Moçambique, 14 mar 2020 (Ecclesia) – O arcebispo da Beira, em Moçambique, disse que as “pessoas continuam” com o “desejo de olhar para a frente, de recomeçar a sua vida” mas precisam de “perspetivas de vida”, um ano depois do ciclone Idai.
“Uma normalidade que demora a regressar porque não há grandes recursos para poder reconstruir as casas, sobretudo do povo mais simples, mas há esta atitude de olhar para a frente”, afirmou D. Cláudio Dalla Zuanna em declarações à Agência ECCLESIA.
O arcebispo da diocese moçambicana da Beira explica que, de alguma forma, “as pessoas não se mostram marcadas ou ficaram traumatizadas”, “há um ambiente positivo, sereno” apesar de manterem “a memória ainda muito viva” da passagem do ciclone Idai na região há um ano, a 14 de março de 2019.
Neste contexto, o missionário argentino, responsável desde 2012 pela arquidiocese moçambicana, assinala que as pessoas precisam de “perspetivas de vida, como possibilidade de trabalho”, ainda existem “várias centenas de famílias a viver em tendas nas áreas de reassentamento”, que têm ajuda alimentar mas depois “não tem nenhuma atividade” e sem essa oportunidade de sustento “não têm uma perspetiva”.
“Não é só ajudar a reconstruir a própria casa mas criar oportunidades de trabalho que seria a ajuda maior”, sublinha, sobre uma população que segundo o último senso de 2017 é jovem, 45% tinha menos de 14 anos.
Sobre as infraestruturas, D. Cláudio Dalla Zuanna conta que a rede elétrica, estradas e a rede telefónica “foram recuperadas”, e houve muito trabalho de particulares na reconstrução das casas, pessoas que “tinham alguns recursos e avançou muito” mas os bairros da periferia, “onde a situação já era muito difícil”, e estruturas públicas “não avançou da mesma forma”, mas destaca que foi “recuperado o hospital central”.
A Igreja Católica na Beira gere uma rede com “mais de 10 mil alunos” e o arcebispo revela que deram prioridade à “recuperação das escolas católicas”, à ajuda alimentar e ao “material de construção para as famílias”, como terceira fase”, dedicaram-se à “reconstrução das igrejas e imóveis da diocese”.
Neste momento, acrescenta, estão a recuperar “o telhado da catedral e de outra igreja paroquial”, depois de concluíram o telhado de uma outra igreja e mais alguns templos “que tinham danos menores” e têm de reconstruir três igrejas que “desmoronaram totalmente ou parte delas”.
“O trabalho ainda é muito longo mas muito se fez ao longo deste ano”, assegura.
D. Cláudio Dalla Zuanna realça que “a Igreja da Beira cresceu ao longo deste ano”, para além da recuperação do património, e conta que, de alguma forma, podem dizer que “o ciclone Idai veio acordar um pouco nalgumas dimensões, por exemplo da caridade”.
“Como resposta às necessidades do ciclone Idai todas as paróquias têm equipas que chamamos ‘ativistas da caridade’, pessoas que foram formadas para fazer o levantamento da situação e depois distribuíram as ajudas. Mas também nasceram em todas as paróquias grupos de leigos missionários, com alguma atividade de levar não só bens materiais mas o Evangelho, leigos que visitam outras paróquias”, desenvolveu.
Neste sentido, o arcebispo salienta o exemplo de “uns 50 jovens que passaram uma semana”, em tendas num campo de reassentamento, a visitar as famílias, plantando árvores, e “dialogando, refletindo sobre o dom grande que a Igreja tem que é o anúncio de Jesus Cristo”.
“Um ano depois as nossas paróquias são mais vivas e muitos leigos assumiram a responsabilidade de ser testemunhas na palavra e na caridade do Evangelho”, observou.
As últimas palavras da entrevista foram para “agradecer a muita solidariedade” que receberam de Portugal depois da passagem do ciclone Idai, “de particulares, de algumas dioceses, também de empresas e associações.
“Que se sintam agradecidos e lembrados ao Senhor. Iremos rezar pelos defuntos, pela situação que vivemos e pelos nossos benfeitores”, acrescentou D. Cláudio Dalla Zuanna, assegurando que essa solidariedade vai ser lembrada “na vigília de oração, com todas as paróquias da cidade”, que começa hoje à noite e termina este domingo, com a Eucaristia.
O ciclone Idai também atingiu outros países africanos, como o Zimbabué e o Maláui, e diversas regiões de Moçambique, para além da cidade da Beira, cuja diocese católica foi ereta a 4 de setembro de 1940 pela bula Sollemnibus Conventionibus do Papa Pio XII; A 4 de junho de 1984 foi elevada a arquidiocese metropolitana por São João Paulo II com a bula Quo efficacius.
A entrevista semanal conjunta Agência ECCLESIA e Rádio Renascença, emitida e publicada a cada sexta-feira,conversou esta semana com o português Carlos Almeida, que coordena a ação da HELPO em Moçambique, que alertou, por exemplo, para a situação das pessoas nas zonas rurais que “estão realmente a passar mal, com muitas dificuldades”.
CB/OC