«Revolução silenciosa» está a mudar «consciências e mentalidades», diz responsável da Fundação Fé e Cooperação
Lisboa, 03 jul 2012 (Ecclesia) – A Igreja Católica está preocupada com a reintegração profissional de voluntários que deixaram vínculos laborais seguros nas suas empresas para abraçarem ações de cooperação no estrangeiro durante um ou mais anos.
“Muitas pessoas tinham emprego estável e despediram-se para partir em missão durante um ou mais anos; no regresso vivem na incerteza e tudo volta à estaca zero”, explicou a responsável pela Rede de Voluntariado Missionário da Fundação Fé e Cooperação (FEC) em declarações ao programa ECCLESIA na Antena 1.
A demissão do posto de trabalho revela que os voluntários “não partem para fazer uma experiência exótica mas têm um projeto de vida que querem cumprir ao serviço de outras pessoas”, frisa Patrícia Fonseca na entrevista que vai para o ar este domingo e que ficará disponível na internet a partir de segunda-feira.
“Era importante para quem deixa as suas vidas profissionais em Portugal, com o objetivo de fazer estas experiências de forma gratuita, que no regresso encontrasse mais apoio e reconhecimento”, sustenta.
A responsável sugere que as contribuições à Segurança Social para efeitos de reforma, feitas pelas associações a que os voluntários pertencem durante o tempo de missão, tenham um acréscimo que em contrapartida faça com que o Estado conceda um apoio à reintegração durante seis meses, após o regresso a Portugal.
Esta é uma das propostas feitas pela FEC ao Governo, no âmbito do processo da revisão da lei do voluntariado que está a ser conduzido pelo Ministério do Trabalho e da Segurança Social.
A cooperação em Portugal e no estrangeiro inspirada pela perspetiva cristã, o denominado voluntariado missionário, é uma “revolução silenciosa” que, “com passos curtos mas firmes”, está a mudar “consciências e mentalidades”, observa Patrícia Fonseca.
“Quando se iniciou, há mais de 20 anos, participaram apenas nove jovens; hoje são 4500”, destaca a coordenadora da Fundação Fé e Cooperação, instituição dependente da Conferência Episcopal que prepara os voluntários antes da partida e os acompanha no terreno.
Os resultados de um inquérito às 61 organizações da Rede de Voluntariado Missionário, anunciados esta segunda-feira pela FEC, mostram um crescimento de participação nestas iniciativas de 40% face a 2011, que constitui “o maior aumento” de sempre, assinala a coordenadora.
Patrícia Fonseca sublinha os efeitos positivos a nível pessoal e coletivo das experiências de cooperação: ao voltar a Portugal os voluntários dão mais importância “à vida em comunidade” e aprendem “novas formas de ser e de estar”.
“Valorizam pequenas coisas ligadas aos recursos naturais, como abrir a torneira e ter água ou ir à despensa e ter o que comer, realidades que não encontram quando estão em missão”, acrescenta.
A coordenadora nota também que a experiência de privação de alguns recursos sensibiliza os voluntários que regressam a Portugal a envolverem-se em atividades tendentes a “diminuir as assimetrias” económicas.
Os voluntários, que trabalham sobretudo nas áreas da formação, educação, saúde e evangelização, ganham “outra visão do mundo” e voltam com “aprendizagens que nem lhes passava pela cabeça que pudessem ter”, salienta Patrícia Fonseca.
PRE/RJM