Religiosos confessam que tiveram medo de morrer Antes de uma possível intervenção do grupo de elite da Polícia Federal (PF), arrozeiros e indígenas, entregaram no final da tarde de 8 de Janeiro os missionários Ronildo França, João Carlos Martinez e César Avellaneda, sequestrados e mantidos em cárcere privado na aldeia de Contão desde a madrugada de terça-feira, 6 de Janeiro. O ex-cacique de Contão, Jonas Marcolino e o Secretário de Estado do Índio, Orlando Justino, conduziram os reféns num helicóptero do Governo do Estado de Roraima até o aeroporto internacional de Boa Vista. O sequestro e cárcere privado durou mais de 60 horas. Os três missionários informam que não sofreram agressões físicas por parte dos indígenas, mas assumem que viveram momentos de terrorismo psicológico e angustia. “Tive muito medo de morrer”, informa o Irmão João Carlos Martinez, coordenador na missão Surumu, local de onde foi sequestrado por volta das 3 horas da madrugada de terça-feira. Na manhã desta quinta-feira, coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Jacir José de Souza, acompanhado do Superior dos Missionários da Consolaa e do Advogado do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), reuniram-se com a delegada de Polícia Federal, Dra. Juliana Cavalheiro e o Procurador da República em Roraima, Dr. Darlan Airton Dias para pedir a libertação dos reféns e saber quais as providências já haviam sido tomadas. A delegada informou que continuaria tentando o diálogo com os sequestradores para evitar uma acção drástica da PF que poderia colocar em risco a vida de missionários e indígenas. O Procurador Federal disse que todas as providências legais para restabelecer a ordem pública e garantir a vida dos religiosos já haviam sido tomadas. “O Dr. Darlan estava disposto a deslocar-se até a aldeia para tentar negociar com os sequestradores”, informa o coordenador Jacir de Souza. O Irmão João Carlos destaca que os três missionários sequestrados foram levados para a aldeia de Contão num carro tipo D-20, de cor vinho, conduzido por um não-índio. Ele explica que alguns dos invasores da missão Surumu estavam embriagados, traziam facalhões e chegaram à Missão num camião da Prefeitura de Uiramutã, município instalado ilegalmente no interior de Raposa Serra do Sol. Quando chegaram a Boa Vista, os missionários foram encaminhados até o Instituto Médico Legal para exame de Corpo Delito, onde os legistas não constataram nenhuma lesão corporal. Cerca de 30 indígenas ensaiaram manifestação na entrada do Aeroporto e na frente do IML, mas não obtiveram êxito. O ex-prefeito de Uiramutã, Venceslau Braz e a actual prefeita Florani Mota (PT-RR) estavam entre os manifestantes. Um autocarro do deputado estadual Airton Cascavel (PPS) transportava os indígenas. O Conselho Indígena de Roraima manifesta solidariedade aos missionários, à Diocese de Roraima e ao Instituto Missionário da Consolata, ao qual pertencem os religiosos. O CIR protesta contra a forma como estão sendo conduzidas as manifestações de grupos anti-indígenas contrários à homologação de Raposa Serra do Sol e espera que todos os crimes cometidos sejam punidos com o rigor da Lei. As vítimas serão ouvidas pela Polícia Federal nesta sexta-feira. Conselho Indígena de Roraima 8 de janeiro de 2004