A partir do dia 16 de Dezembro em todas as igrejas paroquiais A partir de amanhã e até dia 24 de Dezembro, em quase todas as paróquias da Diocese do Funchal são celebradas as “Missas do parto”, um património religioso que é vivenciado pelas comunidades paroquiais, através de cânticos e de manifestações muito próprias que unem a liturgia do Advento à piedade popular. Qualquer pessoa que ande por estes dias na ilha da Madeira há-de ouvir falar constantemente na “Festa”, que é como os madeirenses falam do Natal. Aí a Festa começa cedo, logo a partir do dia 16 de Dezembro, com as “Missas do parto”, que é como lá se chama às novenas em honra de Nossa Senhora, celebradas pela madrugada. Apesar de serem uma tradição secular, as “missas do Parto” da ilha da Madeira continuam a ser uma das maiores manifestações da religiosidade popular e da cultura madeirense. Estas celebrações que reúnem a população insular pelas madrugadas de 16 a 24 de Dezembro possuem uma estrutura e um objectivo comum a todas as comunidades e fazem parte da tradição do Natal, que remonta certamente, aos primeiros povoadores da Ilha. Embora celebradas nos nossos dias, adaptando-se às vicissitudes da evolução e da vida moderna, são ainda marcadas pelo entusiasmo e participação generalizada. Antes ou depois do trabalho, consoante a hora em que forem celebradas, os fiéis reúnem-se para louvar Nossa Senhora e preparar um Natal que está longe do frenesim consumista dos nossos dias. É uma tradição que vem de longe, e nem o frio nem a chuva das manhãs de Inverno demovem os fiéis das novenas. À ida para a igreja bebe-se café quente com um “cheirinho” de grogue ou um copito de aguardente com mel, para afastar o frio e o sono. Nalgumas freguesias bandas filarmónicas percorrem as ruas com as castanholas, os bombos, as “cabrinhas” ou os acordeons, que acordam os mais dorminhocos. Nas tradições mais antigas, é o búzio chama às duas horas da manhã: todos conhecem aquela voz, quem vem a caminho também bate a todas as portas. A caminhada dos sítios mais altos até à Igreja é longa e difícil, por caminhos inclinados e estreitos, mas todos avançam ao som dos instrumentos regionais, dos búzios e de muitas dezenas de castanholas. Nestes nove dias vão ecoar nas igrejas cânticos que podem muito bem ter cinco séculos de existência. O pai-nosso, a ave-maria, a salve-rainha, a Conceição, a Maternidade e o “retrato de Nossa Senhora” são cânticos obrigatórios: O “retrato de Nossa Senhora”, é um hino de louvor à pessoa da Virgem Maria, tanto das suas qualidades físicas como espirituais. A cada louvor segue uma petição. E a concluir reza: “A beleza da vossa alma / Ao Senhor agradou tanto / Que vos escolheu para esposa / Do divino Espirito Santo.” Todos os outros cânticos seguem, quase à risca, o mesmo esquema: uma verdade teológica, cristocêntrica, um louvor à Virgem, a Cristo ou a Deus, e uma respectiva petição e consequente aplicação prática à vida quotidiana. As características da vida moderna certamente não permitirão cumprir a tradição à risca, até porque hoje as distâncias estão mais encurtadas entre as populações, e a Igreja, de há quarenta anos a esta parte, também subiu ao encontro das comunidades humanas que se têm disseminado pelas encostas da Ilha e têm transformado a sua maneira de ser e estar na vida. Não se perdeu, contudo a tradição: antes ou depois do trabalho, consoante a hora em que forem celebradas, os fiéis reúnem-se com o pensamento envolto na meditação da Liturgia da Palavra que, nesta semana nos aproxima bastante de Cristo e da sua Mãe, cantando loas à Virgem que vai dar o Filho do Altíssimo que também é seu.