Missão sem férias

Tony Neves

Temos de vencer a tentação de nos limitarmos aos que ainda temos, ou julgamos ter de nosso e seguro: seria morrer a prazo, enquanto presença de Igreja no mundo

Bento XVI, Porto, 14 de Maio de 2010

 

Quando chega o Verão, meio mundo faz as malas e parte de férias. Mas há centenas de jovens e menos jovens que optam por intensificar o fogo missionário que lhes corre nas veias e lhes aquece o coração. E partem. Uns para longe (serão 360, segundo revelações recentes da Fundação Evangelização e Culturas), outros para perto, até porque, como insistem os Bispos portugueses na última Carta Pastoral, a geografia da missão está a mudar. É destes últimos que vou falar.

Do ‘ICNE’ à ‘Missão 2010’

Recordo-me das cinco semanas do Congresso Internacional para a Nova Evangelização (ICNE) que me levaram a Viena, Paris, Lisboa, Bruxelas e Budapeste, onde fiz uma experiência extraordinária de uma missão criativa que andou pelos espaços públicos a anunciar o Evangelho de forma original e cativante. Nas praças, no metro, nos centros comerciais, nos cinemas, nos mercados, nos museus… em todos estes e outros espaços por onde Deus parece não passar, a missão aconteceu.

Acontece agora na minha Diocese do Porto com a corajosa ‘Missão 2010’. Cada mês tem um tema e Agosto aposta nas ‘férias’. Especiais, é claro, pois estamos a falar de Missão. Vão investir na costa, montar tendas na praia, inventar formas de animação e anúncio do Evangelho àqueles que aproveitam o mar para descomprimir de um ano de trabalhos e stresses. Um sem número de iniciativas destinadas a quem está de férias vai permitir que a Missão aconteça de forma criativa e simpática, lançando um apelo a valores profundos que as pessoas vão abafando numa sociedade onde o ter e o poder esmagam o ser, o amar e o servir.

Que Nova Evangelização?

A recente criação do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização é a prova de que a evangelização na Europa está a precisar de um novo fôlego. Quando J. Paulo II utilizou, em contexto de América Latina, a expressão ‘Nova Evangelização’ explicou que ela só aconteceria com novos métodos, novo ardor e novas expressões. As iniciativas missionárias em tempo de férias podem dar ideias interessantes

Bento XVI, no Porto, disse que temos que propor sempre o Evangelho, sem nunca o impor. A força do Espírito que está em nós e a coerência do nosso testemunho de vida serão suficientes para mudar a história.

Estas experiências de Missão em tempo de férias testam a nossa capacidade der anunciar o Evangelho para além dos muros opacos das Igrejas onde só ouve falar de Cristo quem lá entra.

Ousar sair à rua…

A Missão não tem férias, mas as férias são um excelente tempo de Missão. É esta a experiência de muitos cristãos nos últimos anos. Se durante o ‘chamado’ ano lectivo, a pastoral que se faz é muito estruturada (catequeses, celebrações, calendários de movimentos e grupos…), as férias são um espaço criativo por excelência. Sair à rua, montar uma tenda na praça ou na praia, organizar campos de férias ou ATL com crianças e jovens, percorrer as famílias ou os lares de idosos para encontrar e animar os mais velhos, lançar eventos de maior envergadura como o Festival Jota…enfim, é abrir, de para em par, as portas ao Espírito que quer rasgar caminhos novos à Evangelização de um velho continente, muitas vezes já cristalizada nas formas de pôr as pessoas e as comunidades em relação com Deus.

A Missão em tempo de férias obriga os cristãos a perder a vergonha, a sair à rua para anunciar aquilo em que acreditam, ou melhor, Aquele em quem acreditam, Jesus Cristo e o seu Evangelho libertador. É uma missão fora da Igreja e do adro, lá onde as pessoas estão. Exige mais coragem, mais criatividade, mais mobilidade, mais encontro, mais partilha de vida, mais testemunho.

Para lá do adro…

Este verão estarei (como sempre) em Missão. Não deixarei o país, como o tenho feito com frequência, mas a Missão será cá dentro, acompanhado por jovens. Fico feliz por ter cerca de uma centena de Jovens Sem Fronteiras que decidiram fazer das suas férias um tempo de Missão. As Semanas Missionárias (de dez dias) que vamos viver colocam-nos ao ritmo das populações que nos acolhem. Vamos fazer caminho com elas, rezar, cantar e dançar. Vamos visitar reclusos num estabelecimento prisional; vamos fazer animação de rua; vamos colaborar na animação de festas dos padroeiros; vamos lançar concursos que envolvam crianças e jovens; vamos visitar lares de pessoas idosas e outras instituições de solidariedade social; vamos estar ao serviço das paróquias para o que elas acharem mais útil; vamos espalhar pela comunidade a alegria destes jovens que se assumem como cristãos.

Tony Neves, missionário espiritano

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