Carolina Coelho percebeu a importância de «estar», mais do que fazer, na sua passagem por Moçambique
Lisboa, 11 jul 2018 (Ecclesia) – Carolina Coelho, formada em Ciências Farmacêuticas, quis partir para Moçambique, com o Grupo Missão Mundo (GMM) das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, numa experiência de voluntariado em que aprendeu a “estar”, mais do que fazer, com mães e crianças num centro nutricional.
“Foi muito doloroso, ainda hoje me toca muito porque ver uma mãe que perdeu um filho: acompanhei-as durante os três meses, e de 14 perdemos seis, foi mesmo muito doloroso”, recorda a jovem da missão vivida em 2012.
Em declarações à Agência ECCLESIA, a jovem formada em Ciências Farmacêuticas contextualiza que foi em missão para Moçambique trabalhar num projeto de evangelização para a saúde, na área do HIV-Sida, mas foi chamada para um centro nutricional que recebe “crianças algumas em fim de linha”, das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres.
Carolina Coelho explica que recebiam crianças com 1 ano de idade e que “pesavam 3 quilos, que são os nossos recém-nascidos”, e “muitas vezes não havia nada a fazer e o desafio era estar”, e essa disponibilidade interior é um dos requisitos para participar no GMM.
Neste contexto concreto, a jovem missionária acrescenta que “o desafio é aceitar a incapacidade” pessoal mas “simplesmente, estar” a acompanhar as crianças e as mães.
Segundo Carolina Coelho, “eram momentos incrivelmente duros” mas, também, incrivelmente, belos, onde se “sentia uma grande presença de Deus”.
“Foi incrível como é que Deus está lá, deixa-se tocar até nos momentos de maior de dor. Aquela mãe é que, às vezes, tinha uma palavra de consolação para nós e não ao contrário, era impressionante”, revela a entrevistada que antes de partir em missão, em 2012, achava que ia “testar a fé, até duvidar e perguntar”.
A jovem formada em Ciências Farmacêuticas explica que o centro trabalha em cooperação com o hospital rural da Província de Manjacaze e também recebem as mães em regime de internamento para “fazer todo o processo de convalescença”.
“Chegamos lá e vemos aquelas crianças como na televisão, com um ano com três quilos, com moscas a pousar, cheias de feridas, depois conhecemos aquelas crianças e deixam de ser as crianças magrinhas e pobres”, desenvolveu.
Foi nessa experiência de três meses na região de Manjacaze, na Província de Gaza, a norte de Maputo, que Carolina Coelho percebeu “o significado do nada” ao ver uma criança nua “sem nada”, órfã de pai e mãe.
Neste contexto, conta ainda que o GMM apoia também a Mesa de São Nicolau, uma cantina escolar onde cerca de 200 crianças, dos 6 aos 16 anos, têm uma refeição que, “muitas vezes, é a única do dia, com a condição de continuarem a estudar.
“Temos crianças com 9 anos que já são órfãs, são chefes de família e têm a seu cargo outras crianças de 4, 6 anos e têm de ir à procura de comida e o abandono escolar é muito grande”, explica, sobre um espaço onde podem ser crianças.
Carolina Coelho, natural de Santarém, quis realizar a experiência missionária antes de entrar no mercado de trabalho e realça que a missão não foi algo da “bucket list” (lista de desejos antes de morrer), mas “por vontade de Deus, de sonhar os sonhos de Deus” para cada pessoa.
Com cerca de 11 anos, o Grupo Missão Mundo, de leigos missionários voluntários, realiza missões onde está a Congregação das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, nomeadamente, em Portugal, Moçambique, Timor Leste e México.
Ao longo desta semana o programa ‘Ecclesia’, na Antena 1 da rádio pública (segunda a sexta-feira, 22h45), está a apresentar histórias de missão e projetos de voluntariado em Portugal e ad gentes, desenvolvidos em países lusófonos.
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