Octávio Carmo, Agência ECCLESIA
O início do Ano Santo extraordinário dedicado à Misericórdia recentra a vida das comunidades católicas num conceito central e revolucionário da fé cristã, que a afasta de quem vê na divindade uma força alheia ao destino da humanidade ou apenas um ente castigador, que se diverte com a infelicidade e sofrimento dos habitantes deste planeta.
A Misericórdia não é um sinal de fraqueza ou de mera condescendência e a proposta lançada pelo Papa à Igreja, de portas abertas para toda a sociedade, é um desafio muito concreto e difícil. Sim, ouvimos, muitas vezes, Deus é Misericórdia, ‘mas’… (contrapondo-se depois conceitos de Justiça ou Verdade).
O apelo ao perdão e à conversão partem de um princípio muito claro: nem tudo está bem na nossa vida, pessoal e coletivamente. A Igreja Católica propõe uma força de mudança, que vem do Alto e transcende os horizontes limitados da existência, procurando levar todos mais além, a uma existência com sentido e verdadeiramente feliz.
A Misericórdia não é, por isso, uma validação do que está mal. Custa a entender que se tenha medo dela, como se fosse uma espécie de “diminuição” da proposta católica, menos exigente.
Todos temos de interrogar-nos sobre o que nos assusta nesta palavra, nesta força divina, porque é que preferimos refúgios aparentemente mais seguros, as portas fechadas, os muros que conhecemos.
O Jubileu da Misericórdia é, simbolicamente, um ano de portas abertas. De certa forma, um convite a querer deixar de controlar tudo, a aceitar o que está para lá das nossas forças, porque quando uma porta se abre de par em par, entram aqueles que conhecemos e também aqueles que não conhecemos, eventualmente aqueles que não gostaríamos de ver por perto, quem sabe alguns que nunca imaginaríamos.
Compete aos católicos ajudar o mundo a redescobrir este conceito tão importante, sem medo. Apresentar aos homens e mulheres de hoje a Misericórdia, sem ‘mas’, e confiar no que só Deus pode fazer.