Miranda do Douro: Mosteiro de Palaçoulo é uma «aldeia para Deus» onde é possível «experimentar o silêncio do silêncio»

Edifício da comunidade monástica, da casa de acolhimento e da hospedaria situado no planalto mirandês foi inaugurado hoje por D. José Cordeiro

Palaçoulo, 23 – O Mosteiro de Palaçoulo foi inaugurado hoje por D: José Cordeiro que afirmou, na homilia da missa, que a comunidade é uma “aldeia para Deus” onde se pode “experimentar o silêncio do silêncio”.

“A Providência Divina oferece agora a Portugal o dom da Graça de mais uma comunidade monástica, como uma aldeia para Deus. Este oásis de silêncio que é, ao mesmo tempo, uma palavra para o mundo, situa-se no Planalto mirandês, na comunidade de Palaçoulo, Município de Miranda do Douro, Diocese de Bragança-Miranda”, disse o arcebispo de Braga.

D. José Cordeiro lembrou que o tempo atual é “delicado e de aridez espiritual”, que rompe o “equilíbrio vital entre a ação e a contemplação”, referindo que o “mosteiro trapista é um apelo permanente à dimensão contemplativa da vida cristã”.

“Experimentar o silêncio do silêncio crente e orante na hospitalidade do Mosteiro Trapista de Santa Maria, Mãe da Igreja, em Palaçoulo, uma nova fundação do Mosteiro italiano de Vitorchiano é como aproximar-se de uma fonte límpida em território inóspito”, afirmou.

D. José Cordeiro, atual arcebispo de Braga, está na origem da fundação do Mosteiro de Palaçoulo na diocese de Bragança-Miranda, quando era bispo desta diocese e, em julho de 2016, visitou o mosteiro italiano de Vitorchiano, onde presidiu à celebração eucarística e, no final, encontrou-se com as irmãs responsáveis da comunidade.

“As Irmãs sonhavam uma presença efetiva em Portugal, por ocasião do primeiro centenário das aparições em Fátima. Precisavam de um sinal, isto é, o convite de um bispo”, lembrou D. José Cordeiro.

O bispo de Bragança-Miranda, nessa altura, aceitou “imediatamente o desafio” para a pensar na sua diocese, que tem como padroeiro “o pai S. Bento”, e iniciou o processo de escolha de um local para a fundação de um mosteiro, para o que as irmãs pediam “um terreno e água”.

D. José Cordeiro recordou na homilia da Missa de inauguração do Mosteiro de Palaçoulo que foram propostos vários locais da diocese de Bragança-Miranda, chegaram a ser equadionados locais noutras dioceses de Portugal, mas as monjas beneditinas escolheram as “terras nordestinas” e procuraram um ambiente de silêncio.

“De 22 a 24 de novembro vieram as Irmãs Rosario e Fabiola. Juntos percorremos os lugares e escolhemos este lugar.  Juntamente com o P. António Pires, com o conselho paroquial para os assuntos económicos e 25 famílias realizou-se o resto no longo e decisivo processo jurídico-canónico para a fundação do mosteiro. O sonho de Deus realizou-se e continua”, lembrou.

Alcobaça é a maior presença de Cister em Portugal, com “de fundação de raiz”, entre 1153 1833; em 1892 ocorre uma reforma e surgem “os Trapistas, a Ordem dos Cistercienses Reformados da Bem-Aventurada Virgem Maria da Trapa”, hoje “denominado Ordem Cisterciense da estrita Observância”, mas, em Portugal, “depois da extinção das ordens religiosas em 1834, a Ordem de Cister, os Cistercienses, não restauraram nenhum mosteiro”.

A história da vida contemplativa vivida pela Ordem de Cister é retomada agora em Palaçoulo, com a inauguração do Mosteiro Trapista de Santa Maria, Mãe da Igreja”, o cumprimento de um “sonho de Deus”.

“Santa Maria Mãe da Igreja, com São Paulo VI e São Bartolomeu dos Mártires, dos quais existem nesta igreja abacial as relíquias, intercedam para a beleza silenciosa deste oásis de paz”, concluiu D. José Cordeiro.

CB/PR

Na homilia, D. José Cordeiro destacou que as Monjas Trapistas, “que abraçam a dimensão contemplativa da vida neste esperançoso mosteiro”, transmitem a “esperança alegre e contagiante de quem é autenticamente feliz”.

“Muitas pessoas que tenho encontrado que já visitaram este mosteiro, o que levam daqui é o rosto da felicidade de quem se sente amada e de quem ama. De quem se sente amada por Cristo e ama a Cristo. Depois podem perguntar ao arquiteto Pedro e à sua equipa que este mosteiro nasce do altar: o altar é o centro deste mosteiro e este mosteiro começou a ser concebido a partir do altar”, desenvolveu o arcebispo de Braga.

Agência ECCLESIA/CB, arquiteto do Mosteiro Palaçoulo Pedro Salinas Calado

Em declarações à Agência ECCLESIA, o arquiteto Pedro Salinas Calado salientou que o que é específico de uma igreja “é a celebração litúrgica, a Eucaristia, mais propriamente, e o centro da Eucaristia é o altar”.

“A igreja é o centro do mosteiro. Acontece também que, em termos de desenho propriamente dito, de conceção, o presbitério parte do desenho do altar e é um quadrado perfeito, que, de resto, era uma forma como os próprios cistercienses construíam mosteiros; e, nós partimos do desenho do quadrado, em que está inscrito o altar, depois se reproduz para o desenho do presbitério e o quadrado onde o altar está centrado é o quadrado que serviu de base para toda a geometria de todo o mosteiro, quer seja em planta, quer seja também em altura, nas relações de escala e proporção”, desenvolveu o coordenador do projeto.

Pedro Salinas Calado explicou que esta obra foi “um desafio grande e muito desafiador” que a sociedade de arquitetura, “desde a primeira hora”, abraçou “com todo o entusiasmo”, um trabalho de equipa que teve sempre “como objetivo responder àquilo que eram as inspirações desta comunidade”, que “sabe muito bem o que quer, tem ideias muito claras acerca do que é um mosteiro”, mas estiveram “totalmente abertas ao que eram as sugestões”.

“Houve dois filões principais que nós tentámos explorar: O primeiro a tradição cisterciense, trapista, de que é que nos fala a tradição dos mosteiros, e, depois, o lugar onde ele vai ser implementado, ou seja, a terra das montanhas.”

“O terreno foi surpreendente, desde a primeira vez que cá vim, e já na expectativa de que aqui se pudesse implantar um mosteiro. Eu falei isso com as irmãs, parece que o terreno estava à espera de um mosteiro, implicou muito estudo, muito trabalho, mas parece que esperava mesmo que o mosteiro para aqui viesse”, recordou o arquiteto.

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Agência ECCLESIA

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