Um templo milenar que teve o encerramento das comemorações respectivas no passado dia 14 de Março. Na proximidade do Rio Leça, no lugar de Recarei, diocese do Porto, houve um “modesto cenóbio, de carácter familiar, documentado desde 1003” onde actualmente se situa o Mosteiro de Leça do Balio. Ainda Portugal estava para nascer e já se escrevia sobre este mosteiro, situado no concelho de Matosinhos. Um templo milenar que teve o encerramento das comemorações respectivas no passado dia 14 de Março. Na celebração de encerramento, o bispo do Porto, D. Armindo Lopes Coelho, sublinhou que “o Mosteiro de Leça é hoje, com razão, expressão do orgulho, admiração e amor” daquele povo. A primeira referência documental ao Mosteiro de Leça do Balio é de 18 de Março de 1003 na qual D. Flamula Vigília «deixa em testamento uma herdade aos presbíteros, frades e freiras». Dedicado a Nossa Senhora da Encarnação, a História identifica-o como “Mosteiro de Santa Maria de Leça” ou “Mosteiro de Nossa Senhora Santa Maria de Leça”. De cenóbio sucedeu-lhe uma construção românica do século XII, a qual terá recebido os primeiros Hospitalários portugueses. São pouco consistentes as datas e vagas as circunstâncias da sua chegada e implantação no nosso país mas admite-se que no tempo de D. Afonso Henriques os Hospitalários se integravam na vida do Reino. O prelado do Porto acentua na celebração que devemos “ter presente que a implantação dos Hospitalários em Portugal coincide, com suficiente contemporaneidade, com o início da nossa nacionalidade e com o centro de peregrinação e respectivo caminho de S. Tiago de Compostela, na sequência da Reconquista Cristã”. Leça do Balio chegou a ser a Casa – mãe ou Grão-Priorado, em Portugal, da Ordem Militar dos Hospitalários. Esta história, “de esplendor ou decadência, merece ser recordada e celebrada, sem anacronismos e sem apreciações ideológicas desajustadas” – afirma D. Armindo Lopes Coelho. Instalada num local privilegiado, a Ordem dos Religiosos Cavaleiros do Hospital de S. João de Jerusalém (Ordem de Malta a partir do século XVI) contribuiu para “o desenvolvimento e enriquecimento destas terras”. O próprio “desenvolvimento agrícola constituiu a base de progresso industrial e social que hoje caracteriza Leça do Balio” – frisou o prelado do Porto. Foi neste período de “industrialização e de progresso fundamentado” que nasceu e se concretizou “a ideia de olhar para o passado e recuperar os monumentos e a monumentalidade deste complexo do Mosteiro, enquadrado em tão agradável urbanização ambiental” – disse D. Armindo Lopes Coelho. Numa das iniciativas promovidas aos longo do ano, Lúcia Rosas, professora universitária, fez uma descrição pormenorizada sobre a arquitectura do Mosteiro. Se é verdade que “começou por ser um pequeno Mosteiro, não é menos verdade que o monumento é, hoje, grandioso”. A obra começou a “fazer-se no século XIV, mas há ainda algumas peças correspondentes ao século XII, de base românica”. Na pequena Capela que fica do lado esquerdo, de quem entra, ao lado do altar, “encontram-se mais peças valiosas do ponto de vista histórico”. Desde logo, uma placa na parede mandada colocar em 1336, por altura da morte do Frei Estevão Vasques Pimentel. Uma “placa importada da Flandres” e que a professora universitária qualificou de “grande qualidade”, contendo um texto em que são exaltadas as qualidade de Frei Estevão Vasques Pimentel. Ainda no mesmo local, destaca-se outra peça de grande qualidade que é o túmulo de Frei João Coelho, um prior que está “sepultado num túmulo riquíssimo. Uma peça de grande qualidade” realçou Lúcia Rosas. Ainda no interior do mosteiro destaca-se a pia baptismal encomendada por Frei João Coelho que tem na “parte superior alcachofras” que representa a ressurreição, uma vez que mesmo com o fogo a alcachofra não morre. Depois da visita guiada ao Mosteiro de Leça do Balio e ainda integrada nas comemorações seguiu-se a apresentação do livro “Leça do Balio – No Tempo dos Cavaleiros do Hospital”, de Paula Pinto Costa e Lúcia Rosas. Para a memória ficam as palavras de Narciso de Miranda, Presidente da Câmara de Matosinhos, que realçou o mosteiro como “um ancoradouro seguro”.