Migrantes: «Portugal foi grande quando conseguiu acolher bem e será pequeno quando se fechar», afirma Rosário Farmhouse

Antiga Alta-Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural e Eugénia Quaresma, diretora da OCPM, abordam criação de carta de princípios do «Consenso Imigração»

Lisboa, 14 jul 2025 (Ecclesia) – Rosário Farmhouse e Eugénia Quaresma, que integram o espaço de reflexão ‘Consenso Imigração’, defendem a necessidade de imigrantes em Portugal e olham para o reagrupamento familiar como uma forma de integração.

Os imigrantes são uma enorme oportunidade para o nosso país. E Portugal foi grande quando conseguiu acolher bem e será pequeno quando se fechar, porque nós não podemos viver isolados, nós precisamos dos imigrantes”, afirmou Rosário Farmhouse, em entrevista ao Programa ECCLESIA, transmitido hoje na RTP2.

A antiga Alta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural reforça que o país precisa “desesperadamente de imigrantes”, seja para a economia, para a demografia ou para “construir um país cada vez melhor e mais plural”.

“Aquilo que temos sentido é que há uma enorme preocupação com a regulação e que se descurou um bocadinho a questão da integração”, assinalou.

A Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias votou favoravelmente, na passada sexta-feira, alterações à lei de estrangeiros, entre elas uma proposta de lei do Governo e alterações requeridas pelo Chega, que incidem sobre matérias como reagrupamento familiar e tempos de permanência legal em território nacional, que foram aprovadas por toda a direita parlamentar, informa a Lusa.

Rosário Farmhouse olha para o “reagrupamento familiar” como uma oportunidade e defende que “é uma das melhores maneiras” de “integrar os imigrantes” e que, ao contrário da ideia que se tem, este exige que a pessoa já esteja numa situação regular, tenha condições de acolhimento, um contrato de trabalho e uma casa.

“Na minha experiência, não só da Alta Comissária, mas no terreno, os imigrantes, a partir do momento que têm família, o seu comportamento também muda, estabiliza, conseguem encontrar a felicidade de uma maneira muito mais célebre, as crianças integram-se, passam para a relação formal”, explica.

O novo espaço de reflexão ‘Consenso Imigração’, que reúne diversas pessoas e instituições, como os últimos quatro Altos-comissários para a Imigração e a Obra Católica Portuguesa das Migrações, divulgou uma carta de princípios que pretende recentrar o tema da imigração para aquilo que é fundamental.

Eugénia Quaresma, diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações, uma das subscritoras da carta, entende que é necessário dialogar e que é importante não perder a memória histórica, algo que sente que está a acontecer.

“Durante muito tempo, este olhar para fora, para a nossa diáspora, ajudou na construção destas políticas públicas mais humanistas, mais acolhedoras, mais integradas”, destacou.

Para Eugénia Quaresma, se a imigração ficar refém de radicais ou extremismos, há o risco de ter “uma sociedade desconfiada, conflituosa, muito pouco fraterna”.

“É muito importante que nós saibamos que a integração não se faz só com as políticas, faz-se também com a boa vontade, com o coração, com o modo como eu olho para o meu vizinho, com o modo como eu converso com o meu vizinho. Isso faz toda a diferença”, salienta.

Questionada sobre que papel a Igreja pode ter no acolhimento de imigrantes, a responsável entende que é necessário “trabalhar cada vez mais em conjunto”.

“Eu acho que é aquilo que nos está a faltar e que temos que incidir mais, é cooperar com vista à comunhão, envolver bastante as nossas comunidades cristãs no conhecimento daquilo que a doutrina social da Igreja diz, e convertermos ao Evangelho”, identificou.

LS/LJ/OC

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