Diretora do Centro Comunitário São Cirilo explica que defendem «sempre que uma boa integração» vai definir o futuro do país

Matosinhos, 16 jun 2025 (Ecclesia) – O Centro Comunitário São Cirilo, uma fundação da Companhia de Jesus, no Porto, tem como objetivo o “acolhimento e integração de migrantes em Portugal”, em 14 anos de atividade, realizou, agora, o ‘Migratalks’, o primeiro grande evento público.
“Estamos pela primeira vez a organizar este evento, mas o nosso trabalho é de primeira linha. Nós somos uma IPSS, que pertence à Companhia de Jesus, aos Jesuítas em Portugal, que tem como objetivo este acolhimento e esta integração de imigrantes”, disse a diretora do Centro Comunitário São Cirilo, em entrevista à Agência ECCLESIA.
Os Jesuítas explicam que o Centro Comunitário São Cirilo começou a ser sonhado em 2002, quando “chegavam a Portugal muitos migrantes de Leste à procura de melhores condições de vida”, e Mariana Rozeira acrescenta que estão abertos para “acolher e ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade social, sobretudo, migrantes e refugiados, desde sempre”, e “80% do público-alvo” são migrantes.
Esta comunidade de inserção na cidade do Porto recebe encaminhamentos de pessoas “mais formais, pela AIMA, pela Segurança Social”, e por instituições que apoiam pessoas em situação de fragilidade, mas têm “a porta aberta”, por isso, qualquer pessoa pode dirigir-se ao Centro de São Cirilo “e recorrer a um dos serviços, que são todos gratuitos”.
“Acontece, muitas vezes, é que existe uma rede de contactos espalhada pela cidade, e, às vezes, um imigrante que chegou agora da Venezuela já tem uma comunidade de venezuelanos no Porto, que conhece o São Cirilo, e já a encaminha diretamente. Sabemos que há vários grupos do WhatsApp em que aconselham ir ao Centro de São Cirilo, e isso é um encaminhamento muito informal”, desenvolveu Mariana Rozeira.
Ao nível de alojamento, o apartamento de autonomização “tem capacidade para seis pessoas”, enquanto o Centro Comunitário São Cirilo, “para cerca de 18 pessoas”, está “sempre cheio” e “tem sempre lista de espera”, apesar de existir “alguma rotatividade”, por isso fazem “um projeto de vida com as pessoas com o objetivo da sua autonomização”, que é conseguido “em cinco, seis meses”.
A fundação de apoio a migrantes e refugiados, dos Jesuítas em Portugal, proporciona vários serviços, para além do alojamento, têm “apoio em refeições e em cabazes alimentares mais para famílias”, apoiam bastantes famílias, e, como trabalham na lógica da capacitação, fazem um acompanhamento técnico “muito completo, que vai desde a saúde, ajuda à procura de emprego, apoio jurídico, que é essencial, apoio psicológico, apoio social e apoio à procura de emprego”.
Segundo a diretora do Centro Comunitário São Cirilo, os utentes podem ter também aulas de português, “que é essencial para a integração”, várias atividades, aulas de Yoga, de Tai Chi, de música, de teatro, que “concorrem para ajudar a integração, não só profissional, mas também cultural”.
Com 14 anos de atividade, Mariana Rozeira considera que o centro de inserção tem “uma boa relação” com a cidade e com as pessoas, e assinala que não conhece outro “centro deste género que acolhe migrantes com alojamento” no Porto, e fazem parte da sua rede social, estão no NPISA, o núcleo de apoio às pessoas em situação de sem-abrigo da Câmara do Porto, também integram o Conselho Local de Ação Social do Porto.
Neste tempo de precessões, de redes sociais, de informações falsas sobre os migrantes, a entrevistada observa que cada vez ouvem “mais histórias, sobretudo pela Comunicação Social, que assustam bastante”, e tentam “combater esta desinformação” com iniciativas como o encontro ‘Migratalks – O sonho de uma imigração saudável’, que decorreu no último sábado.
“Defendemos sempre que uma boa integração vai ser aquilo que vai definir o futuro do país. E nós estamos empenhados nisso. Sentimos essa necessidade urgente na sociedade, na desinformação e muito nesta perceção de medo que nem sempre corresponde à realidade, pois as estatísticas não nos dizem isso”, concluiu Mariana Rozeira.
CB/OC
O Centro Comunitário São Cirilo, da Companhia de Jesus no Porto, realizou o encontro ‘Migratalks – O sonho de uma imigração saudável’, este sábado, 14 de junho, no Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões, em Matosinhos. “O sítio é simbólico, escolhemos o Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões por ser uma fronteira. É um tipo de fronteira, não é? Uma porta de entrada para migrantes, a maior parte de turistas que vêm visitar o nosso país, mas, simbolicamente, a maior parte dos refugiados atravessam o Mediterrâneo, e atravessam o Atlântico em barcos. Por isso, esta forma simbólica também de, por um lado, podermos ver da sala os barcos, mas também ver o horizonte que nos alarga ao resto do mundo, e a todas as pessoas que vêm de todas as partes do mundo”, assinalou Mariana Rozeira. A comunidade de inserção que trabalha esta área do tema da migração e com migrantes proporcionou aos cerca de 300 participantes “um dia de reflexão” e convidou especialistas, “pessoas que sabem, de facto, sobre este tema”, para depois cada pessoa “formar a sua opinião”. “Sentimos que há uma falta de informação relativamente ao tema da migração, embora seja o tema do dia. Toda a gente fala, toda a gente tem uma opinião, mas, se calhar, pouco sustentada”, observou a responsável. O Centro São Cirilo tinha também como objetivo “chegar ao maior número de pessoas possível”, e com as 300 pessoas atingiu “a lotação máxima” do Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões, para quem criou um imaginário logo no início deste encontro. “O dia começava com um ‘border coffee’, um café de fronteira, onde havia atores, polícias, fardados, cada pessoa tinha um passaporte simbólico que tinha que carimbar nessa alfândega, nessa polícia de fronteira, um bocadinho para as pessoas sentirem as dificuldades burocráticas que existem para um imigrante poder estar em Portugal. Tínhamos informações em várias línguas – em português, em francês, em inglês e em árabe -, para as pessoas perceberem que para um imigrante que chega ao país é tudo muito difícil” , desenvolveu. Segundo Mariana Rozeira, não é difícil “só a questão burocrática”, mas desde a legalização, o acesso à saúde, à educação, ao trabalho, “é tudo muito incompreensível”, a Segurança Social e as Finanças, por exemplo, “são conceitos muito incompreensíveis para estes imigrantes”. |
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