«Vencer o medo» e «reconhecer migrantes como bênção» na dinamização das comunidades são passos para gerar «verdadeira cultura do encontro»
Cidade do Vaticano, 24 mar 2022 (Ecclesia) – A Secção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral publicou orientações sobre a Pastoral Migratória Intercultural, onde valoriza o contributo dos migrantes nas comunidades católicas e propõe uma verdadeira “cultura do encontro”.
As orientações sublinham a importância de “reconhecer e vencer o medo” e a necessidade de “reconhecer os migrantes como uma bênção”, na dinamização das comunidades, quer a nível litúrgico, como também social, pode ler-se no documento divulgado hoje pelo Vaticano e enviado à Agência ECCLESIA.
O Papa Francisco, que assina o prefácio do documento, afirma que as orientações “convidam a ampliar o modo de ser Igreja” e alerta para o contexto atual, promovendo, desta forma, uma Igreja “verdadeiramente sinodal, em caminho, não instalada, nunca satisfeita”.
“(Os migrantes) Permitem-nos viver um novo Pentecostes nos nossos bairros e nas nossas paróquias, tomando consciência da riqueza da sua espiritualidade e das suas vibrantes tradições litúrgicas. A situação atual representa também uma oportunidade para viver uma Igreja verdadeiramente sinodal, em caminho, não instalada, nunca satisfeita, mas antes uma Igreja que «não faz distinção entre autóctones e estrangeiros, entre residentes e hóspedes», porque todos somos peregrinos nesta terra”, escreve.
O documento reconhece que as comunidades precisam de uma “correta compreensão do fenómeno”, e essa compreensão irá gerar um “ambiente favorável ao encontro mútuo” e de uma verdadeira “cultura do encontro”.
Devido a uma falta de preparação se geram “suspeições e medos”, facilmente se ignoram “experiências e necessidades”, contrariando a construção de uma Igreja que escuta ativamente e é compassiva.
“Convidar os paroquianos, especialmente os jovens e os jovens adultos, a envolverem-se pessoalmente em programas de assistência aos migrantes e refugiados necessitados, a fim de fomentar a empatia e a compaixão”, pode ler-se numa das propostas formuladas.
As orientações indicam que a Igreja é chamada a “entender a multiplicidade dos seus membros como uma riqueza a valorizar”, visível, por exemplo, na celebração de “liturgias vibrantes que respeitam as diferentes tradições culturais” e reconhecendo os “migrantes católicos como meio de dinamização das comunidades locais”.
Pede ainda o documento uma “cooperação eficaz” entre “entidades católicas e entre estas e todos os outros organismos”.
“As comunidades católicas são convidadas a ver na presença de muitos migrantes e refugiados de outros credos ou sem religião uma oportunidade providencial para cumprir a missão evangelizadora da Igreja através do testemunho e da caridade”, sublinha.
O Papa reconhece, no prefácio, o momento de crise, “devido à pandemia e às guerras”, contextos que provocam “nacionalismos fechados e agressivos e o individualismo radical”, que “fragmentam ou dividem o «nós», tanto no mundo como no seio da Igreja”, sendo a parte mais fraca aqueles que “facilmente se convertem nos outros”.
“O preço mais elevado é pago por aqueles que mais facilmente podem converter-se nos outros: os estrangeiros, os migrantes, os marginalizados, que habitam as periferias existenciais. Estas propostas preconizam precisamente um «nós» cada vez maior, tanto em relação à comunidade humana como à Igreja”, indica.
O Papa Francisco recorda as palavras que devem nortear a trabalho com os migrantes – acolher, proteger, integrar e promover – para criar oportunidades de “cooperação” com vista “à comunhão”.
“Estas propostas convidam-nos a concretizar este sonho a partir da nossa realidade concreta, expandindo-se como uma tenda até aos confins da terra, integrando os nossos irmãos e irmãs migrantes e refugiados, construindo juntos o Reino de Deus em fraternidade e universalidade”, propõe.
LS