Lisboa, 17 jan 2018 (Ecclesia) – O cardeal-patriarca de Lisboa destacou a atenção dada pelo Papa ao tema dos migrantes e refugiados, convidando à ação dos católicos, numa intervenção no Instituto Dom João de Castro.
“Pode acontecer que, em países como o nosso, em que a segurança está basicamente garantida, este motivo não pareça tão mobilizador assim”, começou por contextualizar D. Manuel Clemente, recordando que a “grande emigração de portugueses” a partir dos anos 60 do século XX “tinha como motivo sobretudo a procura de melhor vida”.
Neste contexto, observou que a motivação económica “também está presente nos atuais migrantes e refugiados”, mas, em muitos casos, essa procura “associou-se à fuga da morte certa ou quase certa, se permanecessem nas suas terras, assoladas por conflitos prolongados e devastadores”.
‘Migrantes e refugiados: homens e mulheres em busca de paz’ foi o tema da mensagem do Papa para o 51.º Dia Mundial da Paz, assinalado a 1 de janeiro de 2018.
Francisco “não propõe ingenuidades, mas não desiste do apelo”, e não deixa de “lamentar a demora do século XXI” em resolver as causas de tantas migrações e “levas de refugiados”, como “conflitos armados, desejo de vida melhor, degradação ambiental”.
Para D. Manuel Clemente, “há grande realismo” na previsão que “as migrações globais continuarão a marcar o futuro”
“Desde 2007 que vivemos mais em cidades do que fora delas, no conjunto mundial. Até meados do presente século vão somar-se cidades de várias dezenas de milhões de habitantes”, observou, referindo que se juntam outros desafios que “motivaram” a Encíclica papal ‘Laudato Si’ (2015).
Na comunicação realizada no Instituto Dom João de Castro, em Lisboa, dedicada à apresentação da mensagem, o cardeal português recordou números “esmagadores”: «Mais de 250 milhões de migrantes no mundo, dos quais 22 milhões e meio são refugiados.»
D. Manuel Clemente realçou a reação diversa “dos povos demandados, consoante as predisposições e as políticas”, com países com tradição de acolhimento, como a França e a Inglaterra, outros com “receio de abrir fronteiras”.
O cardeal-patriarca de Lisboa assinala que nem os movimentos migratórios, nem mesmo de refugiados, são “de agora”, mas têm “uma dimensão global inédita”, com “grande quantidade de seres humanos”, situações e motivos, “tudo dimensionado” com a mediatização que “pode oferecer miragens, como aumentar receios e reservas”.
“Refresquemos a memória e façamos melhor desta vez”, pediu ao recordar as invasões germânicas, no século V.
De António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas, citou a entrevista ao jornal Expresso (13 de janeiro de 2018) onde deixou “importantes indicações” sobre o tema dos migrantes e refugiados com os governos dos Estados-membros da ONU a negociar “um Pacto Global para a Migração”.
“Tão inaugural como oportuno”, observou D. Manuel Clemente na comunicação apresentada no Instituto Dom João de Castro e publicada hoje no sítio online do Patriarcado de Lisboa.
CB/OC