Igreja procura adaptar estruturas e estratégias aos novos fluxos migratórios
Albergaria-a-Velha, Aveiro, 07 jul 2011 (Ecclesia) – A emigração para a Europa durante o regime de Oliveira Salazar e Marcello Caetano (1932-1974) é um dos períodos marcantes da história da Obra Católica Portuguesa da Migrações (OCPM), que em 2012 comemora o 50.º aniversário.
“Em dez anos mais de um milhão de portugueses foram para França”, sublinha o diretor da OCPM em declarações à Agência ECCLESIA, no contexto do encontro anual dos secretariados e departamentos diocesanos da mobilidade humana e capelanias de imigrantes, que decorre em Albergaria-a-Velha entre 4 e 8 de julho.
O frei Francisco Sales recorda que a Obra “nasceu e cresceu como resposta” à emigração de muitos portugueses, também para a Alemanha e a Suíça, abarcando igualmente o envio de sacerdotes e outros agentes pastorais para acompanhar as comunidades lusas mais antigas nos EUA, Canadá, África do Sul e Venezuela.
O programa evocativo da “autêntica epopeia” do meio século de vida da OCPM, ainda em fase de apreciação, vai ser inaugurado com uma sessão marcada para janeiro de 2012, em Fátima, por ocasião da reunião de agentes sociopastorais das migrações.
O próximo encontro de secretariados diocesanos das migrações e capelanias de imigrantes, que se efetuará provavelmente em Lisboa, no princípio de julho, será “alargado aos coordenadores e missionários espalhados pelo mundo”.
A 12 e 13 de agosto de 2012 realiza-se a peregrinação dos migrantes ao Santuário de Fátima, presidida pelo presidente do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, o arcebispo italiano D. Antonio Maria Vegliò.
As celebrações, que incluem a publicação de um livro alusivo à história da OCPM, encerram em dezembro com uma sessão em Lisboa, adiantou o religioso franciscano.
No encontro de Albergaria-a-Velha, 250 km a norte de Lisboa, foram apresentados alguns dados do estudo “A Imigração em Portugal aos olhos dos Portugueses”, onde se menciona a intensificação do racismo devido ao desemprego.
A investigação, promovida pela Plataforma Imigração, sugere também que “o português não é racista, mas é-o contra o cigano, mesmo que ele tenha nascido em Portugal”, explicou o responsável.
A alteração do perfil das migrações em Portugal revela que “algumas das respostas da Igreja estão desfasadas da realidade”: “Surgiram instituições, em particular ligadas ao Estado, que dão as mesmas respostas dos organismos católicos”, explica o frei Francisco Sales.
“Durante muito tempo a Igreja apoiou os imigrantes ao nível social, na obtenção de documentação e na aprendizagem da língua”, mas a sua ação, que deve apoiar-se num voluntariado “qualificado” e “profissional”, tende agora a privilegiar a dimensão “espiritual”.
Referindo-se aos imigrantes brasileiros e africanos a residir em Portugal, o frei Francisco Sales considera que é necessária uma “pastoral que os procure integrar nas paróquias, respeitando e promovendo o que é característico da sua cultura”.
O diretor da OCPM lamenta a continuação dos “eternos problemas” com que a Igreja se debate no setor, como “a falta de sacerdotes e de pessoas que se queiram comprometer verdadeiramente”.
“Há secretariados diocesanos das migrações com responsáveis nomeados, mas não conseguem trabalhar porque lhe faltam os meios”, assinala.
RM