Francisco saúda cessar-fogo em Gaza e anuncia nomeação de mulher para liderar órgão de governo do Vaticano
Cidade do Vaticano, 20 jan 2025 (Ecclesia) – O Papa afirmou que o plano do novo presidente norte-americano para deportar em massa migrantes ilegais seria uma “desgraça”.
“Não falamos. [Trump] Veio cá uma vez, quando era presidente da outra vez, mas ainda não falamos ao telefone. Mas isto, se for verdade, será uma desgraça, porque faz com que os pobres coitados que não têm nada paguem a fatura das desigualdades”, indicou, em entrevista por videoligação ao programa ‘Che tempo che fa’, do canal Nove, na Itália, emitido este domingo.
“Não pode ser! Não é assim que se resolvem as coisas. Não é assim que se resolvem as coisas”, insistiu.
Donald Trump, que toma posse hoje, prometeu iniciar a “maior operação de deportação” da história dos EUA, falando a apoiantes, este domingo, em Washington DC.
“Muito em breve, daremos início à maior operação de deportação da história dos Estados Unidos, ainda maior do que a de Dwight Eisenhower, que detém agora o recorde”, disse Trump.
Francisco retomou a sua posição de que cada migrante deve ser “acolhido, acompanhado, promovido e integrado”.
“Atualmente há uma grande pobreza. Pensemos numa coisa: explicaram-me, aqueles que percebem destas coisas, que se não se fabricassem armas durante um ano, o problema da pobreza e da fome estaria resolvido. Em vez de armas, deem comida. A fome no mundo é grande. É grande! Há muitas crianças com fome e temos de pensar nisso”, acrescentou.
Questionado sobre a trégua que entrou em vigor na Faixa de Gaza, o Papa quis agradecer aos mediadores, insistindo na solução de dois Estados, Israel e Palestina.
“Acredito que é a única solução. Alguns têm essa vontade, outros não. E temos de convencer, temos de convencer com essa retórica suave que convence. A paz é superior à guerra, sempre. Sempre”, sustentou.
A guerra é sempre – sempre! – é uma derrota e temos de o dizer a nós próprios. A guerra é uma derrota! Vejam o que está a acontecer na Ucrânia, vejam a Palestina, Israel: como se destroem as coisas. É triste!”.
O Papa anunciou ainda que a irmã Raffaella Petrini vai ser a próxima governadora do Estado da Cidade do Vaticano, tornando-se assim a primeira mulher a ocupar o cargo.
O Governatorato exerce o poder executivo do Estado da Cidade do Vaticano, sendo tradicionalmente presidido por um cardeal – atualmente D. Fernando Vérgez Alzaga, que completa 80 anos a 1 de março, cessando funções.
A irmã Raffaella Petrini é secretária-geral do Governatorato desde novembro de 2021.
“O trabalho das mulheres na Cúria é algo que avançou lentamente e foi bem compreendido. Agora temos muitas. Por exemplo, para escolher os bispos: na comissão há três mulheres que escolhem os novos bispos. No Governatorato, a vice-governadora vai tornar-se governadora em março, é uma religiosa”, referiu Francisco.
A 6 de janeiro, o Papa nomeara a irmã Simona Brambilla, das Missionárias da Consolata, como nova prefeita do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, anunciou o Vaticano.
A religiosa tornou-se assim a primeira mulher a liderar um organismo da Cúria Romana.
“As mulheres podem fazer melhor do que nós”, referiu, na entrevista deste domingo.
Francisco falou ainda do combate aos abusos sexuais, um “mal muito grande” que existe em toda a sociedade, numa conversa que abordou a sua recente autobiografia, “Esperança”.
O Papa falou ainda da atenção aos presos, que traz no seu “coração”.
“Muitos dos que estão cá fora são mais culpados do que eles”, lamentou.
Francisco apontou ao Jubileu 2025 e disse que é preciso “mudar o coração”, para o tornar “mais humano, mais próximo do coração do Senhor”.
“Se vierem a Roma e forem à Porta Santa como turistas, sem sentido religioso, não vale a pena”, advertiu.
O Papa despediu-se com recomendações aos espectadores: “Irmãos e irmãs, o ano do Jubileu é para abrir o coração. Não deixem passar esta oportunidade. Avancem e tenham coragem. E não percam o sentido de humor”.
Francisco já em 2022 e 2024 tinha dado entrevistas ao mesmo programa da TV italiana.
OC