Migrações: Filhos dos imigrantes precisam de uma «cura da memória», refere diretora da OCPM

«Para reconciliar é preciso escutar» – Eugénia Quaresma

Lisboa, 10 ago 2020 (Ecclesia) – Eugénia Quaresma, diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM) disse à Agência ECCLESIA que o “convívio entre diferentes comunidades e gerações traz conflitos” e que é necessário a integração dos descendentes de imigrantes.

“O convívio entre diferentes comunidades e gerações traz conflitos e como a melhor maneira de resolver se não escutando e dialogando? Promover o diálogo intergeracional, filhos e avós que não se entendem nas comunidades da diáspora, como promover o diálogo?”, questiona a responsável.

Eugénia Quaresma salienta os acontecimentos em torno do racismo, xenofobia e diálogo sobre o colonialismo em que é necessário conhecer para depois integrar. 

“Para reconciliar é preciso escutar o que está por trás de tudo isto e as feridas que existem e entrar num processo de cura, a cura da alma e da memória”, aponta.

A diretora da OCPM assume que a “sociedade portuguesa precisa desta cura” pois os filhos dos imigrantes ainda sofrem uma falta de pertença.

“Houve um tempo na lei em que os filhos de imigrantes não eram portugueses, mas como não saíram de Portugal não se sentiam da terra dos pais, então não se sentiam de lado nenhum… só em 2007 houve uma lei que ajudou a resolver isto mas quantos anos a pessoa sofreu isto, como trabalhar a auto-estima das pessoas para que se sintam pertença e que valem alguma coisa e que podem contribuir?”, refere a responsável deste setor na Igreja Católica.

Os migrantes estão no centro desta semana nacional das Migrações, que decorre até dia 16 de agosto, e a responsável acredita também que há “muitos migrantes com quem se lida diariamente e não se sabe a história de vida”. 

“Pois que sejam estes migrantes que vivem no nosso país a tomar a iniciativa de se darem a conhecer e contar a sua história”, aponta.

A OCPM lançou o desafio de, nesta semana, recolher histórias de vida de migrantes e refugiados, “seja em formato vídeo, seja por escrito, seja gravando um áudio ou até quem tem jeito para o desenho que faça uma banda desenhada, através do endereço ocpm@ecclesia.pt”. 

“De norte a sul do país, e nas ilhas, os secretariados diocesanos de migrações vão estar atentos e têm material que podem fazer chegar e que iremos divulgar até ao mês de setembro, quando se assinala o dia do migrante e refugiado”, destaca. 

A Igreja Católica em Portugal promove até domingo a Semana Nacional de Migrações, inspirada pela mensagem do Papa Francisco, ‘Forçados, como Jesus Cristo a Fugir’, procurando apresentar “testemunhos de vida” sobre a realidade das deslocações forçadas, por causa da pobreza ou da guerra.

Durante esta semana decorre ainda a Peregrinação Nacional do Migrante e Refugiado a Fátima, nos dias 12 e 13 de agosto.

SN

 

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