Migrações: «Eu aprendi muito com a guerra» – Inocência Neves

Imigrante em Portugal há mais de 40 anos conta como conseguiu “partilhar e perdoar”

DR

Lisboa, 15 ago 2020 (Ecclesia) – Inocência Neves é imigrante em Portugal, onde chegou com a família em 1976 depois de fugir à guerra e partilhou nesta Semana Nacional de Migrações que “aprende sempre com as coisas menos boas”.

“As coisas menos boas que passam pela minha vida eu aprendo sempre, desde a minha própria doença até com a própria guerra… eu digo muitas vezes que não há nenhuma família timorense que não perdeu uma pessoa, que não sofreu na guerra, mas eu aprendi também muito com a guerra”, conta no testemunho divulgado pela Obra Católica Portuguesa de Migrações. 

Inocência Neves experimentou com a sua família, o drama de fugir da guerra, em terras de Timor e da Indonésia, e aprendeu a partilhar e a perdoar.

“A primeira coisa que aprendi foi a partilhar, porque sou de família numerosa, se calhar vem desde criança, e hoje ainda vivo pensando no que aprendi; sou de família católica mas a minha fé foi aumentando durante este tempo todo e aprendi também a saber perdoar o outro, e a tentar perdoar o outro”, assume. 

Os pais instalaram-se na zona do Jamor, em Lisboa, e aos fins de semana Inocência e os filhos participavam na comunidade paroquial de Alfragide. 

“Meus filhos fizeram lá a sua caminhada de fé e sacramentos mas um dia viemos para a Amora, na diocese de Setúbal, a minha filha inscreveu-se para fazer o crisma e envolveu-me a mim também”, recorda. 

A entrevistada conta que “fez acolhimento e depois a formação de iniciação”, atualmente é catequista. 

“Aprendemos tanto com o outro, seja preto, branco, amarelo, cor de rosa, verde ou azul… eu gosto de descobrir o outro, o saber do outro, eu penso assim estou sempre a descobrir no outro uma coisa boa todos os dias”, reconhece.

Inocência Neves destacou ainda as colónias de férias organizados pela paróquia, que este ano não se realizaram devido à pandemia, mas que, “apesar de muito trabalho” são o “renovar para o outro dia ou para o ano inteiro”.

A Igreja Católica em Portugal promove até 16 de agosto a Semana Nacional de Migrações, inspirada pela mensagem do Papa Francisco, ‘Forçados, como Jesus Cristo a Fugir’, procurando apresentar “testemunhos de vida” sobre a realidade das deslocações forçadas, por causa da pobreza ou da guerra.

SN

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