O que as famílias migrantes esperam da Igreja é o anúncio do Evangelho do amor e da família Aquilo que todas as famílias, incluindo as de migrantes, esperam e têm o direito de esperar da parte da Igreja é o anúncio do Evangelho do amor e da família. Isto quer dizer que o dom maior que Deus oferece às famílias é a dignidade e a santidade do amor que está presente nos laços conjugais e familiares: o amor entre homem e mulher, o amor entre pais e filhos, o amor entre irmãos. Ajudar a que a separação não corte a comunhão A migração, na maioria dos casos, separa fisicamente as famílias. Esta separação é um risco para a comunhão e a estabilidade familiar, sem dúvida. Mas pode ser também uma experiência que reforce os laços familiares. A distância – e todo o sofrimento que ela produz – pode ser uma provação que aprofunda e purifica a relação. A proximidade, só por si, não garante o calor da afectividade. No entanto, a separação física provoca especiais dificuldades e convida à solicitude pastoral da Igreja por estas famílias. Deve ela – em especial os agentes da pastoral familiar – acompanhar, cá e lá, os casais e as famílias separadas pela distância imposta pela necessidade de migrar em busca de melhores condições de vida, geralmente ditada precisamente pelo amor à família, em particular a educação dos filhos. Acompanhá-los para que não desanimem perante as dificuldades, para que fortaleçam o amor mútuo e continuem unidos e em comunicação à volta do amor à família que certamente ditou a necessidade de migrar, para que permaneçam em comunhão de fé e de oração… O desejável é, com certeza, que a unidade conjugal e familiar se reconstitua o mais rapidamente. Entretanto, é necessário oferecer todos os meios às famílias migrantes para que os membros distanciados permaneçam em comunicação e em comunhão – o que hoje é facilitado pelos meios de comunicação disponíveis, nomeadamente entre paróquias e dioceses. Este é um dos serviços pastorais que as paróquias podem e devem oferecer com alegria e imaginação aos migrantes: o amor entre os esposos, entre pais e filhos, entre irmãos, é um dom permanente de Deus que nada neste mundo, nem a separação geográfica, fará perigar, se estivermos atentos e formos criativos. A inclusão nas comunidades paroquiais e outras No campo da solicitude da Igreja pelas famílias, há um conjunto de iniciativas que visam concretamente as famílias migrantes, como seja a catequese dos mais novos (dada por catequistas especialmente preparados), a inclusão de formas próprias de celebração na liturgia habitual das comunidades chamadas, também deste modo, a acolher os migrantes, a integração de imigrantes nos órgãos coordenadores e animadores da vida paroquial e diocesana, a orientação da pastoral de jovens e das vocações para os migrantes mais novos… – são alguns exemplos de atitudes de uma pastoral familiar paroquial atenta e acolhedora. Apelo aos movimentos de espiritualidade e apostolado familiar Outro desafio que os migrantes colocam à pastoral familiar diz respeito aos movimentos conjugais e familiares. Temo-los bem vivos e empenhados na adesão de novos membros. Alguns promovem até uma dinâmica missionária e não raro vemos membros generosos a partir em missão familiar para territórios distantes. É necessário que estes movimentos se dediquem com especial solicitude às famílias migrantes – ou familiares que se encontram distantes da sua família – acolhendo-os, apoiando-os, evangelizando-os. Os movimentos familiares devem recorrer à sua flexibilidade e criatividade para irem ao encontro dos migrantes. Hoje, para fazer missão, já quase não é preciso ir longe: eles vieram ter connosco, estão aí, à distância de um quarteirão, ou até do andar do prédio. Em vez de tomar o avião, basta, muitas vezes, tocar na campainha de uma casa bem próxima. E aí estão famílias migrantes, geralmente separadas, a gritar (com gritos que só a fé e a caridade bem enraizadas conseguem ouvir) por ajuda fraterna, tão fácil de dar, pois na maior parte das vezes, basta abrir a porta e deixar entrar, escutar, partilhar um chá, aproximar o coração… Estes são alguns dos muitos desafios que os migrantes colocam a uma pastoral familiar aberta e criativa. Pe. José João Aires Lobato Vigário Geral Diocese Setúbal