Migrações: Arcebispo de Évora apela a acolhimento «planificado e cuidado», sublinhando que Igreja «não pode ficar fora deste desafio»

«Não nos devemos alarmar», assinala D. Francisco Senra Coelho, que pede «um acolhimento de qualidade»

Foto: Agência ECCLESIA/MC; D. Francisco Senra Coelho

Évora, 05 set 2025 (Ecclesia) – O arcebispo de Évora destacou que em Portugal há “reais necessidades de contar com os imigrantes”, que a “integração acontece, mas demora tempo”, e pede “acolhimento planificado e cuidado”, numa entrevista de balanço e projeção do Biénio Pastoral.

“Temos reais necessidades de contar com os imigrantes para superar a escassez de mão-de-obra, não só na construção civil, nas ferrovias ou nas rodovias, mas também no turismo e nos serviços básicos da própria saúde e do cuidado dos idosos e de pessoas com deficiência”, disse D. Francisco Senra Coelho, numa entrevista enviada hoje à Agência ECCLESIA pelo Departamento arquidiocesano de Comunicação.

O arcebispo de Évora assinala que na atualidade existem “localidades em despovoamento crescente, com pessoas muito idosas”, onde não há recursos para tratar dos próprios idosos, ou seja, “longe de inverter o envelhecimento e conter a descida populacional”, e refere-se a uma realidade que “dói socialmente, porque é necessário receber e conviver com outras culturas”.

“A Europa, por várias circunstâncias, chegou ao momento presente, concretamente, em Portugal, que é um dos países mais envelhecidos do mundo, porque houve opções políticas e sociais sem ter em conta o problema do despovoamento populacional e da desertificação, sobretudo no interior do país.”

D. Francisco Senra Coelho observa que a envolvência do mundo atual “gera também uma pressão sobre as fronteiras” com pessoas que veem nessa circunstância uma oportunidade de entrar na Europa, “e Portugal surge como uma das portas para este continente”, e perante essa pressão, “surgem medos e preocupações de segurança”.

O arcebispo de Évora salienta que é preciso “ter um acolhimento de qualidade”, porque não se traz as pessoas para Portugal e depois “fazer favelas à volta das cidades”, por isso, “o acolhimento tem de ser planificado e cuidado” para o número que são necessárias.

“Senão, seremos irresponsáveis. Ou seja, estamos a gerar pobreza sobre pobreza e provavelmente violência sobre violência”, acrescentou, refletindo sobre a forma de integração, uma vez que “a dificuldade maior hoje não é com os imigrantes que chegam, é com a segunda geração dos imigrantes, porque não foram inseridos, não foram formados, não houve para eles uma preocupação de instrução e de promoção humana integral”.

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Para D. Francisco Senra Coelho, as pessoas devem “viver tranquilamente”, “sem alheamentos, indiferenças e preconceitos”, porque a multiculturalidade e a multirracialidade são “a realidade de muitas sociedades”, e nessa circunstância é preciso ver uma oportunidade de crescer, “fazendo a experiência da paz e do convívio próprio dos valores cristãos”, e a integração “acontece, mas demora tempo”.

Segundo o responsável, explicando que este momento que se está a viver “é o pior”, quando muitos dizem que não precisam de imigrantes, “posições marcadas por ideologias que não atendem às reais necessidades do país e marcadas por desumanidade”.

“É muito importante que partamos do princípio que precisamos dos imigrantes. Temos de saber acolher ao nível humano, social e também espiritual. A Igreja não pode ficar fora deste desafio.”

O arcebispo de Évora realça que “há experiências maravilhosas” e que conheceu “muito de perto” enquanto sacerdote, quando acompanhou “comunidades imigrantes, nomeadamente nos Estados Unidos da América, em menor escala na Alemanha”, e como diretor espiritual mundial dos Cursilhos de Cristandade nos cinco continentes.

“Devo testemunhar que encontrei os portugueses integrados e felizes na quase totalidade das comunidades multiculturais, raciais e religiosas”, acrescentou D. Francisco Senra Coelho, na entrevista de balanço do Ano Pastoral 2024/2025, e projeção da segunda etapa do biénio ‘Peregrinos de Esperança’.

CB/OC

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