Migrações ao ritmo diocesano: o desafio do acolhimento

A presença dos imigrantes na realidade portuguesa é cada vez mais premente. Se é um facto que quem procura uma vida melhor, tenta realizar seu sonho nas cidades pensando serem locais de maior oferta, é certo também que o interior é o destino de muito imigrantes que chegam a Portugal. A realidade mundial aponta que cerca de 180 milhões sejam emigrantes. Na União Europeia contabilizam-se 13 milhões, oriundos de países de África e da América Latina. Em Portugal, cerca de 9% da população activa são imigrantes, na sua maioria provenientes dos países de leste, de África e do Brasil. Cerca de 4,5% da população portuguesa são imigrantes. O Pe Adriano Simões, do Secretariado das Migrações e Turismo da Arquidiocese de Évora aponta, numa entrevista ao jornal «a defesa», a importância de estarem preparados a nível diocesano para responder às muitas solicitações que recebem. A Igreja está muito atenta ao fenómeno das migrações. “E em especial quando os direitos humanos não são respeitados, a Igreja não pode permanecer indiferente”, explica o director do Secretariado de Évora. Agosto é o mês da mobilidade e há 36 anos que a Igreja dá especial atenção a esta franja populacional na Semana Nacional das Migrações. Uma atenção reconhecida pelos imigrantes, pois a Igreja é das instituições em que os imigrantes mais confiam. Também a nível diocesano essa confiança é visível. A Obra Católica Portuguesa das Migrações quer implementar, em todas as dioceses, a Festa dos Povos, para a plena integração e respeito pela diversidade cultural. A Arquidiocese de Évora vai já na quarta edição desta festa, que de ano para ano, aumenta o número de participantes. A diocese nota um aumento de imigrantes de origem brasileira, mas “uma diminuição de imigrantes dos países de leste”. De qualquer forma, é de registar a “alegria dos imigrantes”, explica o sacerdote. A Semana Nacional das Migrações, que teve início no passado dia 10 e se vai prolongar até ao dia 17, volta o seu olhar, este ano, para “Jovens Migrantes – protagonistas da Esperança”, tema que esteve na base da Mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial do Migrante e Refugiado de 2008. Segundo o Pe. Adriano Simões “os jovens estão mais abertos à situação difícil em que se encontram e desprendem-se das suas origens, indo à procura de melhores condições de vida”. O que se verifica é uma procura de alargar horizontes onde “muitos jovens que vêm para a Europa estudar de forma a que a formação que adquiram possam aplicar nos seus países de origem” O director do Secretariado das Migrações e Turismo da Arquidiocese de Évora explica que também os jovens estão no centro das preocupações eclesiais. “A sua realidade, o seu desejo de se integrarem na sociedade que os recebem, sem que isso leve à perda dos valores próprios”, traduz. Em Évora, os imigrantes dispõem do secretariado diocesano que mantém a funcionar “activamente um centro técnico de resposta a imigrantes”. Na arquidiocese foram também criados Centros Locais de Apoio à Integração de Imigrantes (CLAII), que dependem do ACIDI, numa parceria com o secretariado diocesano das migrações. Mas porque a plena integração pede o respeito pela diversidade, na arquidiocese estão sacerdotes ortodoxos a acompanhar as comunidades de imigrantes de leste. O Pe. Ivan dá apoio aos Católicos de rito greco-romano e, explica o Pe. Adriano Simões, estão dois seminaristas polacos, do mesmo rito, a frequentar o Seminário Menor da cidade. “É uma opção simpática virem para a nossa Arquidiocese enriquecer a sua formação”, acrescenta. Para que os diocesanos possam viver a Semana Nacional das Migrações, foram distribuídos todos os subsídios da Obra Católica Portuguesa de Migrações relativamente à Semana Nacional e à Peregrinação Internacional a Fátima. “Há propostas para a celebração litúrgica e propostas de sensibilização para que a Igreja esteja cada vez mais atenta à situação dos migrantes, não descurando a vivência da fé desses imigrantes, ajudando-os na sua integração e dando oportunidade, nos casos possíveis, de terem celebrações no seu rito”, como já acontece na arquidiocese. Numa análise social, o Pe. Adriano Simões manifesta o seu agrado na preocupação que o Estado demonstra com os imigrantes. “Tem havido evolução nessa atenção”, aponta, destacando o Plano para a Integração dos Imigrantes, com 120 medidas, uma responsabilidade da Assembleia da República. O sacerdote recorda que desde Maio de 2007 registaram-se 12 mil legalizações, “o que representa que um caminho está a ser feito, com destaque para o papel do ACIDI – Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural que trabalha com o objectivo de estabelecer um diálogo inter-cultural com todos aqueles que nos procuram”, um tema que percorre todo o ano de 2008. O caminho de acolhimento e integração deve ser partilhado entre Estado e Igreja. O Pe. Adriano Simões enfatiza o seu desejo de que os “emigrantes e os imigrantes encontrem nas comunidades onde vivem, uma Igreja que seja cada vez mais acolhedora e uma sociedade que não feche portas nem corações, para que vivam em clima verdadeiramente fraternal, retirando tudo o que são obstáculos para uma integração que não seja assimilação, mas que mantenham os seus valores próprios”.

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Agência ECCLESIA

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