Diretor do Serviço Jesuíta aos Refugiados em Portugal lembra povo rohingya que deve «ter os seus direitos reconhecidos»
Lisboa, 28 nov 2017 (Ecclesia) – O diretor do Serviço Jesuíta aos Refugiados em Portugal espera que a visita do Papa a Myanmar e ao Bangladesh ajude a lançar “luz” sobre a situação do povo rohingya, que segundo as Nações Unidas tem sido sujeito naquele território a uma autêntica limpeza étnica.
Em entrevista ao Programa ECCLESIA, transmitida a partir das 15h00, na RTP2, André Costa Jorge realça “um assunto que tem preocupado muito a comunidade internacional e a Igreja Católica”, e instituições como a Cáritas e o próprio Serviço Jesuíta aos Refugiados”.
“O nosso último relatório sobre esta população é extremamente grave nas questões que toca, concretamente a situação das mulheres e das crianças. Há muitas famílias cujos membros foram eliminados, há crianças sozinhas, há pais também sem os seus filhos, há mulheres em situação de grande vulnerabilidade”, alerta aquele responsável.
De acordo com o Alto Comissariado da ONU para os refugiados, cerca de 650 mil refugiados rohingya do Estado Rakhine, em Mianmar, fugiram para Bangladesh nos últimos meses.
As duas nações estão no centro da crise humana que atinge a minoria rohingya, vistos pela população maioritariamente budista de Mianmar como imigrantes ilegais do Bangladesh.
“Estamos a falar de uma população que não é reconhecida em Mianmar, a antiga Birmânia, que ao longo dos últimos anos, das últimas décadas, tem sido esquecida pela comunidade internacional. Sabemos também que nestas zonas do mundo os direitos humanos são muitas vezes maltratados e estas pessoas vivem uma situação de grande fragilidade”, reforça André Costa Jorge.
Para aquele responsável, a visita do Papa Francisco àqueles territórios é essencial, numa altura em que “esta crise atingiu um ponto de extrema gravidade”.
“A visita do Papa tem esta missão de alertar a comunidade internacional, é a sua missão também no mundo, de sinalizar esta dimensão humanitária, sinalizar que os rohingya são pessoas de pleno direito”, aponta frisa o diretor do JRS – Portugal.
Ao mesmo tempo, importa salientar que os Estados, Mianmar no caso, e também o Bangladesh, são corresponsáveis” na busca de “soluções para uma população que tem sido muito maltratada”, que “nem sequer vê reconhecida a sua língua, a sua cultura”.
“Talvez esta visita ajude a senhora Aung San Suu Kyi a tomar uma posição mais firme na defesa dos Direitos Humanos, porque aqui o que se trata é de pessoas que têm que ver os seus direitos reconhecidos” e que devem ser “integradas na sociedade”, salienta André Costa Jorge.
Mianmar é desde segunda-feira a primeira paragem desta viagem pontifícia à Ásia, que se prolonga até 2 de dezembro, passando pelo Bangladesh.
Para aquele responsável, é importante que as condições em que as pessoas vivem nos campos de refugiados – os rohingya vivem naquele que é considerado pela ONU o maior campo de refugiados do mundo – sejam melhoradas e que essas pessoas possam vir a regressar aos seus territórios de origem.
HM/JCP