Mianmar: D. Celso Ba Shwe agradeceu ao Papa Francisco que «continua a lembrar ao mundo o sofrimento e a orar» pelo país asiático

«As pessoas sofrem, resistem; precisamos de um alvorecer de nova esperança», afirma bispo de Loikaw

Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 16 abr 2024 (Ecclesia) – O bispo de Loikaw em Mianmar, deslocado interno no país, alerta para a persistência da guerra, assumindo a preocupação da Igreja Católica com a “situação social e política”, que tem merecido a atenção do Papa.

“Cristo ressuscitou para nós também, vejo luz nos rostos das pessoas que sofrem e isso consola-me. Não percamos a esperança porque é Deus quem a dá a nós. As pessoas sofrem, resistem e têm esperança. Mas precisamos de um alvorecer de nova esperança. Agradecemos ao Papa Francisco, que continua a lembrar ao mundo nosso sofrimento e a orar por nós”, disse D. Celso Ba Shwe à Agência ‘Fides’, do Vaticano.

Francisco lembrou, na sua mensagem pascal, o impacto da guerra “longa e devastadora” em vários países, nomeadamente em Mianmar, antes da bênção ‘Urbi et Orbi’ [à cidade (de Roma) e ao mundo], no dia 31 de março.

Há mais de três anos, no dia 1 de fevereiro de 2021, um golpe militar derrubou o governo democrático liderado por Aung San Suu Kyi e devolveu o poder ao exército; Aung San Suu Kyi foi detida pela primeira vez em 1989, depois de ter participação em protestos contra a liderança militar no poder na antiga Birmânia, em 1990, ganhou o Prémio Sakharov de liberdade de pensamento da União Europeia (UE), e no ano seguinte, foi galardoada com o Prémio Nobel da Paz, em 1991.

“Não podemos continuar com uma guerra interna por tanto tempo. A nação e toda a população sairão prostradas, enfraquecidas, aniquiladas. É necessário agora encontrar uma saída, iniciar caminhos de negociação, diálogo e reconciliação. Estamos muito preocupados com a situação social e política, o tecido social está dilacerado, as pessoas estão confusas e desorientadas”, assinalou o bispo de Loikaw.

D. Celso Ba Shwe é um deslocado interno, está a viver na Paróquia de Soudu, um vilarejo da sua Diocese de Loikaw, desde a catedral e o centro pastoral foram ocupados pelo exército birmanês, em novembro de 2023, e que agora são uma base militar.

“Há pessoas deslocadas por toda a parte, a violência campeia, a cidade de Loikaw agora está ocupada apenas pelas forças de combate, ou seja, os soldados e as milícias da oposição. Estamos testemunhando uma morte lenta, dia após dia, de nossa bela nação. Estamos realmente cansados com tudo isso. Oramos a Deus para que abra um caminho de paz, pois não podemos continuar assim”, explicou.

Para o bispo de Loikaw, esta experiência deu-lhe a oportunidade de estar mais perto do povo, mais perto das pessoas, que “têm tanta necessidade de consolo e solidariedade”, e adianta que na paróquia de Soudu “a vida pastoral ainda é possível”, mais de metade das igrejas da diocese estão fechadas e vazias, “porque os fiéis fugiram”.

Os responsáveis da Igreja Católica em Mianmar manifestam também preocupação com a situação económica, o aumento dos preços e a escassez de produtos básicos resultam em miséria e desnutrição generalizadas.

Segundo a ONU, há mais de 2,6 milhões de pessoas deslocadas internas na antiga Birmânia, um número que continua a aumentar, e o plano de emergência das Nações Unidas para Mianmar precisa de um financiamento de um bilhão de dólares para apoiar mais de cinco milhões de pessoas no território, informa o portal ‘Vatican News’.

A presidente executiva internacional da Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), Regina Lynch, disse, no início deste ano de 2024, que a Ásia é um dos continentes que preocupam esta fundação pontifícia porque “há problemas em muitos países”, onde vão continuar a apoiar projetos”, como Mianmar, com o “agravamento da violência e a situação humanitária”.

CB/OC

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Agência ECCLESIA

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