Cardeal Charles Maung Bo «via-sacra» sob o domínio da junta militar, no século XX
Lisboa, 27 nov 2017 (Ecclesia) -O Papa Francisco é desde hoje o primeiro pontífice a visitar Mianmar em mais de 500 anos de presença cristã na antiga Birmânia, onde os primeiros missionários chegaram de Goa pela mão dos portugueses.
O cardeal Charles Maung Bo, arcebispo de Rangum, recorda à Rádio Vaticano essa primeira missionação, no século XI, por causa dos “contactos comerciais com Goa”.
“Inicialmente, a vida dos cristãos era difícil. Uma vez foram mortos alguns leigos e quatro sacerdotes, enquanto os sobreviventes se refugiaram na parte central do país; essa comunidade é ainda próspera”, refere o primeiro cardeal de Mianmar.
Os missionários católicos voltaram nos séculos XVIII e XIX, mas a presença católica deriva sobretudo dos descendentes de soldados e comerciantes portugueses, conhecidos hoje como bayingyis.
James Swe, um birmanês católico radicado no Canadá há 42 anos, escreveu um livro sobre a presença portuguesa na Birmânia, que vai ser publicado em português no próximo ano.
“Todos os católicos são descendentes dos portugueses. Mesmo o primeiro cardeal da Birmânia, Charles Bo, é descendente deles. O catolicismo é uma parte fundamental da nossa cultura, somos muito conservadores”, disse em entrevista à Rádio Renascença.
O século XX foi uma “via-sacra” para os cristãos, segundo D. Charles Maung Bo, em particular após a independência e a ascensão ao poder da junta militar.
“Todos os bens da Igreja foram nacionalizados, os missionários foram expulsos. De um dia para a outro, a Igreja viu-se, literalmente, no meio da rua”, diz o cardeal.
Hoje os católicos são 660 mil (1,27% da população), segundo os últimos dados do Vaticano, e há 384 paróquias no país; os 500 anos de evangelização foram celebrados em 2014.
A Igreja Católica tem 16 secretariados da Cáritas, com 800 pessoas empenhadas nesta missão social, em particular na resposta a tragédias naturais e na ajuda aos refugiados.
A Cáritas de Mianmar alerta para os conflitos militares e étnicos, que deixaram o país exposto “à exploração, particularmente ao tráfico humano”.
O Bangladesh e o Mianmar assinaram na última semana um acordo para o repatriamento de mais de 620 mil membros da minoria ‘rohingya’ que fugiram da violência em território birmanês para aquele país.
A confederação internacional da Cáritas apresenta, online, uma reportagem nos campos de refugiados que acolhem estas populações.
OC