México: Francisco exige «coragem» da Igreja no combate à violência e narcotráfico

Papa encontrou-se com bispos mexicanos e disse que «não podia» deixar de visitar terra de Nossa Senhora de Guadalupe

Cidade do México, 13 fev 2016 (Ecclesia) – O Papa encontrou-se hoje com os bispos católicos do México, a quem pediu “coragem” na luta contra o tráfico de drogas e a violência, num discurso inspirado pela imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, de quem se confessou devoto.

“Peço-vos que não subestimeis o desafio ético e anticívico que o narcotráfico representa para a juventude e toda a sociedade mexicana, incluindo a Igreja”, apelou, na Catedral da Assunção, na Cidade do México.

Num longo discurso, Francisco alertou para a dimensão destes fenómenos, a complexidade das suas causas e a “imensidão” da sua extensão, “como metástase devoradora”.

“A gravidade da violência”, acrescentou, não permite que a Igreja se refugie em “condenações genéricas”.

Nesse sentido, o Papa pediu “uma coragem profética e um projeto pastoral sério e qualificado” para enfrentar a situação.

A intervenção deixou uma advertência a quem “diante de Deus terá as mãos sempre manchadas de sangue, mesmo que tenha os bolsos cheios de dinheiro sórdido e a consciência anestesiada”.

Francisco chegou ao local após um percurso de papamóvel entre os fiéis reunidos na Praça da Constituição, tendo recebido as chaves da cidade da capital mexicana das mãos de Miguel Ángel Mancera, chefe do Governo da Cidade do México, numa breve cerimónia.

O Papa abençoou e beijou uma pessoa em cadeira de rodas, que foi levantada pela multidão, já depois de ter recebido mais um ‘sombrero’ tradicional.

“Sede bispos de olhar límpido, alma transparente, rosto luminoso; não tenhais medo da transparência; a Igreja não precisa da obscuridade para trabalhar”, disse aos prelados das 95 dioceses mexicanas que servem mais de 110 milhões de católicos, segundo dados do Vaticano.

“Não percais tempo e energias nas coisas secundárias, nas críticas e intrigas, em projetos vãos de carreira, em planos vazios de hegemonia, nos clubes estéreis de interesses ou compadrios”, advertiu ainda, exigindo frontalidade, comunhão e unidade no episcopado, no qual não há espaço para "príncipes".

A intervenção recordou a situação dos povos indígenas e as suas “massacradas culturas”.

“O México tem necessidade das suas raízes ameríndias, para não ficar um enigma sem solução”, sustentou.

Francisco pediu que a Igreja Católica no país saiba “proteger o rosto dos homens que vêm bater à sua porta” e entender os seus sofrimentos, oferecendo uma resposta de “ternura”, a partir da imagem de Nossa Senhora de Guadalupe.

“Não podia deixar de vir! Poderia o Sucessor de Pedro, chamado do profundo sul latino-americano, privar-se da possibilidade de pousar o olhar na ‘Virgem Morenita’?”, confessou.

As aparições do século XVI ao indígena São Juan Diego mostram, segundo o Papa, que “a única força capaz de conquistar o coração dos homens é a ternura de Deus”.

Nesse sentido, citou o poeta mexicano Octávio Paz para dizer que em Guadalupe há “um regaço no qual os homens, sempre órfãos e deserdados, buscam um abrigo, um lar”.

“O regaço da fé cristã é capaz de reconciliar o passado marcado muitas vezes por solidão, isolamento e marginalização, com o futuro continuamente relegado para um amanhã que escapa”, acrescentou, após evocar a história de perseguições religiosas no país.

O Papa alertou para os desafios levantados pelas migrações, pelos problemas dos jovens e da “periferia humana e existencial” das cidades.

Francisco convidou os bispos mexicanos a estreitar a colaboração com o episcopado dos Estados Unidos da América, ajudando assim os emigrantes.

O pontífice argentino pronunciou ao longo de mais de 40 minutos todo o discurso que tinha preparado, apesar de ter parecido afetado pelo cansaço, o frio e a altitude, ao chegar à Catedral.

No final deste encontro, Francisco dirige-se para a sacristia maior a fim de cumprimentar o comité organizador da visita e alguns representantes de outras confissões cristãs.

O próximo compromisso oficial do Papa está marcado para o final da tarde (23h00 em Lisboa), quando Francisco vai cumprir o seu desejo de visitar a Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe e ali presidir à Missa.

OC

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Agência ECCLESIA

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