A comunidade de AA não é um método de tratamento, mas um modo simples e exigente de melhorar a vida e a saúde Foi um encontro incrível em sala cheia de pessoas a falar sobre as suas reuniões semanais em todo o país, e de como mudaram a sua vida e como as podiam oferecer essas reuniões a outros. Uma espécie de fórum de marketing de um produto incrível a preços sem concorrentes possíveis. Histórias de como funcionam, em Portugal, os seus cerca de 90 grupos em mais de 140 reuniões semanais e como eles os ajudaram a sair do caos de uma vida que parecia sem solução. Ora vejam. Oitenta chamados alcoólicos, não bêbados, nem consumidores de álcool, à procura de métodos de partilhar a sua vida sóbria e de novo a ficarem direitos. Uns tinham passado por centros de tratamento outros até se recuperaram só com a ajuda das reuniões, sem médicos nem medicamentos. Uma senhora até dizia que é um espanto para alguns médicos de família como tinham deixado de beber sem passar por clínicas. Isso não era de esperar nem parecia possível. Mas o facto até tem levado não poucos profissionais a enviar os seus clientes para esses grupos. Os grupos vão contagiando as localidades onde se reúnem, simplesmente porque a mensagem é levada de boca em boca por pessoas que são prova viva de que o método funciona mesmo sem protagonismos de penachos culturais ou económicos. Mas mais que isso. O método fica extremamente em conta pois é gratuito e nenhum outro o pode bater em preço. E a sua eficácia está acima dos 50%. Mas o mais estranho é que o modelo funciona sem presidentes, autoridades, direcção; nem recebe subsídios de fora vivendo apenas das contribuições voluntárias dos seus membros, nem apoia, promove ou defende outras causas que não seja o propósito das suas reuniões para os que nelas participam com o único objectivo de se manterem sóbrios, ou seja, sem consumir bebidas alcoólicas. Mas ainda não é todo o seu segredo. Acontecem nas reuniões coisas estranhas que ninguém acreditaria à primeira. Nelas ninguém ensina nada a ninguém; cada um só fala de si mesmo, da sua vida de quando se encharcava de álcool e do depois. E fala como quem está a dar uma lição, imaginem, a si mesmo. Ninguém responde ou reage ao que os outros dizem. Nem faz perguntas. Que método tão estranho! Se algum aprende alguma coisa, aprende do que os outros ensinam a si mesmos. Mas só aprende se praticar nos intervalos das reuniões. Contudo ninguém é obrigado a falar, nem a estar na sala. Ninguém é obrigado a ir às reuniões mas estão continuamente a dizer que precisam de ir e que não bebem “agora” por lá irem. Como é que um programa assim tem crescido desde 1935 em que começou e como é que já reúne semanalmente cerca de três milhões de cidadãos em quase todo o mundo. Para o leitor desprevenido acrescento que estou a falar das Alcoólicos Anónimos (AA), que adoptaram esta “marca” no seu “produto” para evitar o risco do protagonismo e salvaguardar a eficácia da recuperação pela humildade espiritual. No seu modelo só reconhecem como autoridade, um Poder Superior, Deus como cada um o entende, que está acima de todos, e que se expressa na consciência colectiva do grupo, onde o direito de opinião é igual para o membro mais antigo, como para o recém-chegado.