D. Manuel Pelino, Bispo emérito de Santarém

Tempos atrás o mês de Novembro, designado popularmente como “mês da almas”, despertava em nós o sentido do além e convidava-nos a viver a esperança e a preparação do mundo que há-de vir. Hoje esta mensagem parece estranha numa cultura superficial, centrada no presente e absorvida pelas esperanças terrenas a curto prazo. Mas não é sensato esquecer a meta para onde se orienta. Para onde caminhamos? Qual o sentido da vida? O ano jubilar da esperança que estamos a celebrar em 2025 é um convite a termos presente a dimensão da vida eterna como horizonte da nossa peregrinação pelo mundo.
A perspetiva da vida eterna é afirmada logo no diálogo do batismo. “Que vens pedir à igreja?”, pergunta-se aos pais ou ao candidato adulto ao batismo. E responde-se “a fé”. De novo se pergunta: “e para que te serve a fé?”. E responde-se: “para alcançar a vida eterna”. Sem a esperança na vida eterna, os enigmas da vida e da morte, do pecado e da dor ficam sem solução e a vida terrena sem sentido, diz o Papa Francisco na Bula de proclamação do jubileu (n.19). A esperança na vida eterna fundamenta-se na ressurreição de Jesus: “Ressuscitando de entre os mortos, Deus fez-nos renascer para uma esperança viva” (1 Pe. 1, 3-4). Pela ressurreição o tempo entra na eternidade. O Papa Francisco, na referida Bula, lembra que os cristãos nos primeiros séculos construíam a pia batismal em forma octogonal, como vemos ainda na basílica de São João de Laterão, em Roma. Esta forma indica que na fonte batismal se inaugura o “oitavo dia”, o dia da ressurreição, que ultrapassa o ritmo habitual dos sete dias, abrindo o ciclo do tempo à eternidade. Deixa de haver sucessão de dias e entra-se na plenitude da vida, sem espaço nem tempo. Se entendêssemos a eternidade como uma sucessão interminável de dias no mesmo espaço. seria uma monotonia aborrecida sem interesse.
“Que o Deus da esperança vos encha de completa alegria e paz, para que transbordeis de Esperança pela força do Espírito Santo” (Rm. 15, 13). A esperança dá qualidade à vida, gera em nós a paz, ilumina as tribulações, faz andar em frente, sorrindo e irradiando alegria. Como diz o livro de Isaías, os que confiam no Senhor renovam as suas forças: “Até os meninos se fatigam e cansam, os jovens tropeçam e caem, mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças, criam asas como as águias, correm e não se fatigam, podem andar que não se cansam” (Is 40, 30-31).
O mês de Novembro, que inicia com os dias de “Todos os Santos” e dos “Fiéis Defuntos” e mostra a própria natureza adormecida pelas noites longas, pela vinda do frio e pelas árvores despidas das folhas das árvores, é uma oportunidade para cultivar a esperança na vida que não acaba mas apenas se transforma.
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