Mensagem Quaresmal do Bispo do Algarve

«Vós sois o sal da terra… vós sois a luz do mundo! (cf Mt 5, 13-16)» Meus caros diocesanos, 1. Seguindo o ritmo celebrativo que a Liturgia nos proporciona, iniciamos, em Quarta-feira de Cinzas, o tempo da Quaresma. Um tempo propício para acolhermos o convite à conversão e à mudança de vida, com o objectivo de adequarmos o nosso ser e o nosso agir a Cristo e ao Evangelho, certos de que a verdade do nosso caminho quaresmal deve levar-nos à partilha do que somos e do que temos com os mais necessitados. Vamos percorrer juntos, meus caros diocesanos, este caminho espiritual, que nos conduzirá a celebrar e a reviver o mistério da morte e da ressurreição de Cristo. Queremos, ao longo desta peregrinação, intensificar a nossa oração como resposta a uma escuta mais assídua e mais atenta da Palavra de Deus, em sintonia com o nosso Programa Pastoral, inspirado no apelo de Maria: “fazei o que ele vos disser”. Escuta que nos proporcione um encontro pessoal com Cristo, seguindo a tradição da lectio divina de modo a acolhermos a leitura bíblica como palavra viva que interpela, orienta e plasma a existência (cf João Paulo II, NMI 39). 2. Este ano, ponho à vossa consideração duas imagens de que Jesus se serviu para caracterizar os seus discípulos: Vós sois o sal da terra! (…) Vós sois a luz do mundo! (Mt 5,13.14). Esta intervenção de Jesus é apresentada no contexto do sermão da montanha (cf Mt 5-7), indicativo de que o espírito das bem-aventuranças deve estar presente na vida e no testemunho dos seus discípulos. É próprio do sal temperar, dar sabor, preservar da corrupção própria e alheia, o que só acontece se misturado e diluído nos elementos sobre os quais actua. Ora, se o sal se corromper… não serve para mais nada (Mt 5,13). É próprio da luz iluminar, nortear, serenar, desfazer medos e temores. Para tal, a luz deve colocar-se em lugar elevado e sem obstáculos. Não se acende uma lâmpada para a colocar debaixo do alqueire (Mt 5,15). A perda das propriedades atribuídas ao sal e à luz, acontece na vida dos discípulos de Cristo, sempre que a escuta da Palavra não conduz à identificação com Ele e a um compromisso efectivo no testemunho dos valores do Reino. O tempo da Quaresma traz consigo o convite a superar o comodismo, a instalação e a mediocridade; a deixar uma prática religiosa feita de gestos rituais vazios; a recuperar as propriedades do sal que dá sabor ao mundo e testemunha a actualidade perene da salvação operada por Cristo; a reacender em nós a luz pascal, luz que vence a escuridão provocada por todas as formas de sofrimento, de medo e de morte, e conduz a acolher e a testemunhar a esperança e a alegria de Cristo ressuscitado e a glória de Deus: brilhe a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus (Mt 5,16). A conversão pessoal a Cristo, como meio para conseguir uma maior identidade cristã, vivida com fidelidade e autenticidade em todas as situações da vida, é um dos pressupostos para correspondermos ao convite que Bento XVI deixou à Igreja em Portugal, na recente visita ad limina: “é preciso mudar o estilo de organização da comunidade eclesial portuguesa e a mentalidade dos seus membros para se ter uma Igreja ao ritmo do Concílio Vaticano II”. Caminhar, em Igreja, ao ritmo conciliar significa caminhar ao ritmo do amor que brota da cruz e da ressurreição de Cristo; deixar-se envolver pelo dinamismo da sua doação; curar as feridas provocadas pelo desrespeito da dignidade da pessoa humana; ser sinal da misericórdia, da compaixão e da ternura de Cristo. 3. O caminho de conversão pessoal percorrido ao longo da Quaresma, inclui a partilha fraterna, fruto da renúncia quaresmal, destinada a ir ao encontro dos mais necessitados. A mensagem quaresmal de Bento XVI, este ano sobre a esmola, convida-nos a ver esta partilha, não como simples filantropia mas como expressão concreta da caridade, “que exige a conversão interior ao amor de Deus e dos irmãos, à imitação de Jesus Cristo, que, ao morrer na cruz, Se entregou totalmente por nós. (…) Todas as vezes que por amor de Deus partilhamos os nossos bens com o próximo necessitado, experimentamos que a plenitude de vida provém do amor e tudo nos retorna como bênção sob forma de paz, satisfação interior e alegria. O Pai celeste recompensa as nossas esmolas com a sua alegria. Mais ainda: S. Pedro cita, entre os frutos espirituais da esmola, o perdão dos pecados. ‘A caridade – escreve ele – cobre a multidão dos pecados’ (1 Pd 4, 8). (…) A esmola, aproximando-nos dos outros, aproxima-nos também de Deus e pode tornar-se instrumento de autêntica conversão e reconciliação com Ele e com os irmãos”. O ano passado a nossa renúncia quaresmal (30.217,61€) reverteu a favor da comunidade do Vicariato da Pedra Mourinha, Portimão, empenhada em construir o seu Centro Pastoral. Esta comunidade testemunha a toda a Diocese o seu reconhecimento por esta partilha, e manifesta a sua alegria pelos espaços já conseguidos nesta primeira fase do conjunto da obra projectada. Este ano, tendo em conta a alternância que temos vindo a assumir nos destinatários da renúncia quaresmal, vamos apoiar a Paróquia de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, da Diocese de Viana, recentemente desmembrada de Luanda (05.07.2007). Esta Paróquia, criada há quatro anos, conta com 450 000 habitantes, dos quais à volta de 40 000 são católicos, distribuídos por cerca de 40 comunidades, numa superfície de 350km2. A ajuda pedida destina-se a apoiar a formação de agentes de pastoral (catequistas, jovens, casais, animadores de comunidades…) e a construção de diversas estruturas de apoio à evangelização e à promoção humana e social. Quero convidar-vos, meus caros diocesanos, a correspondermos todos, de forma solidária e generosa, a este pedido que nos chega de uma Diocese jovem, para atendermos às necessidades de uma das suas comunidades cristãs. Que Maria, cuja Imagem Peregrina percorre a nossa Diocese, nos guie neste itinerário quaresmal, caminho de conversão autêntica ao amor de Cristo e meio de participação plena na alegria da Ressurreição. Faro, 01 de Fevereiro de 2008 † Manuel, Bispo do Algarve

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Agência ECCLESIA

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