Mensagem quaresmal do Bispo de Leiria-Fátima

Quaresma ecológica

1. Para uma ecologia espiritual

Na Quarta-feira de Cinzas, nós, os cristãos entramos em Quaresma. É um tempo de interioridade de 40 dias que prepara a festa da Páscoa, a celebrar de coração purificado e renovado.

Reveste a forma de um retiro, pessoal e comunitário, de um itinerário espiritual para pôr ordem na confusão, para estabelecer relações transparentes, justas e fraternas, para saborear o repouso e o silêncio meditativos afinando os critérios de vida pelo Evangelho. Numa palavra, para experimentar a existência autêntica que nos dá a felicidade.

Assim entendida, a Quaresma adquire a tonalidade de uma verdadeira ecologia do espírito. Como diz o Santo Padre Bento XVI: “ Tal como existe uma poluição atmosférica que envenena o ambiente e os seres vivos, assim existe uma poluição do coração e do espírito que mortifica e envenena a existência espiritual”. Nós e o nosso mundo temos necessidade de uma ecologia espiritual para regenerar as nossas energias espirituais e morais.

Para isso, a pedagogia da Quaresma sugere-nos três exercícios espirituais clássicos: a oração, como escuta de Deus; o jejum, como sobriedade de vida e de consumo; e a esmola, como partilha fraterna. São três palavras-atitudes a gravar no nosso coração, como verdadeiro caminho para uma ecologia espiritual que nos permita respirar o ar puro do espírito, que é o amor na verdade, e crescer na abertura a Deus e aos outros.

 

2. “Viver em comunhão na Igreja”: retiro espiritual do povo de Deus

Porém, é na escuta mais frequente da Palavra de Deus que melhor se exprime o espírito da Quaresma. Com efeito, a Palavra desperta a fé, suscita a vontade de conversão, propõe o significado do mistério pascal de Cristo para nós hoje, provoca o diálogo da oração, gera a comunhão na Igreja e no mundo.

O presente Ano Pastoral  é dedicado a descobrir a beleza da Igreja de Jesus como mistério de comunhão de Deus com os homens e dos homens entre si e a promover a comunhão e a corresponsabilidade em cada comunidade cristã. Para isso é necessário, antes de mais, cultivar a espiritualidade da comunhão como dom de Deus que purifica e liberta todas as nossas relações do egoísmo e do individualismo, da indiferença e da divisão, e nos abre o coração à universalidade do amor e do serviço.

Neste sentido, continuamos a propor o “retiro do Povo de Deus”, intitulado “Viver em comunhão na Igreja”, sob a forma da leitura orante e familiar da Palavra de Deus (lectio divina) em pequenos grupos. Peço aos párocos o melhor empenho na sua preparação e promoção. E faço votos de uma participação cada vez maior.

Este retiro contribui para a ecologia das relações interpessoais, familiares e comunitárias.

 

3. Fraternidade e entreajuda: a renúncia quaresmal

O Santo Padre lembra-nos uma outra dimensão da Quaresma na sua mensagem para este ano, sobre a justiça, o amor e a reconciliação. Aí afirma: “Fortalecido por esta experiência (do Amor que recebe de Deus), o cristão é levado a contribuir para a formação de sociedades justas, onde todos recebem o necessário para viver segundo a dignidade própria da pessoa humana  e onde a justiça é vivificada pelo amor”.

É um chamamento à justiça como virtude pessoal e social. Mas não basta a justiça para construir uma sociedade fraterna. Torna-se necessária a gratuidade do dom, do amor, da partilha, da entreajuda. Este aspecto dá uma maior actualidade à Quaresma cristã neste “Ano de combate à pobreza e à exclusão social”.

Assim, por decisão do conselho presbiteral, a colecta da renúncia quaresmal é destinada à reconstrução do povo e da Igreja do Haiti, devastados pela catástrofe do recente terramoto.

Também este gesto é expressão da ecologia espiritual da justiça e da fraternidade.

 

4. Peregrinação da esperança: acolher o Papa peregrino de Fátima

Um outro gesto da caminhada quaresmal é a tradicional Peregrinação Diocesana a Fátima, no próximo dia 21 de Março.

Uma peregrinação é uma longa oração feita porventura a pé e com os pés. Mas é sobretudo uma experiência espiritual no mais profundo de nós mesmos. É-se peregrino antes de mais com a mente e com o coração em ordem a um encontro libertador com Deus. Na peregrinação, tudo começa por um pôr-se a caminho, por um despertar espiritual em resposta a um apelo ou impulso divino.

A peregrinação diocesana é uma marcha solidária de um povo de peregrinos que caminham juntos ao encontro da Mãe do Bom Conselho para com ela renovarem a sua fé, fazerem a revisão de vida, saborearem a experiência viva daquela comunhão que constitui o coração da Igreja.

Em Maio será o próprio Papa que virá em peregrinação a Fátima, como Sucessor do Apóstolo S. Pedro, que preside à caridade e à comunhão da Igreja universal.

“Quando o Papa se faz peregrino, na qualidade de Pastor universal da Igreja, é toda a Igreja que peregrina com ele. Por isso, esta sua peregrinação reveste um grande significado pastoral, doutrinal e espiritual”, afirmam os bispos em nota pastoral. A este aspecto acresce a feliz coincidência com o décimo aniversário da beatificação dos pastorinhos e o centésimo aniversário do nascimento da beata Jacinta.

Nós, diocesanos de Leiria-Fátima, somos os primeiros anfitriões de tão ilustre e estimado peregrino. Queremos pois acolhê-lo com alegria, entusiasmo e devoção filial. O melhor testemunho do nosso afecto e acolhimento será a participação nas celebrações de 12 e 13 de Maio, dando assim expressão viva ao lema escolhido para a visita do Papa a Portugal: “Contigo, caminhamos na esperança”.

Vamos colocar, desde já, o feliz êxito desta peregrinação do Santo Padre na nossa oração pessoal e na oração universal dos fiéis em cada domingo: “Para que a próxima peregrinação do Santo Padre a Fátima ajude a reavivar a fé, a animar a esperança, a dinamizar a caridade e a fortalecer a nossa comunhão, oremos ao Senhor”.

Nossa Senhora de Fátima, Mãe da confiança e Estrela de esperança, nos acompanhe no caminho da conversão quaresmal!

+ António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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