Mensagem quaresmal do bispo da Guarda

“Criar proximidade para construir comunidade”

“A Quaresma é tempo forte de revisão e renovação da vida pessoal e comunitária. São 40 dias de retiro proposto a toda a Igreja para concentrar a atenção no cerne da vida em Cristo, que é, de facto, o amor de Deus revelado e oferecido a toda a criatura. A Quaresma constitui, assim, a grande oportunidade que nos é dada para relançarmos a nossa vida de Fé, procurando principalmente cuidar a partilha, o silêncio e o jejum, sempre na esperança de saborearmos as alegrias da Páscoa.

Há urgências que a Quaresma nos lembra e uma delas é a de darmos a devida atenção uns aos outros, prestando a cada um os cuidados de que ele necessita e sobretudo criando condições para que cada um possa realizar as suas capacidades, no processo de construção da sociedade em que todos têm o direito e o dever de participar.

Por sua vez esta atenção que cada um deve ao seu próximo exige que se cultive sempre a proximidade, a qual não é só proximidade física, mas também moral e espiritual, incluindo a relação com Deus e o Sobrenatural. Ao falarmos de proximidade moral, queremos dizer que, sempre no respeito pela liberdade de consciência de cada um, ninguém pode desinteressar-se de ajudar o próximo a percorrer os caminhos do bem e a recusar os caminhos do mal.

Promover a verdadeira distinção entre o bem e o mal e estimular as pessoas a fazerem o bem é cumprir um imperativo evangélico, mas também assumir com determinação uma responsabilidade social.

A proximidade e o interesse pelo outro pede ainda que todos estejamos abertos à prática da autêntica correção fraterna. De facto, só podemos progredir em todos os aspetos da nossa vida, aceitando ajuda dos irmãos e oferecendo-lhes também a nossa ajuda.

Por outro lado, no exercício da sua responsabilidade social, o cristão é obrigado, em nome de Cristo e do Evangelho, a denunciar a cultura sempre que ela se faz condescendente com o mal (cfr. Ef. 5,11). Temos, por isso, que assumir a coragem de recusar mentalidades e comportamentos, que, reduzindo a vida humana à sua dimensão material, aceitam qualquer opção moral em nome da liberdade individual. Opções desta natureza, para além de serem contra a moral, só podem conduzir á ruina da própria sociedade.

A autêntica vida comunitária é feita por pessoas que se estimam mutuamente, mas também se ajudam e cooperam entre si, no que podemos chamar uma recíproca correção e exortação, em espírito de humildade e de amor (cfr. Mensagem do Papa p/ Quaresma de 2012).

Para promover esta reciprocidade, na solicitude de uns para com os outros, a sabedoria milenar da Igreja recomenda, especialmente na Quaresma, a pedagogia da esmola, da oração e do jejum.

Ao longo desta Quaresma, queremos, assim, cultivar a autêntica proximidade para construir comunidade, principalmente das seguintes formas:

1. Celebrando a nossa Fé, com especial cuidado e entusiasmo, principalmente na Eucaristia. Recomendamos também que se reze nas comunidades pelo menos uma hora da Liturgia das Horas. E pedimos às Comunidades Religiosas e outras de especial consagração e também a grupos que já o costuma fazer que, pelo menos ao domingo, celebrem a Liturgia das Horas com o Povo.

2. Escutando e partilhando, com mais diligência, a Palavra de Deus contida na Bíblia, não só nas assembleias litúrgicas, mas também nos grupos bíblicos que estamos a incentivar por toda a nossa Diocese;

3. Respondendo, com generosidade, ao apelo da renúncia quaresmal. Este ano vamos dirigir a nossa renúncia quaresmal para a constituição e fortalecimento do nosso Fundo Diocesano de Solidariedade, à semelhança do Fundo de Solidariedade que é promovido pela Conferência Episcopal. São muitos os casos de pessoas que nos estão a bater à porta, pedindo ajuda material, porque lhes faltam os meios elementares de subsistência.

4. Alguns têm vindo a ser atendidos pela Caritas Diocesana e pelas Conferências de S. Vicente de Paulo. Porém, já há falta de meios para atender às necessidades e a evolução dos acontecimentos faz-nos prever que as dificuldades vão aumentar”.

D. Manuel Felício

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Agência ECCLESIA

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