Mensagem quaresmal do arcebispo de Évora

Prestai atenção uns aos outros (Heb 10,24)

Quaresma foi instituída pela Igreja com a dupla finalidade de preparar os adultos para o Batismo e todo o povo cristão para a celebração da solenidade da Páscoa. Tem-se mantido ao longo dos séculos como um tempo especial em que todos os cristãos são convidados a adotar um estilo de vida em correspondência com os ideais evangélicos, dispondo-se a corrigir deficiências morais, purificar intenções e ampliar a prática das boas obras, pela qual se torna efetiva a lei sublime do amor ao próximo, resumo de toda a mensagem evangélica.

Querendo ajudar os cristãos de todo o mundo a viver este tempo sagrado da Quaresma em sintonia de pensamento e ação, Bento XVI, na peugada dos seus antecessores, todos os anos publica uma mensagem, chamando a atenção de todos os fiéis para alguma das situações mais cruciais do nosso tempo e apontando caminhos para ir ao seu encontro.

Este ano, com palavras da Carta aos Hebreus, convida-nos a prestar atenção às pessoas que vivem à nossa volta, independentemente dos laços familiares que a elas nos possam unir. Pois, sendo todos nós membros da grande família humana, todos temos obrigação de prestar atenção uns aos outros. Afinal, todos temos uma origem e um fim comum. A paternidade única de Deus torna-nos a todos irmãos uns dos outros.

Se refletirmos um pouco, facilmente concluiremos que o alerta do papa vem mesmo a propósito das situações difíceis que se vivem no nosso país, onde, dia a dia, crescem as dificuldades para muitos dos nossos concidadãos, por falta de alguém que lhes preste atenção, quando as dificuldades batem à porta.

Tenhamos presentes os casos de pessoas de idade avançada que vivem sozinhas e chegam mesmo a morrer sem que alguém se tenha dado conta, durante semanas, meses e até anos. Pensemos ainda nas pessoas que se encontram sem recursos económicos para viver com um mínimo de dignidade, ficando reduzidas à desumana condição de miséria e, por vezes, sem um teto onde se possam abrigar.

Infelizmente, são poucos os que prestam atenção a estes casos extremos. E, ao contrário, é cada vez maior o número dos que vivem centrados nos próprios interesses, enredados na espiral sem fim do consumismo, que funciona como autêntica anestesia espiritual, potenciadora de perniciosos egoísmos e propiciadora de um clima de fria indiferença a toda a espécie de infortúnios que se multiplicam a um ritmo cada vez mais acelerado.

Não poderá ser essa a atitude dos cristãos. Os discípulos de Jesus Cristo devem seguir os passos do seu Mestre. Ora, nunca Jesus voltou as costas ou ignorou os doentes nem os pobres. Antes pelo contrário. Foi ao seu encontro, fixou neles o olhar com amor, tomou-os pela mão com carinho e sarou-os. Não possuindo nós os poderes taumatúrgicos de Jesus não poderemos operar milagres.

Mas, pela força do amor que foi derramado nos nossos corações, para nos abrir a mente e o coração, podemos prestar atenção, podemos amar, podemos ajudar, se quisermos. Basta que, metendo a mão na consciência, sinceramente nos interroguemos sobre o que em concreto podemos fazer a favor dos nossos irmãos mais carenciados e nos decidamos a praticar as boas obras que estão ao nosso alcance.

Cada um de nós é convidado a estender a mão para levantar o caído, ajudar o pobre, consolar o desalentado, fazer companhia ao que vive em solidão, ensinar o ignorante, corrigir o que errou e rezar por todos. A Quaresma há de ser um tempo sagrado que nos ajuda a viver uma relação autêntica de verdade com Deus, connosco mesmos e com os outros. Pois só nessa tríplice relação se concretiza a plenitude da vida, a que chamamos felicidade.

Com efeito, a Quaresma, instituída para nos ajudar a sermos felizes, convida-nos a prestar atenção aos outros, porque sem eles não podemos alcançar a vida plena. Eis a razão porque a Igreja também instituiu neste tempo a renúncia e a partilha dos bens com os mais carenciados. Este ano, o produto das renúncias voluntárias em tempo de Quaresma será entregue mais uma vez à Caritas Diocesana para que, através dos pólos distribuídos pela Arquidiocese, faça chegar aos que se encontram em dificuldades um sinal de fraternidade cristã e de amor de Deus.

Passada a Páscoa, peço aos Vigários da Vara que, em atitude de colaboração generosa e a exemplo do ano passado, juntem o produto da renúncia das paróquias da Vigararia e o façam chegar à Cúria.

 

+José, Arcebispo de Évora

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