Mensagem pascal do Bispo de Beja

A Páscoa de Jesus e a nossa

Com a celebração do Domingo de Ramos iniciamos a Semana Santa, a Semana das Semanas, a Semana Maior no calendário dos cristãos, pois nela se recordam e revivem os acontecimentos centrais da história da salvação, que são a paixão, morte e ressurreição de Jesus, o Filho de Deus, o Messias, que, sendo de condição divina, não se valeu disso, mas fez-se um de nós, passou a vida a fazer o bem e se entregou por nós, obediente até à morte e morte de cruz, mas Deus O fez surgir vitorioso para nossa salvação (cf Fil. 2, 1-11). Assim podemos resumir, como S. Paulo, esta vida com a qual os cristãos crentes se querem identificar cada vez mais.

Todos os anos repetimos estas celebrações, fazendo delas não apenas memória histórica, mas presença real nas nossas vidas e no nosso tempo. Mas podemos perguntar-nos, se isso não se tornou uma rotina ou se daí brota alguma força de transformação e aperfeiçoamento das nossas vidas.

A Páscoa judaica é a memória da noite da libertação do povo de Israel da escravidão do Egipto, na qual comeram o cordeiro pascal, inserido num ritual familiar e comunitário. A Páscoa de Jesus deu-se no contexto da celebração da Páscoa judaica, mas é Ele mesmo que é imolado, qual novo Cordeiro pascal. Pelo dom da sua vida por nós, a Páscoa passa a ser para os seus discípulos a libertação do homem escravo de si mesmo para o homem novo, que vive para Deus e para os outros. É esta passagem libertadora do homem velho, pecador egoísta, para o homem novo à semelhança de Cristo, livre para o serviço no amor, que leva até à plenitude do dom, da oferta, que constitui a essência da Páscoa dos cristãos. Por isso a nossa Páscoa não é apenas memória histórica do passado, mas vida actual e presente, através dos tempos, até que Deus seja tudo em todos, como lemos na carta de S. Paulo aos Efésios.

Olhando para Cristo e confrontando-nos com Ele, descobrimos que temos muito a caminhar até à realização plena da vida em sentido pascal. Vale a pena desfilar pela nossa mente e nos encontros familiares e das nossas assembleias litúrgicas a beleza e perfeição da vida de Jesus em confronto com as nossas misérias e pecados.

Nestes últimos dias, a comunicação social tem posto na praça pública muitos podres, mesmo de pessoas chamadas para o serviço na Igreja, e também muitos sofrimentos de crianças inocentes (e talvez também de alguns adultos condenados inocentemente!). Tudo isso tem de ser para os crentes um motivo acrescido para a celebração da Páscoa. Nela tornamos actuante a oblação da vida de Jesus para que n’Ele tenhamos a vida, e em abundância. Na Páscoa celebramos a certeza de que não estamos condenados a viver no pecado e no fracasso, mas que Deus vem em auxílio da nossa fraqueza, nos liberta e nos salva. Quem nos libertará deste corpo e deste mundo de morte, grita S. Paulo na Carta aos Romanos e responde que na fé em Cristo acontece essa maravilha.

A Páscoa de 2010 em ano sacerdotal

Os apóstolos receberam de Jesus o mandato de continuar a anunciar a Boa Nova do amor salvador de Deus (função profética), de transmitir e alimentar a vida nova nos crentes (função sacerdotal) e de fazer crescer na unidade e na comunhão do amor aqueles que acolheram o dom da vida nova em Cristo (função de pastores e guias do Povo de Deus). Na Páscoa concentram-se todas estas funções, faz-se memória dos actos fundantes da missão dos apóstolos e da Igreja, alimenta-se e revigora-se a identidade do Povo de Deus, que, à semelhança de Cristo, participa da sua dignidade sacerdotal, profética e real. A missão do serviço apostólico para o crescimento deste novo Povo de Deus, conquistado pelo dom da vida de Cristo e que brota do seu coração transpassado, nasce aqui também e alimenta-se no Mistério pascal.

Pelo modo desconcertante e maravilhoso como Deus nos manifesta o seu amor e nos salva damos graças, fazemos memória, alimentamos a nossa vida de discípulos e reavivamos a nossa vocação e missão.

Neste ano sacerdotal queremos celebrar todos este acontecimentos pascais, agradecendo de modo especial o dom do serviço apostólico dos nossos pastores. Sabemos como esse serviço tem sido espezinhado na praça pública pela infedilidade de alguns e pela calúnia e clima de suspeição reinante. Temos consciência de que trazemos este tesouro em vasos de barro e como à fidelidade de Deus nem sempre corresponde a fidelidade do discípulo. Também sabemos como a inveja não tolera o diferente, o esforço de alguns em ser santos e ajudar a que outros também o sejam, para que todos vivamos não para nós mesmos, mas para Deus e para todos os seus filhos e irmãos nossos, caminhando com os olhos fixos na meta da vida, que é Cristo, que por nós viveu e deu a vida, mas Deus O ressuscitou, para nos atrair ao seu amor e nos acolher no seu Reino.

Preparando a visita do sucessor de Pedro

Em Portugal celebramos esta Páscoa também em ambiente de preparação para a visita do sucessor de Pedro, o Papa Bento XVI, que vai ter lugar de 11 a 14 de Maio. Estamos conscientes da importância e da dificuldade da missão apostólica num mundo em que a maioria dos seus habitantes não se orienta pelos ideais de Jesus Cristo. A missão do apóstolo Pedro e do seu sucessor, que é o bispo de Roma, o Papa, tem um papel preponderante no colégio apostólico e na Igreja, mas também uma dificuldade acrescida numa Igreja santa e pecadora, mas sempre peregrina da perfeição.

Os lobbies dos poderes anti-igreja, que não aceitam a verdade da fé cristã, que o sucessor de Pedro, a tempo e a contratempo, continua a proclamar, montaram uma campanha, que tem como objectivo denegrir e derrubar o actual Papa, Bento XVI, e isto desde a sua eleição em 2005. Por isso os católicos portugueses devem preparar-se para acolher com alegria a visita de Sua Santidade, o Papa Bento XVI, abafando as vozes discordantes e contestatárias com a oração, o canto e a festa. Como portugueses, que, em 1917, beneficiámos da escolha por Nossa Senhora dos três pastorinhos de Fátima, para serem mensageiros da conversão, da oração e da paz, mas também do amor ao Papa, não nos esqueçamos de cumprir um dos pedidos dos pastorinhos: rezemos pelo Santo Padre, que tem muito que sofrer, para continuar a confirmar os irmãos na fé em Jesus Cristo.

Oxalá esta visita nos fortaleça no amor a Cristo, à sua Igreja e ao Papa. Todos seremos beneficiados com isso. Pois a unidade e a alegria da comunhão renovam em nós as energias da esperança, necessárias para vencermos as crises que a nossa sociedade e o mundo atravessam. O nosso combate à pobreza e à exclusão social precisam desta energia espiritual e anímica, que brota da Páscoa de Cristo e da sua celebração na vida da Igreja e dos cristãos.

Neste sentido desejo a todos uma Santa e feliz Páscoa e uma boa preparação para a visita do sucessor de Pedro, Sua Santidade o Papa Bento XVI.

† António Vitalino, Bispo de Beja

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