Mensagem para a Semana do Consagrado

1. Prosseguindo anteriores iniciativas realizadas em conjunto, a CIRP (Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal), a FNIS (Federação Nacional dos Institutos Seculares) e a CEVM (Comissão Episcopal Vocações e Ministérios), escolhem e propõem para a Semana do Consagrado, que decorre de 31 de Janeiro a 7 de Fevereiro, o seguinte lema: Vida consagrada, solidária na esperança.

Charles Péguy, escritor e poeta católico francês, dizia que “a esperança é a fé preferida de Deus”. Outro pensador francês, o filósofo e teólogo Teilhard de Chardin, afirmava que o futuro do mundo pertencerá àqueles que lhe derem razões de esperança.

A festa litúrgica da Apresentação de Jesus no Templo, celebrada a 2 de Fevereiro, quarenta dias depois do Natal, radica a escolha deste dia como momento indicado para celebrar a vocação e a missão dos consagrados. A esperança de Ana e de Simeão, que acolheram Jesus à porta do Templo, nunca se desvaneceram durante a sua longa vida. Este momento de consagração de Jesus no templo de Jerusalém, como estava prescrito na lei, não se limitou a um mero cumprimento de um ritual religioso por parte de Maria e de José, mas quis ser um gesto de total entrega e de absoluta confiança no projecto de Deus acerca de Jesus, Seu Filho.

2. A vida consagrada revela-nos que só uma esperança activa se faz compromisso e vigilância. Sabemos em Quem acreditamos. A alegria, o encanto, a beleza, a capacidade de entrega, o testemunho de felicidade, a audácia da missão, a valentia da generosidade e a heroicidade de vidas dadas no silêncio da contemplação ou na vanguarda da missão, desenham o rosto da consagração do nosso tempo.

Os consagrados(as) não vivem alheios à realidade nem são insensíveis aos problemas, nem tão pouco se sentem intocáveis diante da fragilidade humana ou imunes perante o pecado. Sabem-se, isso sim, chamados por Cristo e enviados pelo Espírito para a missão. E isso lhes basta. Pedem diariamente a Deus que nada turbe a limpidez da entrega nem ensombre a alegria da fidelidade e reconhecem que transportam em si um tesouro em vaso frágil.

3. São muitos, hoje, os pobres, os puros de coração, os oprimidos, os misericordiosos, os perseguidos por amor da justiça e os construtores da paz que nos lembram caminhos de bem-aventurança e nos oferecem modelos evangélicos de consagração. Deles é o Reino de Deus e para eles devem trabalhar os consagrados(as) com renovada e feliz alegria.

São muitos, também hoje, os lugares onde a profecia evangélica, a capacidade de olhar a humanidade com o olhar de Deus e a urgência de construir a caridade na verdade a partir das diferenças e das desigualdades, clamam pela presença e pela acção dos consagrados(as). Surgem continuamente novos desafios e diferentes espaços a urgir o anúncio do Reino e o convite à conversão e à esperança.

Os consagrados(as) são chamados para esta linha da frente na resposta às novas pobrezas, no acompanhamento solícito junto de quem procura Deus, no serviço exigente da educação, no diálogo lúcido com o mundo da cultura e na atenção fraterna dada aos que vivem afastados da fé ou apenas guiados pela razão e pela ciência.

Encontramos, se estivermos atentos, novas formas e diferentes percursos de consagração. São certamente estes percursos valores belos que o Concílio nos trouxe e que o Espírito de Deus nos oferece para este novo milénio. Descobrimos nestes exemplos de vida e nestes processos espirituais de vocação verdadeiros sinais de que Deus ama o seu Povo.

A próxima Semana de formação sobre a Vida Consagrada que terá lugar, em Fátima, de 13 a 16 de Fevereiro próximo, abordará estes temas e seguirá esta chave de leitura. Os sinais dos tempos iluminados pelas bem-aventuranças do Evangelho são referência essencial da vida consagrada entendida como mensageira de esperança e de alegria.

4. Na raiz da vida consagrada estão os valores evangélicos da pobreza, da castidade e da obediência onde se funda o sentido do dom e da fidelidade de quem tudo dá porque dá a vida toda e para sempre. A experiência da oração e a vida comunitária consolidam e fazem crescer estes valores assumidos e testemunhados e vão delineando o rosto de vidas felizes, dadas a Deus para servir os irmãos.

Compreende-se que esteja necessariamente associada a este testemunho de vida a urgência de uma pastoral vocacional dinâmica que faz dos consagrados(as) mediadores de vocação segundo o chamamento de Deus e no horizonte do carisma fundador de cada Instituto Religioso ou Secular. Este é também um dos muitos frutos esperados da Semana do Consagrado valorizando e promovendo o conhecimento e a abertura das comunidades cristãs a esta dimensão essencial da vida e da missão da Igreja.

5. Neste Ano Sacerdotal tem primordial sentido voltarmo-nos para a vida e ministério dos sacerdotes, dos presbitérios diocesanos ou dos institutos religiosos, e neles descobrirmos o testemunho feliz e belo da fidelidade do padre radicada na fidelidade de Cristo. As comunidades religiosas e o exemplo de vida consagrada são também para os sacerdotes incentivo de fidelidade e certeza de comunhão na oração e na dedicação fraterna.

Que Maria, a Senhora da Apresentação e Estrela da Esperança, nos ilumine e fortaleça para que a vida consagrada seja sempre na Igreja e no mundo mensageira da esperança e da alegria.

+ António Francisco dos Santos Bispo de Aveiro e Presidente da CEVM

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