Mensagem do Bispo de Lamego para a Quaresma 2008

Iniciamos o tempo litúrgico da Quaresma que nos conduz ao Sagrado Tríduo Pascal, por um caminho de interioridade, marcado pela «oração mais assídua» e pela «caridade mais diligente». Tudo com um objectivo: redescobrirmos a nossa identidade de cristãos, família de Deus pelo Baptismo, chamados a uma permanente reconciliação com o Pai e com os irmãos, e assim celebrar conscientemente e convertidos “a verdade fundamental da nossa fé em Cristo”, a morte e ressurreição do Senhor. Recomenda-nos S. Paulo: Celebremos a Festa, não com fermento velho, nem com fermento de malícia e perversidade, mas com ázimos de pureza e de verdade (ICor.5,8). A oração a que acima me refiro, envolve particularmente uma união mais esforçada e cuidada com o Senhor, a quem nos dirigimos, pela Eucaristia e pelo sacramento da Penitência, e através das nossas preces e dos tradicionais exercícios de piedade, nomeadamente o Terço e a Via-sacra, e também da escuta atenta da Palavra de Deus, que os textos litúrgicos neste tempo com tanta abundância e riqueza nos proporcionam. A caridade, traduzida em gestos e atitudes que nos aproximam dos outros, concretamente na esmola, é a forma de comungar e revelar no conviver, o supremo amor de Deus, que se nos deu sem reservas no alto do Calvário, até morrer pela nossa salvação: amor assumido e partilhado. Completa este tríptico de «compromissos específicos», como os designa o Papa, e que a Igreja nesta altura tem o cuidado de nos propor, o jejum e a abstinência, que compreende o clima de sacrifício e desprendimento que deve acompanhar toda a existência dum discípulo de Cristo e que se exprime em inúmeras pequenas mortificações que contrariam os apetites e alimentam a generosidade. É sobre a esmola que o Santo Padre, este ano, na habitual mensagem para a Quaresma nos faz reflectir. Chama a nossa atenção para o valor social dos bens materiais, dos quais, muito mais que proprietários exclusivos, devemos tomar consciência de que não somos senão administradores, atentos às carências dos que nos rodeiam, porque relações de humanidade nos irmanam e co-responsabilizam. Não faltam neste vale de lágrimas que é o mundo, situações que imploram a nossa sensibilidade e solidariedade. Quem as não descobre? Ou seremos como o rico avarento que nem deu pela presença do pobre Lázaro que jazia à sua porta coberto de chagas? Mas a esmola para que seja verdadeira caridade e corresponda à orientação do Evangelho, deve ser realizada na discrição e no silêncio. É esta a esmola que gera a alegria e a tranquilidade interior, porque, em consequência, nos abre à misericórdia de Deus que nos cura dos nossos pecados e infidelidades. A serenidade que dai resulta e nos inunda, é a consciência duma comunhão que nos torna próximos daqueles que ajudamos, sobretudo doando-nos a eles, mais que oferecendo qualquer contributo material, por avultado que seja. Este deve ser o significado da oferta. A Quaresma é o tempo favorável para esta experiência de caridade e de partilha. O contributo penitencial deste ano destina-se às vítimas das inundações de Moçambique e deverá ser remetido à Cúria Diocesana, como é habitual. Mas a Quaresma é também o tempo propício à formação dos fiéis, em ordem ao aprofundamento da fé. Neste contexto anuncio as Jornadas Teológicas que o Instituto Superior de Teologia Beiras e Douro promove, com uma temática actualíssima e aliciante (Deus na NET. Que desafios?), cuja participação vivamente recomendo. + Jacinto Tomás Botelho, bispo de Lamego

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