Na recente Mensagem para a Quaresma deste ano, recorda-nos Sua Santidade Bento XVI, a todos nós, cristãos – partindo do pensamento de S. Paulo na Carta aos Colossenses: sepultados com Ele no Baptismo, foi também com Ele que ressuscitastes – o que frequentemente meditamos nesta altura, que “um vínculo particular liga o Baptismo com a Quaresma como momento favorável para experimentarmos a Graça que nos salva”. Somos assim convidados a aproveitar este longo Retiro espiritual que a Mãe Igreja nos oferece para consolidarmos reflectidamente e no comportamento a nossa identidade de cristãos.
A Palavra de Deus tão rica e abundante que a Liturgia propõe à nossa reflexão todos os dias, mas muito especialmente aos Domingos e sobretudo no Ano A, “guia-nos para um encontro particularmente intenso com o Senhor, fazendo-nos repercorrer as etapas do caminho da iniciação cristã: para os catecúmenos, na perspectiva de receber o Sacramento do renascimento, para quem é baptizado, em vista de novos e decisivos passos no seguimento de Cristo e na doação total a Ele”. Cada um saberá aproveitar a oportuna reflexão sobre o Evangelho de cada Domingo que o Santo Padre partilhou connosco na referida mensagem, ajudando-nos a empenharmo-nos seriamente na reconciliação com Deus e com os outros que este itinerário para a Páscoa nos sugere.
Pela prática tradicional do jejum, esmola e oração, “expressões do empenho de conversão” que realizaremos devotamente, “a Quaresma educa para viver de modo cada vez mais radical o amor de Cristo”. Num ambiente marcado pelo individualismo, a par do desânimo e desencanto que as pessoas deixam transparecer, sem perspectivas a curto prazo de que o panorama se modifique para melhor, antes pelo contrário, a nossa vida de cristãos deverá traduzir um clima lúcido de esperança e serenidade. As práticas quaresmais criam o clima para uma autêntica vivência cristã. Pelo jejum e espírito de sobriedade que com ele se relaciona, com a contenção em despesas às vezes exclusivamente para dar lugar a caprichos sumptuários, contrariamos os apetites do homem velho e abrimos o coração a uma generosidade que nos liberta do egoísmo e nos abre para uma partilha solidária. E o jejum e a esmola, são no dizer de S. Agostinho, “as duas asas da oração”, como referiu Bento XVI na Audiência Geral de 4ª feira de Cinzas, recordando o seu pensamento: “Desta maneira a nossa oração, feita com humildade e caridade, no jejum e na esmola, na temperança e no perdão das ofensas, dando coisas boas e não restituindo as más, afastando-se do mal e realizando o bem, procura a paz e consegue-a. Com as asas destas virtudes voa segura e mais facilmente chega ao céu, onde Cristo, nossa paz, nos precedeu”.
A celebração bem preparada do sacramento da Confissão e o corajoso cumprimento dos propósitos firmes de emenda, alimentado na recepção frequente da Santíssima Eucaristia, tornar-nos-á verdadeiros e conscientes cristãos pascais que poderão e saberão celebrar devidamente a alegria da Ressurreição do Senhor.
Que a Mãe do Céu que acompanhou Jesus até ao Calvário e assistiu de pé à Sua Morte na Cruz, nos conduza nesta Quaresma por um caminho de conversão para com Cristo ressuscitarmos também.
O contributo penitencial deste ano reverterá em favor do Fundo Solidário Diocesano.
D. Jacinto Tomaz de Carvalho Botelho, bispo de Lamego.