Mensagem do arcebispo de Évora na Solenidade de Santa, Maria de Deus, e Dia Mundial da Paz

No contexto do ano novo 2021, desejo apresentar as minhas saudações a todas as autoridades que cuidam das populações que habitam o território que constitui a mais extensa diocese de Portugal, a amada Arquidiocese de Évora. Saúdo os senhores presidentes das Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia, as Santas Casas da Misericórdia, os Centros Sociais e Paroquiais e não paroquiais, todos os responsáveis pelos diversos serviços, instituições, associações, as diversas realidades empresariais produtivas e empreendedoras; saúdo a Arquidiocese com as suas paróquias, comunidades, movimentos eclesiais, associações e grupos de vida, enfim, todos os sacerdotes, diáconos, consagrados, seminaristas e fiéis leigos. Para todos formulo votos de esperança, para que o ano 2021 nos conduza por caminhos de saúde pública, fraternidade, de justiça e de paz.

Alerto a comunidade arquidiocesana e todas as pessoas de boa vontade para a mensagem do Santo Padre, o Papa Francisco, para o Dia Mundial da Paz (01 de Janeiro de 2021), sob o título: “A Cultura do Cuidado como percurso de Paz”, assinada por Sua Santidade, a 08 de dezembro de 2020, na cidade do Vaticano.
O Santo Padre começa por analisar o ano findo, considerando que “o ano de 2020 ficou marcado pela grande crise sanitária da Covid-19, que se transformou num fenómeno plurissectorial e global, agravando fortemente outras crises inter-relacionadas como a climática, alimentar, económica e migratória, e provocando grandes sofrimentos e incómodos”.

Ao constatar estas realidades, o Santo Padre explica o porquê da sua escolha por este tema, afirmando: “Estes e outros acontecimentos, que marcaram o caminho da humanidade no ano de 2020, ensinam-nos a importância de cuidarmos uns dos outros e da criação a fim de se construir uma sociedade alicerçada em relações de fraternidade. Por isso, escolhi como tema desta mensagem «a cultura do cuidado como percurso de paz»; a cultura do cuidado para erradicar a cultura da indiferença, do descarte e do conflito, que hoje muitas vezes parece prevalecer”.

Francisco desenvolve em nove pontos a sua profunda e oportuna mensagem que passamos a apresentar: o primeiro ponto saudação e votos de bom ano novo a toda a humanidade; 2) Deus Criador, origem da vocação humana ao cuidado; 3) Deus Criador, modelo do cuidado; 4) o cuidado no ministério de Jesus; 5) a cultura do cuidado, na vida dos seguidores de Jesus; 6) os princípios da doutrina social da Igreja como base da cultura do cuidado: o cuidado do bem comum, o cuidado através da solidariedade e o cuidado e a salvaguarda da criação; 7) a bússola para um rumo comum; 8) para educar em ordem à cultura do cuidado e 9) não há paz sem a cultura do cuidado.

Ao abrir o seu coração de pastor, Francisco exprime com especial afeto: “Penso, em primeiro lugar, naqueles que perderam um familiar ou uma pessoa querida, mas também em quem ficou sem trabalho. Lembro de modo especial os médicos, enfermeiras e enfermeiros, farmacêuticos, investigadores, voluntários, capelães e funcionários dos hospitais e centros de saúde, que se prodigalizaram – e continuam a fazê-lo – com grande fadiga e sacrifício, a ponto de alguns deles morrerem quando procuravam estar perto dos doentes a fim de aliviar os seus sofrimentos ou salvar-lhes a vida. Ao mesmo tempo que presto homenagem a estas pessoas, renovo o apelo aos responsáveis políticos e ao sector privado para que tomem as medidas adequadas a garantir o acesso às vacinas contra a Covid-19 e às tecnologias essenciais necessárias para dar assistência aos doentes e a todos aqueles que são mais pobres e mais frágeis”. Não é possível ao Arcebispo de Évora não comungar em absoluto com estes sentimentos tão vivamente expressos pelo Papa…

É imprescindível ler atentamente a Mensagem do Bispo do Roma, pois a sua riqueza e a sua atualidade fazem dela um decisivo contributo para a reflexão tão urgente acerca deste verbo (cuidar) marcante para a origem da vida e o seu desenvolvimento. Sendo missão de todos, o Papa refere-se com especial atenção ao berço da vida e ao testemunho da fé, que é a família humana e, a propósito do verbo “cuidar” diz: ” A educação para o cuidado nasce na família, núcleo natural e fundamental da sociedade, onde se aprende a viver em relação e no respeito mútuo. Mas a família precisa de ser colocada em condições de poder cumprir esta tarefa vital e indispensável”.

Recomendo a cada cristão, a cada grupo de vida, a cada movimento apostólico, a cada comunidade religiosa, a todos os grupos de jovens e a todos os homens e mulheres de boa vontade que aproveitem, através da leitura, estudo e partilha, este sábio contributo do Papa Francisco.

Seja-me permitido concluir com as próprias palavras do sucessor de Pedro: “Neste tempo, em que a barca da humanidade, sacudida pela tempestade da crise, avança com dificuldade à procura dum horizonte mais calmo e sereno, o leme da dignidade da pessoa humana e a «bússola» dos princípios sociais fundamentais podem consentir-nos de navegar com um rumo seguro e comum. Como cristãos, mantemos o olhar fixo na Virgem Maria, Estrela do Mar e Mãe da Esperança. Colaboremos, todos juntos, a fim de avançar para um novo horizonte de amor e paz, de fraternidade e solidariedade, de apoio mútuo e acolhimento recíproco. Não cedamos à tentação de nos desinteressarmos dos outros, especialmente dos mais frágeis, não nos habituemos a desviar o olhar, mas empenhemo-nos cada dia concretamente por “formar uma comunidade feita de irmãos que se acolhem mutuamente e cuidam uns dos outros”.

Na Solenidade de Santa Maria de Deus e Dia Mundial da Paz – 1 de janeiro de 2021

D. Francisco José Senra Coelho, arcebispo de Évora

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