Mensagem do Arcebispo de Braga para a Jornada da Família

Nestas Jornadas da Família, pedindo desculpa por não estar presente e assegurando a minha efectiva comunhão convosco, quero sublinhar algumas ideias que pronunciei no Discurso de Abertura da Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, no passado dia 20 de Abril, em Fátima. Sem a pretensão de protagonismo, aconselho-vos a leitura daquele texto. Pode ser ajuda para uma Pastoral Familiar mais incisiva e directa.
Em primeiro lugar, urge deixar-se possuir e orientar por uma convicção. “O futuro da humanidade passa pela família” (João Paulo II). Nesta convicção, saberemos dar-lhe no momento presente, o que ela merece para ser certeza dum futuro alicerçado no seu valor. Sem família, no seu significado genuíno e verdadeiro, a sociedade não terá amanhã.
Sabemos que ela está sujeita a múltiplos e diversificados ataques. Não são ocasionais nem esporádicos. Existe uma estratégia que a torna alvo a obter com iniciativas delineadas dum modo permanente. Reconhecendo a centralidade e a relevância particular, teremos de, como Igreja, percorrer um caminho doutrinal que nem todos aceitam. Poderá parecer que bradamos no desejo. As grandes causas vencem-se com persistência e fidelidade, ainda que pareça que somos poucos. A história manifesta que muitas vezes, a vitoria acontece através de minorias.
Nesta fidelidade à doutrina, não podemos ignorar a compreensão pela fragilidade humana, como referi na Conferencia Episcopal. Aí dizia que “compreender nunca pode ser sinónimo de trair”.
Saberemos, por isso, estar do lado de quem se debate com dramas existenciais. A todos e cada um saberemos dar uma nova resposta de esperança e proporcionar alento para que recomecem nunca se prendendo às debilidades que aconteceram.
Trata-se dum agir eclesial caracterizado pelo acompanhamento e solicitude. Nem sempre somos capazes de “Ver” as reais situações e ajudar a sair do emaranhado de complicações. Se não podemos ceder a compromissos na doutrina, teremos de ser capazes de acreditar na audácia do amor autêntico que é capaz de irradiar coragem para a conversão ou mudança de mentalidades e costumes. Não temos o direito de condenar seja quem for; temos o dever de amar, de “inquietar” com um amor muito concreto e comprometido com as reais situações que afligem muitos lares.
Gostaria que a Pastoral Arquidiocesana da Família não se alheasse do cenário de crise económica a que assistimos e que manifesta sintomas de agravamento. A situação pode não ser conjuntural mas estrutural, no sentido de se prolongar por mais tempo do que as previsões manifestam.
Toca-nos, como Igreja, individualizar os dramas e discernir uma solidariedade de intervenção, particularmente nos casos onde a vergonha encobre lágrimas e desconforto social. Muitos podem apostar nos discursos. Os cristãos, esperando políticas que apoiam efectivamente as famílias, não ficam à espera que algo aconteça. São solidários. Espero, por isso, que a Pastoral familiar aposte num testemunho de solidariedade para que com todos experimente a realidade “dum só coração e duma só alma”, como acontecia na Igreja Primitiva.
Conscientes desta crise, reconheço, com o Papa Bento XVI, que ela não era simplesmente económica ou financeira. É o modelo de sociedade que se esqueceu dos valores e acredita na felicidade do fácil e do consumo, só procura o prazer e o ter que oferecer felicidade imediata. É este modelo que está a ruir. Os cristãos devem, por isso, apostar na originalidade duma vida verdadeiramente evangélica, que é diferente do comum mas garante o que muitos procuram e não encontram.
Com esta consideração quero sublinhar a importância do nosso Plano Pastoral. Teremos de colocar a Palavra de Deus no centro das famílias fazendo com que elas se encontrem com ela, a acolham e a vivam. Não temos outro caminho. Só a Palavra de Deus, nos momentos concretos e variados, será a luz a indicar os caminhos a seguir.
Fixando-me na Palavra, acrescento que esta é sempre Deus que dialoga connosco, que chama e quer encontrar resposta. Isto dá-se no íntimo de cada um e importaria que as famílias cristãs fossem, uma ressonância deste apelo não tendo medo de, em nome de Cristo e da Igreja, chamar os filhos para uma Vocação Sacerdotal ou Religiosa.
A felicidade dos filhos passa ou pode passar por aqui. Vamos, por isso, tornar as famílias comunidades evangelizadas onde o apelo a seguir Jesus acontece, de modo que alguns “deixem tudo” para o servir na Igreja.
Vai longa a minha saudação. Desculpai e, na pastoral familiar, ousai ser fiéis à doutrina, caminhar numa solidariedade activa e crescer ao ritmo da Palavra de Deus que, entre outras interpelações, pode chamar os filhos para a vida sacerdotal ou religiosa. Convosco caminho rumo a uma sociedade mais justa e fraterna a partir de famílias evangélicas.
D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga

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