Mensagem de D. António Carrilho, Bispo do Funchal, para a Quaresma de 2011
Funchal, 13 de Março de 2011
Viver a Quaresma, preparando a Páscoa!
Com a celebração de quarta-feira de cinzas, inicia a Igreja o santo tempo da Quaresma, que nos conduzirá até à Páscoa. É um “tempo litúrgico muito precioso e importante” (Bento XVI) na tradição da Igreja que, apesar de não ter hoje a força e expressão social de outros tempos, mantém vivas no coração dos crentes certas práticas e costumes, que não deverão esquecer-se nem menosprezar, mas purificar-se e enriquecer-se do seu verdadeiro significado.
Diz-se que é tempo de conversão. Mas conversão a quê? – A uma vida nova, à vida de baptizados em Cristo, renunciando ao mal e ao pecado, abrindo os corações a Deus e ao próximo, aos irmãos que estão perto de nós ou àqueles de quem nos aproximamos, cujas lutas e dificuldades conhecemos e que podem contar com a nossa atenção e ajuda. Conversão verdadeira e profunda do próprio coração, renovação interior, à luz da Graça e do ideal do nosso Baptismo!
São muitas as propostas e subsídios que a Igreja coloca à disposição de todos os seus filhos para nos ajudar nesta caminhada quaresmal. Em primeiro lugar, a abundância de textos bíblicos como Palavra de Deus, sempre viva e actual para iluminar, com os ensinamentos da fé, os caminhos da nossa consciência e comportamentos. Como é importante conhecer e aprofundar o sentido existencial da Palavra do Senhor, em nossas vidas!
Caminhar com decisão para Cristo
Ao longo da Quaresma dispomos de textos seleccionados para as Missas de todos os dias da semana, revestindo-se de particular importância as liturgias dos Domingos. São estes que marcam o ritmo do percurso quaresmal, ajudando-nos a meditar sobre a nossa condição de baptizados em Cristo. Assim nos é proposto que caminhemos para a Páscoa, reavivando a Graça do Baptismo!
Dispomos, ainda, de outros importantes elementos espirituais para a vivência frutuosa deste tempo litúrgico: encontros de reflexão e oração, organizados por paróquias, movimentos e grupos apostólicos; a tradicional devoção da Via-Sacra, sobretudo às sexta-feiras, e as Procissões dos Passos do Senhor, sempre tão participadas; e, em especial, a celebração do Sacramento da Penitência, que nos reconcilia com Deus e com a Igreja.
Através destes meios, contemplando o mistério de Cristo na Sua paixão redentora e apontando, desde logo, para a Sua gloriosa ressurreição, sentimo-nos estimulados a “reconhecer a nossa debilidade, acolher, com uma sincera revisão de vida, a Graça renovadora do Sacramento da Penitência e caminhar com decisão para Cristo”, diz-nos o Papa Bento XVI na sua Mensagem para a Quaresma deste ano, intitulada “Sepultados com Ele (Cristo) no Baptismo, foi também com Ele que ressuscitastes” (cf. Cl 2,12).
Segundo a linguagem tradicional e talvez ainda mais usual, falar do Sacramento da Penitência ou Reconciliação é significar o Sacramento da Confissão individual, nas condições indicadas pelo Magistério da Igreja (cf. Ritual da Penitência, Preliminares). As celebrações comunitárias, sem Sacramento, acentuam sem dúvida o sentido eclesial da penitência e podem ajudar a criar disposições de arrependimento dos pecados e compromisso na vida nova em Cristo, mas não substituem a confissão e a absolvição sacramental. A reconciliação com Deus faz-se pela mediação da Igreja.
Reavivar a Graça do Baptismo
Na caminhada da Quaresma tudo aponta para o Tríduo Pascal, nas belas celebrações dos três últimos dias da Semana Santa, culminando na Grande Vigília da Noite da Páscoa, em que somos convidados a renovar as promessas do Baptismo. Então reafirmamos “que Cristo é o Senhor da nossa vida” e também o nosso firme compromisso de vivermos como Seus discípulos, disponíveis e abertos a Deus e ao próximo.
É neste sentido que o Papa lança o seu apelo aos cristãos de todo o mundo, para que resistam à “idolatria dos bens” e desenvolvam a sua “capacidade de partilha”, na medida em que a “idolatria dos bens” torna o homem infeliz, “porque coloca as coisas materiais no lugar de Deus, única fonte de vida” (Mensagem, 3).
Não esqueçais, pois, que a Quaresma é tempo de preparação para a solene e frutuosa celebração da Páscoa; é tempo de saborear e aprofundar o sentido do nosso Baptismo, nas suas múltiplas implicações; é tempo de aceitar o desafio de caminharmos ao encontro do verdadeiro rosto de Cristo, em escuta atenta da Palavra, na oração e no acolhimento da reconciliação sacramental; é tempo de voltar para o Senhor com todo o coração, em conversão de amor a Deus e aos irmãos.
Funchal, 13 de Março de 2011
1º Domingo da Quaresma
† António Carrilho, Bispo do Funchal