Mensagem de Quaresma do Bispo de Angra

Jejuar para Ajudar 1. Prosseguindo na caminhada do Ano Paulino, entramos na Quaresma, tempo litúrgico forte, que antecede a grande festa da Páscoa da Ressurreição. É próprio da Quaresma o seu carácter catecumenal de preparação para o Baptismo, ou de assunção vivencial dos seus compromissos. A caminhada penitencial, a que a Igreja nos convida, na Quaresma, como preparação imediata para a Páscoa, mais não é do que o assumir, na prática, a vida nova do Baptismo. Pelo Baptismo – como explica S. Paulo – fomos sepultados com Cristo na morte, para com Ele ressuscitarmos para uma vida nova (cf. Rm 6, 4). A conversão não é senão este processo de configuração com Cristo, para poder chegar a afirmar com S. Paulo: Já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim (Gal, 2, 20). A caminhada penitencial da Quaresma deve levar-nos ao sentido originário do nosso baptismo e às suas implicações concretas na vida do dia-a-dia. Através das práticas penitenciais, na linha da tradição bíblica: oração, jejum e esmola. Que caracterizaram sempre a caminhada quaresmal. Como expressão de conversão interior. De mudança na maneira de pensar e de agir. 2. Assim, nesta Quaresma do Ano Paulino, somos convidados a uma leitura orante das Cartas de S. Paulo, que nos ensinam como ser cristãos, discípulos fiéis de Cristo e apóstolos audazes do Seu Evangelho. Pelo coerente testemunho de vida e pelo anúncio corajoso, em todas as circunstâncias, oportuna e inoportunamente (cf. 2 Tm 4, 2). Mesmo remando contra-corrente. Como Paulo. Neste mundo conturbado, à procura de um novo rumo, não há que ter medo de apresentar o Evangelho de Jesus, como caminho de progresso humano. Nem só de pão vive o homem… (Mt 4, 4). «A Quaresma seja, portanto, valorizada em cada família e em cada comunidade cristã – exorta o Santo Padre – para afastar o que distrai o espírito e para intensificar o que alimenta a alma, abrindo-a ao amor de Deus e do próximo. Penso, em particular, num maior compromisso na oração, na Lectio Divina, no recurso ao Sacramento da Reconciliação e na participação activa na Eucaristia, sobretudo na Santa Missa Dominical» (Bento XVI, Mensagem para a Quaresma de 2009). Ler a realidade à luz da fé, leva-nos a olhar para o momento presente, com os seus problemas e dificuldades, como «tempo favorável», tempo oportuno de graça: kairós. Uma oportunidade para um salto de qualidade na civilização humana. Que vai, sem dúvida, custar sacrifícios. Mas que é caminhada para uma vida com abundância, conforme a promessa de Jesus. Que nos empenha e compromete. Daí o sentido do jejum, que o Papa recomenda, na sua Mensagem Quaresmal deste ano, «valorizando o significado autêntico e perene desta antiga prática penitencial, que pode ajudar-nos a mortificar o nosso egoísmo e a abrir o coração ao amor de Deus e do próximo, primeiro e máximo mandamento da nova Lei e compêndio de todo o Evangelho (cf. Mt 22, 34-40)» (Bento XVI, Mensagem para a Quaresma de 2009). Jejuar não é apenas abster-se de alimentos. O jejum constitui um apelo à sobriedade de vida. À contenção no consumo. Também em vista de uma maior partilha e entreajuda. Tão necessárias no mundo em que vivemos. Onde cresce o fosso entre ricos e pobres. Onde há famílias, que precisam de solidariedade efectiva. Como o Bom Samaritano, temos de nos fazermos próximo de todo o irmão, que precisar de ajuda. É esse o sentido da prática tradicional da esmola. Que, às vezes, assume um significado pejorativo. Originariamente, era – e deve continuar a ser – expressão de solidariedade: ter piedade, capacidade de se com-padecer, de sofrer com. Foi assim o amor de Deus. Como Cristo no-lo revelou. Assim deverá ser o amor do próximo. No tempo e no lugar. Aqui e agora. 3. Para não ficarmos, como que à varanda a ver passar o cortejo, vamos concretizar a nossa ajuda ao próximo, destinando a Renúncia Quaresmal à Caritas dos Açores, para a constituição de um Fundo de Solidariedade de ajuda às famílias em maiores dificuldades. Terão o mesmo destino o peditório e ofertório das Missas, no fim de semana 14-15 de Março, em coincidência com o Dia Nacional da Caritas, inspirado no hino da caridade de S. Paulo (1 Cor 13): A caridade nunca acabará (1 Cor 13, 8). No ano passado, o resultado da Renúncia Quaresmal, no valor de 20. 157, 08 (vinte mil cento e cinquenta sete euros e oito cêntimos), foi destinado a Moçambique (vítimas das cheias e Seminário de Maputo). Este ano, vamos ter em conta o próximo mais próximo. Ora, para que a Renúncia Quaresmal tenha algum significado, cada um deve estabelecer, logo no início da Quaresma, um programa de sobriedade de vida, não só em relação aos alimentos e às bebidas, mas também noutros domínios. O valor correspondente a essa renúncia será entregue na paróquia, no fim da Quaresma. Por sua vez, a paróquia enviará o donativo à Caritas Diocesana, que coordenará os apoios, através das Caritas de Ilha ou de outros organismos similares. «Escolhendo livremente privar-nos de algo para ajudar os outros, mostramos concretamente que o próximo em dificuldade não nos é indiferente – adverte o Papa. Precisamente para manter viva esta atitude de acolhimento e de atenção para com os irmãos – continua o Santo Padre – encorajo as paróquias e todas as outras comunidades a intensificar na Quaresma a prática do jejum pessoal e comunitário, cultivando de igual modo a escuta da Palavra de Deus, a oração e a esmola. Foi este, desde o início o estilo da comunidade cristã, na qual eram feitas colectas especiais (cf. 2 Cor 8-9; Rm 15, 25-27), e os irmãos eram convidados a dar aos pobres quanto, graças ao jejum, tinham poupado (cf. Didascalia Ap., V, 20, 18). Também hoje esta prática deve ser redescoberta e encorajada, sobretudo durante o tempo litúrgico quaresmal» (Bento XVI, Mensagem para a Quaresma de 2009). + António, Bispo de Angra

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Agência ECCLESIA

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