Mensagem de Páscoa do bispo de Aveiro

“Este é o dia do Senhor: alegremo-nos nele” (Sal 118).

1.A mais bela de todas as manhãs – a manhã de Páscoa – não começou com capas estendidas pelo chão da vida, com hossanas de multidões em alegria e em festa nem, tão pouco, com o testemunho corajoso e feliz dos discípulos.

Como estava já longe da memória do povo e distante do coração dos discípulos a entrada de Jesus na sua cidade! A cruz e a morte tinham dispersado as multidões e o medo tinha-se apoderado dos mais próximos.

A manhã de Páscoa começou com uma estranha e singela palavra, cheia de compaixão por parte de Jesus diante da tristeza preocupada de Maria, a mulher perdoada, que viu o sepulcro vazio: «Mulher, porque choras?» (Jo 20, 15).

O primeiro gesto de Jesus ressuscitado e a sua primeira palavra, depois da ressurreição, é consolar; é olhar o nosso olhar; é chamar pelo nosso nome. Um dia, tempo virá, em que «Deus enxugará, também, todas as lágrimas dos nossos olhos!» (Apoc 21, 4).

Neste tempo de crise de civilização, o mundo precisa da Páscoa de Jesus, para aprender a dar a vida por amor e nessa dádiva divina encontrar uma palavra que afague tantos dramas, um olhar que dê luz a tantos olhares que as lágrimas turbam e o pecado magoa e uma vida que alimente de nova e renascida esperança tantas vidas sem sentido, sem pão, sem trabalho, sem horizonte e sem rumo.

Que também nestes tempos de imperativa austeridade e de desiguais sacrifícios lembremos o sábio conselho afirmado em cada Páscoa judaica: «em tempos de opressão, não falte ao povo a esperança da liberdade! Em tempos de liberdade, não se lhe apague a lembrança da escravidão!» (Seder judaico).

Depois da manhã de Páscoa, Jesus chamou, ao longo da história da Igreja, milhares e milhares de pessoas pelo seu nome. A todos os que chamou, também enviou em missão para transmitir a Boa Nova das bem-aventuranças. A Páscoa é a festa de todos e para todos!

2.A ressurreição de Jesus é porta de tempos novos e aurora de vitória e alegria pascal. Deste triunfo de Jesus Cristo sobre o pecado e sobre a morte, os apóstolos, refeitos do medo inicial, dão-nos testemunho vivo. A vida cristã nasce deste acontecimento sempre novo e desta inabalável certeza: «Foi este Jesus que Deus ressuscitou, e disto nós somos testemunhas» (At 2, 32).

Aí, na Páscoa de Jesus, inicia-se o tempo da Igreja e todos nós daí partimos em caminhada pascal, apoiados pelo testemunho daqueles que viram e acreditaram. E a exemplo dos discípulos, tornamo-nos, também nós, sinais vivos deste mesmo poder da ressurreição que Deus coloca em ação na Igreja.

Os cinquenta dias que prolongam, na liturgia da Igreja, a Páscoa e dela fazem uma festa ininterrupta são dados aos cristãos para renovar as suas vidas e fortalecer a sua fé na ressurreição de Jesus, de Quem são chamados a ser testemunhas.

3. Vamos viver, na diocese de Aveiro, este tempo pascal em Caminhada de itinerário pastoral com as famílias para que, com a força da vida, do amor e da fé nascida da Páscoa, as famílias da diocese se reconheçam no seu melhor e se valorizem no testemunho e na missão.

 Importa que cada família sinta o seu amor vivificado pela palavra de Deus, iluminado pela palavra da Igreja e alimentado pela palavra da vida. Sabemos bem quanto a família é para cada um de nós um dom como berço da vida, comunidade de amor, escola da fé e santuário da presença e da ação de Deus.

É nesta Igreja diocesana, fraternidade de famílias, que vemos confirmar a esperança, para que se concretize em cada comunidade cristã este modo de sermos família de famílias e se ajude cada família a ser evangelizadora no mundo.

Com este espírito pascal e nesta caminhada familiar tem renovado sentido fazer da Páscoa, prolongada celebração festiva em cada família ao longo de todo o tempo pascal, e viver, com acrescida alegria, os momentos maiores deste tempo como sejam a instituição de ministérios de Leitores e Acólitos a caminho do Presbiterado, a Semana das vocações, tantos outros sinais visíveis do amor de Deus por nós e de interpelação para o nosso modo de acolher os chamamentos por Deus semeados no campo fecundo das famílias de Aveiro, a merecer resposta pronta e acrescida generosidade.

No horizonte deste criativo modo de caminhar em família e com as famílias e quase já no culminar do tempo pascal viveremos todos com alegria e entusiasmo, como Igreja diocesana, a Festa das Famílias, no dia 20 de maio, no Colégio de Calvão, em Vagos.

Votos de feliz Páscoa, assim continuada em todo o tempo pascal e assim vivida em família e em Igreja, com fermento novo de um mundo melhor e com anúncio festivo e próximo de uma Igreja em Missão Jubilar!

Aveiro, 3 de abril de 2012

D. António Francisco dos Santos, bispo de Aveiro

Partilhar:
Scroll to Top
Agência ECCLESIA

GRÁTIS
BAIXAR