Páscoa da ressurreição: a coragem da esperança
1. Páscoa é «passagem»: da morte à vida, da Paixão à Ressurreição. O Calvário, que culmina com a Morte na Cruz, é caminho que conduz à vitória da vida. São estas duas faces da mesma moeda, que definem o «Mistério Pascal», na sua inteireza: a Paixão desemboca na Ressurreição; não há Ressurreição sem Paixão.
«Ad augusta per angusta» – diziam os antigos: só se chega a coisas sublimes por caminhos estreitos. O que equivale a dizer: tudo o que vale custa. Nada se consegue sem sacrifício. Foi assim com Cristo, o protótipo do homem perfeito. Será assim para todo o discípulo, que segue os «passos» do Mestre.
A Páscoa de Jesus é, pois, mensagem de esperança. Esperança certa no futuro, apesar das dificuldades e contrariedades da vida e da história. Mesmo no meio de todos os sacrifícios, que não são finalidade em si mesmos, mas caminho para uma vida renovada. Como nos garante Cristo Crucificado e Ressuscitado: o que aconteceu à «Cabeça» será também o destino do «Corpo». «O Seu caminho é também o nosso caminho».
Portanto, o rumo está traçado. O «Mistério Pascal» aponta a meta e indica o caminho para lá chegar. Sem «rumo» é que não se chega a lado nenhum. Bem diz o provérbio: «para um veleiro sem rumo, não há ventos favoráveis».
2. A Ressurreição constitui um novo tipo de presença de Jesus, no meio dos Seus: uma presença real, mas invisível – espiritual – que se realiza, precisamente, através do Espírito Santo, que Jesus prometeu enviar e envia, como protagonista da missão de implantar na terra o Reino de Deus: Reino de Justiça, Amor e Paz.
Reino «já» presente e atuante, no mundo em que vivemos, mas «ainda não» completamente realizado. Por isso é objeto de esperança, que compromete, aqui e agora, sob a ação do Espírito Santo, o grande dom do Ressuscitado, que os açorianos veneram, particularmente, no Tempo Pascal. Efetivamente, a Igreja nasce em Pentecostes. Torna-se sinal e instrumento, Sacramento do Reino, precisamente, pelo poder do Espírito Santo, que reúne os homens dispersos numa só família.
Nesse sentido, podemos dizer, com toda a propriedade, que é o Espírito Santo que mais une os açorianos, na riqueza da sua diversidade. É uma comunhão espiritual, que se exprime através da vida comunitária, para a qual muito tem contribuído a Igreja Católica. Na realidade, foi á volta da Igreja e com a Igreja que o povoamento se foi realizando e organizando comunitariamente.
Até podemos dizer que a Diocese foi a primeira experiência de Autonomia. A nível eclesiástico – é verdade – mas com grande impacto na sociedade. Além do resto, pensemos, por exemplo, na ação do Seminário Episcopal – a celebrar, este ano, 150 anos de fundação – que deu um contributo significativo à ideia dos Açores, como um todo.
Evidentemente, a recente experiência de Autonomia contribuiu para consolidar e aprofundar a unidade açoriana. Basta pensar nas facilidades de transportes entre as Ilhas e na melhoria da comunicação social, nomeadamente a Rádio e a TV.
3. Por isso, olhamos com alguma apreensão para a perspetiva de eliminação de programas regionais de Rádio e de Televisão, que têm garantido a informação sobre o que se passa nas paragens mais recônditas das Ilhas. Não podemos reduzir os Açores só às Ilhas com mais população. Que o Espírito Santo a todos ilumine!
Dê o necessário discernimento a quem tem de decidir! E empenho criativo a todos nós cidadãos, para colaborarmos ativamente na solução dos problemas, que são de todos nós. Com a certeza de que, após a tempestade vem a bonança e depois do inverno, a primavera. É o sentido da Páscoa cristã.
Feliz Páscoa, na esperança que nos vem de Cristo Crucificado e Ressuscitado!
D. António Sousa braga, bispo de Angra