Num olhar atento sobre a realidade do Continente, verificamos que, “se sobressaem as indiscutíveis conquistas no progresso das nossas sociedades e na consolidação da paz, pairam sombras que não podemos disfarçar: o materialismo de uma sociedade de consumo, a relativização ética dos critérios da vida e da convivência, a permanência de injustiças sociais e de situações que geram incerteza, as dificuldades do acolhimento aos imigrantes” – sublinhou D. José Policarpo, Patriarca de Lisboa, na sua mensagem de Natal de 2003. Este ano o Patriarca de Lisboa escolheu a dimensão europeia para a sua mensagem natalícia: “a Europa tem sido tema e notícia nos últimos meses e não me refiro apenas à festa do futebol europeu que se celebrará, entre nós, no próximo mês de Junho. No próximo ano dez novos países vão integrar a União Europeia, que se prepara para se dotar de um Tratado Constitucional, passo em frente, porventura irreversível, na solidificação da dimensão europeia para a maior parte dos países do Continente, entre os quais Portugal.” E adianta: é preciso que tomemos consciência desse facto: a nossa vida como comunidade nacional será cada vez mais influenciada pelas leis e pelos dinamismos da União Europeia”. Para realçar a importância do tema, D. José Policarpo avança com a actualidade da Exortação Apostólica sobre a Igreja na Europa, de João Paulo II, na sequência do 2º Sínodo dos Bispos sobre a Europa. Nela o Papa “manifesta a solicitude da Igreja pela Europa e pelos processos de construção do Continente, oferecendo a sua perspectiva e contributo específicos”. Em relação à discussão, “tão viva nos últimos meses”, sobre o preâmbulo da Constituição Europeia, “ao tentar definir a génese da especificidade da cultura europeia, deve referir explicitamente a importância do cristianismo nesse longo burilar da identidade cultural europeia”. Uma prova da importância desta discussão, é que ela “se transformou, por vezes, em polémica apaixonada. E quando se atinge esse nível de paixão, perde-se facilmente a objectividade, necessária para centrar as questões no seu rigor histórico e na análise estrutural da cultura” – salienta D. José Policarpo. Neste diálogo tem existido “algumas confusões”. Ao pedir essa referência explícita ao cristianismo “como elemento unificador da cultura europeia, não se trata de impor o cristianismo a ninguém, nem de, «confessionalizar» a União Europeia, em contrapartida à visão, hoje pacificamente aceite, da laicidade dos Estados”. Não se propõe que o texto constitucional “faça uma confissão de fé cristã”, nem que “desconheça a variedade de elementos que compõem a cultura europeia”. Trata-se, apenas, “de reconhecer objectivamente, a importância unificadora do cristianismo no processo cultural europeu, ao longo dos séculos” – afirma o Patriarca de Lisboa. As interpretações não devem ser entendidas “como uma manifestação de poder; que não nos respondam recordando-nos, apenas, os erros históricos da Igreja. Sejamos capazes de olhar para o futuro, reconhecer a identidade dos grandes valores que hoje definem a Europa, e lançar as bases para um aprofundamento do sentido inspirador de uma Europa que todos queremos mais justa, solidária e fraterna, voz decisiva na construção da paz mundial”. E finaliza: “é urgente consolidar a esperança, que dará sentido à vida e à história de povos que decidiram partilhar o seu destino e caminhar de mãos dadas”.