Mensagem de Natal do Patriarca de Lisboa

Pela televisão e pela rádio, D. José Policarpo dirigiu a sua Mensagem de Natal particularmente aos jovens MENSAGEM DE NATAL 2007 DE SUA EMINÊNCIA REVERENDÍSSIMA D. JOSÉ DA CRUZ POLICARPO CARDEAL-PATRIARCA DE LISBOA Senhores Telespectadores e Radiouvintes 1. É para mim motivo de sincera alegria poder dirigir-vos esta mensagem nesta noite santa de Natal. Agradeço à Radiotelevisão Portuguesa o ter-me proporcionado, mais uma vez, esta possibilidade. O Natal celebra, é bom não o esquecer, o nascimento de Jesus em Belém. O nascimento daquele Menino realizava, para o Povo de Israel, uma promessa antiga: a vinda do Messias, o autêntico Rei de Israel que conduziria o Povo para a harmonia da justiça e da paz, numa fidelidade perfeita e definitiva à Aliança que celebrara, no tempo de Moisés, com o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob. Para nós cristãos, Jesus de Nazaré é a encarnação do próprio Filho eterno de Deus. Assumiu na sua existência, sobretudo na morte e ressurreição, o destino de toda a humanidade. Unindo-se a Ele, cada homem pode entrar numa intimidade de conhecimento e de amor com o próprio Deus. Como no nascimento de qualquer criança, no nascimento de Jesus aparece em primeiro plano a realidade da família, os seus pais, Maria e José, unidos por um amor puro e generoso, participação do amor divino, completamente aberto ao desígnio de Deus. Como em nenhuma outra realidade, é nos filhos que ressalta a importância e a beleza da família. Sente-se isso positivamente, quando se toca a importância decisiva da família, comunidade de vida e de amor, no desenvolvimento harmónico dos filhos; e negativamente, quando verificamos as consequências que têm nas crianças e nos jovens as fragilidades da família: a desunião, a falta de expressões da comunhão familiar e a mais dramática de todas, o desfazer da família. Nesta Noite de Natal, saúdo, de modo particular, as famílias. Encontrai na alegria do vosso amor a força para vencer as dificuldades; aceitai com humildade as vossas fraquezas, muitas das quais não têm origem apenas na vossa fragilidade, mas na sociedade que não vos apoia como precisais, numa cultura que mina os valores que são os alicerces sólidos da resistência da comunidade familiar. Os pais de Jesus, Maria e José, serão a vossa inspiração e a vossa força. 2. Dirijo esta mensagem, de modo particular, aos jovens. Jesus também foi jovem, na sua Família de Nazaré. Diz-nos o Evangelista São Lucas que, depois de ter atingido a maioridade legal, que para os judeus coincidia com o princípio da adolescência, Ele regressou com os pais a Nazaré, crescia não apenas em estatura, mas em sabedoria e em graça, e era-lhes submisso (cf. Lc. 2,51-52). É tudo o que o Evangelho nos diz sobre a juventude de Jesus: desenvolvia-se, como era próprio da Sua idade, crescia em sabedoria, isto é, no exercício da Sua liberdade, aprofundando o conhecimento e o discernimento sobre a realidade, e aceitava a maturidade dos seus pais que O ajudavam nesse crescimento interior. Maria guardava muita coisa em silêncio no seu coração: os silêncios de um coração de Mãe, que, por vezes, podem ser sofridos, que guardam o respeito por uma outra liberdade e por uma outra personalidade, que precisa de ser esclarecida nas suas intuições, apoiada nos seus ideais, corrigida nas suas ousadias, respeitada na sua diferença. Esta fase do crescimento para a maturidade é hoje mais difícil para os nossos jovens: o horizonte surpreendente das tecnologias da comunicação, em que os jovens mergulham mais radicalmente que os adultos e que constitui uma espécie de cultura juvenil à escala planetária; o ambiente permissivo comum a toda a sociedade; a massificação da escola, também ela a exercer a sua missão num contexto diferente, variado e dispersivo. Todo este quadro significa para a família dificuldade acrescida, na missão primordial de ajudar os jovens a crescer em maturidade e sabedoria. Na escola não se pode identificar instrução e educação. Instrumento indispensável para a instrução com qualidade, a dimensão educativa da escola não pode conceber-se como autónoma. Precisa de agir em convergência com a família, com outras realidades da sociedade civil com influência sobre os jovens, incluindo as Igrejas e as associações religiosas. Esta convergência não pode ser uma tolerância, mas um valor afirmado e procurado em si mesmo. 3. A Igreja tem grande solicitude pelos jovens que se exprime, antes de mais, no amor à família, ajudando-a a ser o contexto onde o jovem pode percorrer, sem graves riscos, os caminhos da universalidade. A dissolução da família é a maior ameaça que pode pesar sobre os jovens, deixando-os à deriva num mar de solicitações, à descoberta de um mundo que tem tanto de apaixonante como de louco. Há tempos, numa das minhas visitas às Paróquias, uma jovem aproximou-se de mim e disse-me: quero que saiba que eu gosto muito de si. A alegria simples a brilhar na pureza do seu olhar, fez-me tomar consciência de um grande amor que tenho pelos jovens. Nas Jornadas Mundiais da Juventude em que participei, no tempo do saudoso Papa João Paulo II, senti que entre o Papa e aquela multidão de jovens, havia sintonia e uníssono que só o amor gera, havia cumplicidade na aventura da vida e compromisso numa missão. Queridos jovens! Falo-vos quando, em todo o mundo, muitos milhares de jovens estão já a preparar a próxima Jornada Mundial da Juventude, convocada pelo Papa Bento XVI para Sidney, na Austrália. O Santo Padre dirigiu a todos uma mensagem preparatória, para que todos, mesmo os que não poderão ir a Sidney, vivam ao mesmo ritmo o grande acontecimento. A mensagem do Papa poderia resumir-se assim: Queridos jovens, não tenhais medo da vida, de dizer sim à vida em todas as suas expressões e solicitações, desde que aprendais a beber a vida na sua verdadeira fonte, que é Deus e o Seu Filho Jesus Cristo, que nos comunica o seu Espírito de amor. Esta é a mensagem para os jovens cristãos, que são convidados, pelo Papa, a levarem a Boa-Nova de Jesus aos outros jovens da sua idade. Há sintomas que indicam que muitos jovens têm hoje dificuldade em participar na vida da Igreja. E se uma das causas desse desinteresse for a incapacidade da Igreja para os atrair para Jesus Cristo, isso exigirá, da nossa parte, um repensar contínuo da Igreja. Mas há um elemento de outra ordem que pode ser decisivo: só Jesus Cristo é capaz de atrair os jovens, num encontro vivo e apaixonante com Ele. Só Jesus Cristo nos faz permanecer na Igreja, lutar apaixonadamente para que ela seja, cada vez mais, o Povo do Senhor, que vive d’Ele e é capaz de O anunciar e proporcionar encontros das pessoas com Ele. A sua única mensagem é essa, propor Jesus Cristo. O Santo Padre, no respeito pela liberdade de cada jovem, lembra que “propor Cristo não significa impô-l’O”. só seguem Jesus Cristo aqueles que se sentem atraídos por Ele. Mas afirma, com grande clareza, que só Cristo é a fonte da Vida: “Repito-vos, uma vez mais, que só Cristo pode preencher as aspirações mais íntimas do coração do homem; só Ele é capaz de humanizar a humanidade e de a conduzir à «divinização», isto é, à vivência plena da sua beleza. 4. Mas a mensagem principal das próximas Jornadas é o mistério do Espírito Santo, amor do Pai e do Filho, que encheu a vida de Jesus, desde a Sua concepção até à Sua morte e ressurreição, e que nos é comunicado por Ele, porque nos quer dar tudo o que Ele tem. O Espírito Santo é a força do amor, vinda do coração de Deus. Com que veemência Ele transforma o coração dos jovens que O acolhem: descobrem a beleza do amor, puro, generoso, corajoso; abraçam a vida como uma festa; tornam-se fortes nas lutas pela vida e lúcidos nas escolhas que fazem; nenhuma alegria os satisfaz senão aquela que brota de um coração transformado; nenhuma experiência presente é definitiva, porque se deixaram atrair pela voragem da eternidade. Não têm medo do amor, que aprenderam a amar; não têm medo da vida, porque para eles viver é dar-se. Esses jovens contagiam-nos. Deixemo-nos todos contagiar; aprendamos a amar todos os jovens, mesmo nas suas aventuras e ousadias e aí perceberemos como os poderemos ajudar, partilhando com eles o mistério da vida, a aventura da vida. Um adulto cansado da vida, incapaz de sonhar um futuro novo, dificilmente ajudará os jovens a crescer em estatura, em sabedoria e em graça. Desejo a todos, a todas as famílias, mas de modo particular a vós, queridos jovens, um bom Natal, a certeza do amor com que a Igreja vos acompanha. No Presépio de Belém, contemplemos Maria, a Mãe. Ela continua, no seu silêncio, a guardar no seu coração, todos os segredos da vossa vida, como guarda os do seu Filho Jesus. É por isso que basta olhá-la, para percebermos o que tem para nos dizer. † JOSÉ, Cardeal-Patriarca

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